quinta-feira, 4 de outubro de 2007

A DIFÍCIL ORIGINALIDADE

Quase tudo o que penso, falo ou escrevo não passa de mera repetição do que já pensou, disse ou escreveu alguém ao longo da história do pensamento, da fala ou da escrita. Minha autoria, no máximo, consegue um novo arranjo dentro pelas característias peculiares da língua em que me expresso. Devo ter cautela para não me iludir com a aparente originalidade dos textos que produzo. Dificilmente, eles resistirão a uma análise sem que se revele alguma intertextualidade (por mais distante que seja a alusão). De pessoal, acaba se evidenciando o meu estilo.
Há muitos anos, fazendo uma crítica à astrologia, pensei ter feito uma grande descoberta com o neologismo "astromancia", mais adequado para descrever a pseudociência. O termo, para minha frustração, preexistia.
Ao escrever que a nossa civilização nasceu no reino de Judá (e não na Grécia, como ensinam os livros), achei que tivesse sido original. Auto-engano! Apoiara-me em Nietzsche, que, no final do século XIX, filosofava sobre o arcabouço judaico-cristão do mundo ocidental.
Amanhã, na minha coluna do Expresso Ilustrado, publicarei a seguinte construção: maledicência do tipo velhinho-burro-menino. Essa é original.

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