sábado, 29 de julho de 2017

CRÔNICA DE BUENOS AIRES



Buenos Aires tem muitos cafés e livrarias (de novos e usados). Numa mesma quadra, posso encontrar mais de um local para vender bebida ou livros.  Esse comércio não resulta apenas de uma injunção do mercado, mas da cultura que o precede. Tal se evidencia em dois dos mais famosos pontos da cidade: Café Tortoni e O Ateneu. O café da Avenida de Mayo consiste numa espécie de galeria de artes, com destaque para a literatura. A segunda mais bela livraria do mundo, localizada na Avenida Santa Fé, conta com um café em seu interior. Penso que há uma relação efetiva entre a bebida e a leitura. Os hábitos gastronômicos e intelectuais remontam à aristocracia dos séculos anteriores. Seus memes identificam o espírito portenho, que parece resistir às mudanças impostas pela pós-modernidade. As pessoas não frequentam o café apenas para ingerir uma xícara do líquido escuro e quente. Elas nunca o fazem em pé ou andando na rua. Dentro de um café, sentam-se e pedem a bebida. Algo muito precioso está incluído nesse ritual cotidiano: espaço e tempo. Ali descansam, conversam, leem ou ficam simplesmente, enquanto atendem ao prazer de sentir o cheiro e o sabor inconfundíveis. Em contrapartida, pude observar que as livrarias não gozam da presença numerosa dos cafés. Essa observação preestabelece que os portenhos estão lendo menos. Mesmo os portenhos, que amam a sua linda e romântica Buenos Aires. 

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