sexta-feira, 30 de abril de 2010

O "VEIO" NÃO VEIO


Não tenho razão? O "veio" não veio. De novo. A vinda de Pedro Simon ficou na promessa. Gente do interior do município veio para vê-lo. Por que disseram que ele vinha? Uma dupla decepção.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

O TRABALHO DIGNIFICA?

Não li A ética protestante e o espírito do capitalismo, de Max Weber, para entender por que o trabalho dignifica o homem. O sociólogo, ao contrário do que pensava Marx acerca da religião, talvez visse no trabalho realmente uma imposição divina. Teorias à parte, a frase weberiana virou um jargão que extrapolou o sentido original para se constituir numa mentira dessacralizada. No século XIX, quem trabalhava era o senhor de engenho ou seus escravos? Os dois. Estes na execução das tarefas duríssimas do dia-a-dia, e aquele, na administração da fazenda. Este enriquecia, e aqueles morriam trabalhando sem a mínima dignidade. No século XX, o trabalho passou a significar toda e qualquer atividade, inclusive a de se prostituir (com projeto de ganhar status de profissão regulamentada). Baseado em Weber, quanto mais clientes tiver, mais digna é a prostituta? Qual a nobreza que cabe a quem trabalha por um salário pequeno ao longo de sua vida? Se o indivíduo não acredita em Deus, o que poderá salvá-lo do estresse, da depressão, do suicídio? Forjada em tempos trevosos, a doutrina da predestinação não mais responde pela dignificação do trabalho, tampouco o modelo explorador da atualidade, com o chicote substituído pela pecúnia. Basta saber o que acontece dentro das grandes lojas comerciais, das fábricas, das lavouras (no campo). Em Santiago, para não ir longe, há empresas (grandes varejos) que cerram as portas, baixam as cortinas e continuam a exigir de seus funcionários, sem pagar-lhes horas extras. Os donos, capitalistas abastados, encontram-se distantes. Em seus lugares, não necessariamente como imediatos no organograma administrativo, são colocados gerentes cascas-grossas (equivalentes ao capitão-do-mato). O trabalho dignifica, sim, uma minoria de homens livres.

(Texto produzido para a coluna do Expresso Ilustrado desta sexta-feira, véspera do Dia do Trabalho.)

quarta-feira, 28 de abril de 2010

O VEIO VIRÁ?

Outra vez Pedro Simon virá a Santiago. Isso é o que dizem os blogs quase em uníssono. Pedro Simon veio da outra vez ou não veio? Não sei o certo, mas me parece que não veio. Desta vez, virá ou não virá o veio? (Esta última palavra deve ser lida com o "e" aberto. Amigos, posso não entender de política, mas de português...) Admiro Pedro Simon, mas não virá outra vez. Ele é um dos poucos que presta no PMDB.

CONHECIMENTO VERSUS...

Desde minha dolescência, errei ao querer o conhecimento das coisas, das pessoas, do mundo... Enquanto os outros viviam um mundo de coisas, relacionavam-se com pessoas e pessoas, eu lia, eu estudava, eu tinha ideias. Infelizmente, não me ocorreu que quanto mais sabia mais me afastava das pessoas que faziam parte do meu mundo, ainda que as coisas não fossem bem assim. Aprendi o que não devia, isto é, que o conhecimento é uma condição para o exílio voluntário. Depois dos cinquenta, tenho certeza disso.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

FERIDA ABERTA

Direita ou esquerda, liberal ou socialista (economicamente falando), são antíteses que voltam à baila nestes dias fáceis de nossa política. Juremir Machado da Silva, na coluna do Correio do Povo de hoje, chega ao extremo de classificar como o maior erro de Lula não ter aberto os arquivos do que ele chama de "ditadura".
Recebo um e-mail de um amigo militar, alarmado com um certo capitão do Exército que já pode ser chamado de "novo Lamarca". O homem tem até um blog: http//capitaofernando.blogspot.com
O capitão Luís Fernando serve no Arsenal de Guerra de General Câmara, Rio Grande do Sul, e se declara a favor da candidatura de Dilma Rousseff.
Penso que a ferida política, que sangrou bastante nos primeiros anos da década de sessenta, torna a ser reaberta por discursos já ultrapassados.

REVISTAS

Há pouco, cheguei em casa com duas revistas: Filosofia e Literatura. As editoras estão apostando no conhecimento, algo que não acontecia em décadas passadas. A Internet ainda não é páreo para colocar o impresso abaixo (contrariando análises apressadas daqueles que insistem em decretar o fim da era do papel).
A primeira revista traz as seguintes matérias:
- O resgate da sensibilidade - Pascal e suas medidas para evitar um dos maiores males do século XXI: a DEPRESSÃO;
- Homens-máquina - Flávio Paranhos e os filmes de ficção que podem virar realidade em um futuro não tão distante;
- Foucault e a loucura - O que é e como deveria ser tratada, segundo o pensador;
- Para aproximar o pensamento - Grande nome da Filosofia em Portugal, Sofia Miguens defende o fortalecimento da Língua Portuguesa;
- Marx vive! - As críticas marxistas renascem e ganham mais espaço na modernidade.
A segunda, Literatura, abarca os assuntos a seguir:
- J.D.Salinger - Excentricidade à parte, o legado do homem que escrevia para si mesmo;
- Além da imagem - O papel da estética na feitura do texto literário (meu chão);
- Formação de leitores - Os mecanismos de interesse pela leitura;
- Entrevista - Escritor gaúcho Menalton Braff: "Cada época tem a literatura que merece";
- Robert Barr - Conto inédito do jornalista anglo-canadense;
- Quadrinhos e literatura - Lourenço Mutarelli, versatilidade alternativa;
- Clarice Lispector - Os cinquenta anos da publicação de Laços de Família.

sábado, 24 de abril de 2010

ESPELHO DE ONTEM

Hoje o Zero Hora, em seu caderno Vida, traz uma ampla reportagem sobre a dismorfia, ou aversão de se olhar no espelho. Parece brincadeira, coisa do excesso de sensibilidade que vislumbrava Nietzsche para os tempos atuais. Ainda que não seja uma doença, 2% da população mundial se assusta (sofre) diante do próprio reflexo no espelho.
Ao folhear um livro, encontro uma foto que tinha como perdida. Sem muita relação com o assunto do parágrafo acima, imagino que a fotografia é como um espelho daquele momento em que me postei ante a câmera, um espelho para ver como eu era ontem. Outro aspecto interessante sobre uma foto consiste no registro de um instante único, que não se repete mais.
Gosto de rever fotos, me emociono com elas. Emoção que aumenta na razão direta do tempo que me separa do fotografado, geralmente de meus antepassados. Não é o caso da foto acima, uma vez que foi tirada há cinco lustros, espelho congelado dos meus 25 anos, ou melhor, de um instante que teve a duração de um click.
Não sofro de dismorfia, sou obrigado a ficar todas as manhãs diante do espelho real, fazendo a barba, procurando alguma espinha ou, como escrevi num poema (incluído no livro da postagem abaixo): lobo-homem// minhas unhas/ crescem/ à noite// quando arranho/ os lençóis/ do sono// a cada manhã/ há um lobo/ no espelho// quando procuro/ os olhos/ do homem.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

LANÇAMENTO EM SANTA MARIA


Os organizadores da Feira do Livro de Santa Maria me confirmaram ontem o dia e a hora do lançamento do meu livro Vozes e vertentes:
7 de maio (sexta-feira),
às 17:30 horas.
Mandei e-mail para algumas pessoas que moram em SM, pedindo que elas divulgassem esse evento simples e extraordinário ao mesmo tempo. Em 2006, quando lancei Ponteiros de palavra, a praça Saldanha Marinho fervilhava de gente. Meu azar foi concorrer com Valdeci Oliveira, então prefeito da cidade. Uma enorme fila se formou em frente à sua mesa; em frente a minha, apenas oito amigos e conhecidos.
Voltei para Santiago feliz.
Depois de quatro anos, vou com a mesma alegria para a feira, porque é rara a vez de ser autor.
O lançamento em Santiago ocorrerá ainda no mês de maio.

terça-feira, 20 de abril de 2010

LÁ E CÁ

Numa postagem do João Lemes, em que apontava a arma de fogo como um mal, escrevi o seguinte comentário:
O mal está no coração do homem, meu caro amigo. Não fosse com arma de fogo,seria com uma faca, machado, espeto, pedra, veneno, esganadura (em caso de não haver qualquer objeto para fazer as vezes de arma). Obviamente, a arma de fogo facilita o ato criminoso, que segue um impulso mais rápido que o tiro...
Lendo as últimas sobre São Francisco de Assis, onde homens públicos estão sendo processados por improbidade administrativa, concluo que, guardadas as proporções, Brasília é aqui (São Chico) e é acolá. Brasília, mais do que ser um referencial de desonestidade, transforma-se em metáfora para a pior coisa que os administradores fazem com o dinheiro público, que é de direcioná-lo para os próprios bolsos.
Na mesma linha empregada em relação à arma de fogo, criticar Brasília já constitui um discurso inútil em tempo de pós-mensalão. Inútil, para não dizer vergonhoso (conforme previra Rui Barbosa). Por isso, não faz diferença adiantar que o próximo presidente será eleito dentre os políticos que idealizaram o maior processo de corrupção já existente no país - o mensalão.
Brasília existe, porque a corrupção existe em nosso meio, terra-a-terra. O homem é corruptível e corruptor em qualquer lugar. Para os lados do Estado do Amazonas, segundo me relatou um amigo, Brasília é fichinha.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

FAMÍLIA MACHADO

É um erro dizer que há vários “troncos” da família Machado em Santiago. Na realidade, existem “ramos genealógicos" diferentes, cujo verdadeiro e único tronco exige um recuo maior no tempo para ser conhecido. Por exemplo, Zeferino José Machado, um dos três irmãos que se aquerenciaram neste município no retorno da Guerra do Paraguai, constituía-se num descendente de muitas gerações desde os primeiros Machado que se forjaram sanguinamente em terras de além-mar. Dessa forma, que ninguém se vanglorie de pertencer a esta ou àquela descendência, como se uma fosse melhor que outra. Residindo nas mais diversas partes do Rio Grande do Sul e do Brasil, os Machado pertencem ao mesmo “tronco” português. Ainda que o processo dicotômico (de subdivisão) tenha privilegiado uns aqui, outros acolá, somos Machado de uma mesma família primordial. Ricos ou pobres, intelectuais ou analfabetos, bonitos ou feios... Machado. Mesmo que não o tenhamos no nome (caso dos moradores do Rincão dos Machado), tê-lo-emos no DNA, geneticamente. A sorte ou o azar, fatores históricos ou geográficos nos levaram a percorrer caminhos afastados. Todavia, o desejo e a razão, como quintessências de nossos corações e mentes, têm o poder de reaproximar tais caminhos. Para comemorarmos o azo e a vez do reencontro entre os Machado, há 17 anos vem sendo organizada uma festa que tenha churrasco gordo, doce em calda e música gaúcha. Nosso décimo sétimo encontro está próximo: dia 22 de maio (no CTG Grupo Nativista Os Tropeiros).

Os cartões logo estarão disponíveis no Mercado Central, Mercado Machado, Mariana Malhas, Selton Hotel, Padaria e Confeitaria Glacial...

domingo, 18 de abril de 2010

XVII ENCONTRO DA FAMÍLIA MACHADO


O XVII Encontro da Família Machado já está marcado para o dia 22 de maio, no CTG Grupo Nativista Os Tropeiros. Como coordenador, ando à procura dos músicos para animar o jantar-baile. Três coisas não poderão faltar em nossa festa: churrasco gordo, doce em calda e dança à antiga. Logo informarei os pontos de venda em que os cartões serão disponibilizados.

sábado, 17 de abril de 2010

DESOBEDIÊNCIA GENERALIZADA

CÓDIGO DE TRÂNSITO BRASILEIRO
Art. 61. A velocidade máxima permitida para a via será indicada por meio de sinalização, obedecidas suas características técnicas e as condições de trânsito.

§ 1º. Onde não existir sinalização regulamentadora, a velocidade máxima será de:

I - nas vias urbanas:

a) oitenta quilômetros por hora, nas vias de trânsito rápido:

b) sessenta quilômetros por hora, nas vias arteriais;

c) quarenta quilômetros por hora, nas vias coletoras;

d) trinta quilômetros por hora, nas vias locais;

II - nas vias rurais:

a) nas rodovias:

1) cento e dez quilômetros por hora para automóveis e camionetas;

2) noventa quilômetros por hora, para ônibus e microônibus;

3) oitenta quilômetros por hora, para os demais veículos;

b) nas estradas, sessenta quilômetros por hora.
.
Hoje fui a Santa Maria como motorista (minha irmã fizera uma cirurgia e necessitava tirar os pontos). O que observei na BR 287, em relação à velocidade com que os usuários dessa rodovia impõem a seus automóveis, pode ser expresso como desobediência generalizada. Não me importei em ser uma exceção, o que me dá respaldo ético para escrever agora. Respeitei a velocidade máxima permitida, vendo os outros veículos me ultrapassarem como se "voassem" sobre a pista. Salvo melhor juízo, a alta velocidade é a maior causa dos acidentes de trânsito que têm tirado a vida de milhões de pessoas. Depois da "tragédia", dizem alguns, que era chegada a hora de quem morre. Isso é ridículo, como a insinuar que no lugar do motorista, sempre um indivíduo com vontade própria, estivesse uma entidade sobrenatural, teimosamente chamada de destino. Os mesmos supersticiosos que culpam o destino, numa outra linha de autodefesa, apontam os automóveis como culpados, por desenvolverem velocidade muito superior aos limites impostos pela lei.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

15 DE ABRIL


O dia 15 de abril é inesquecível para mim. Minha mãe fazia aniversário. Lembro-me de que tinha vergonha de abraçá-la ao longo da minha infância e adolescência. Mais maduro, passei a felicitá-la nesse dia, levando-lhe um presente. Hoje percebo o quanto perdemos em afetividade em decorrência da "idade média" vivida em pleno século XX. No Rincão dos Machado era assim. Nunca nos abraçávamos, nunca dizíamos "eu te amo". A vida passou e... aqui estou escrevendo sobre meu passado. Não posso negar que sinto saudade daquele tempo, porque nele se encontra minha mãe, ao centro. Infelizmente, há exatos quatro anos, ela faleceu num 15 de abril. Muito triste para ser lembrado.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

RENOVADOR DO DISCURSO

A partir da sacada nietzschiana de que o mundo só se justifica como fenômeno estético, subentende-se que, antes de sê-lo, tudo é mais ou menos sem sentido (para não dizer incompreensivelmente feio). Tendo o homem ocupado uma posição central neste mundo, dele depende uma percepção tão singular quanto à tida pelo filósofo alemão. Mas ele, porque não conhece suficientemente a si mesmo, vê o mundo que o cerca como um fenômeno antiestético. Em consequência disso, produz coisas com as características que refletem essa visão. A começar pelo seu discurso (no sentido de todo pensamento expresso pela fala ou escrita). Afora a tautologia, essa pleonástica repetição; afora o burburinho, essa confusão de vozes; afora a vulgaridade... há que se destacar a feiúra das diversas formas discursivas. A exceção é a poesia. Mais do que ser a antena da raça, que capta no ar o que virá (na apreciação do grande Ezra Pound), o poeta é um filtro renovador do discurso sem o qual não vive o homem, a humanidade. Tal renovação se dá, principalmente, por meio do ritmo e da imagem. Como seria o discurso em grego sem os aedos e os rapsodos? Sem Ésquilos, Sófocles e Eurípedes? Como seria em inglês, sem Shakespeare? E em nosso português, sem Camões e Pessoa? Esses e outros poetas transformaram linguisticamente suas pátrias, suas épocas. Hoje os discursos são insuportáveis, uma vez que os poetas, especialmente os que veem e vivem o mundo segundo os cânones da beleza, são ignorados ou desconhecidos pelos seus contemporâneos.

SEM RESPOSTA

O contador de visitas do meu blog deve estar com uma pane (um "vírus", como é tratado no meio eletrônico): ele registra, por exemplo, duzentas visitas diárias, mas nenhuma delas deixa marca efetiva de sua passagem, a não ser a mudança do último dígito no dito contador. Na postagem abaixo, lancei um pequeno desafio, no entanto, nenhum comentário, nenhuma resposta. Perguntei se o antropocentrismo se sustenta no mito bíblico que coloca o homem no centro da criação ou se é esse mito que ganha com a tendência natural de o homem se colocar no centro do universo. Talvez não haja resposta para tal questionamento, mesmo assim, qualquer tentativa de elaborá-la já desmi(s)tifica, esvazia um pouco o "balãozinho" humano, o que é muito bom.

domingo, 11 de abril de 2010

UM DESAFIO

Transcrevo o final do artigo de Flávio Tavares, publicado no Zero Hora deste domingo:
"O que fizeram os governantes do Rio de Janeiro com os bilionários 'royalties' do petróleo extraído do fundo do mar? Gastaram mais na propaganda (e outras coisitas mais...) para obter a sede das Olimpíadas do que em prevenir catástrofes. Nem perceberam a advertência de que as chuvas crescerão sobre a cidade do Rio devido às mudanças provocadas pelo ser humano no clima do planeta.
"Nosso inimigo não é a chuva, mesmo intensas. Inimigos são nossos hábitos de desprezo à natureza.
"Meses atrás, nas enchentes e deslizamentos no Rio Grande do Sul, as águas destruíram a ponte de Agudo. De pouco nos valeu a tragédia. Tudo se resumiu a assistir os 'flagelados pela enchente' ou melhorar caminhos alternativos enquanto a ponte não é refeita. Não se esboçaram políticas conjuntas entre a administração pública e as comunidades para que os cidadãos sejam também responsáveis pela preservação ambiental.
"Sim, pois essas tragédias têm um único nascedouro: o desdém pelo meio ambiente. Aqui ou nos rios do Rio, sede olímpica de 2016".
.
O jornalista escreve que o culpado é o homem, pelo que fica explícito nas passagens em negrito. Em minha postagem de quinta-feira, 8, Preconceito antropocêntrico, expus uma avaliação semelhante, com mais profundidade, uma vez que digo em poucas linhas por que o homem despreza/ desrespeita a natureza.
Um desafio para meus visitantes: o antropocentrismo se sustenta no mito religioso (hebraico), ou o mito se sustenta no antropocentrismo?

sábado, 10 de abril de 2010

AURELIANO VIVE

No caderno Cultura do ZH deste sábado, Luís Augusto Fischer escreve sobre Aureliano de Figueiredo Pinto:
Aureliano vive - Esses dias, por descuido, acabei cometendo uma injustiça. Ao lembrar das funções que o Instituto Estadual do Livro (IEL) precisa encarar, disse que ele deveria se encarregar, por exemplo, de publicar antologias de poetas marcantes cuja obra não esteja em circulação; e mencionei o caso de Aureliano de Figueiredo Pinto entre eles. Ocorre que esse belo poeta - na minha opinião o mais interessante dos poetas dedicados ao tema gauchesco de todos os tempos, no Estado - segue circulando pela Editora Movimento. São pelo menos três títulos: Romances de Estância e Querência, de poesia voltada ao mundo pampiano, Itinerário, de poemas líricos, e o clássico romance Memórias do Coronel Falcão. Quem me alertou para a falha de informação foi o zeloso editor do poeta, Carlos Jorge Appel. Com toda a razão.
Agora só falta Aureliano ter mais leitores, o que custa um pouco, porque ele é o antiefusivo, o antigarganta, o oposto do estilo ufanista que domina o ambiente gauchesco. Certo, alguém poderá lembrar que Aparício Silva Rillo e Jayme Caetano Braun, para nem falar de João da Cunha Vargas (cuja poesia Vitor Ramil tem musicado, em milongas inacreditavelmente lindas), também são em geral antibravateiros; são poetas que celebram o passado, repassando item por item as coisas da vida campeira fenecida, de tal modo que ao ler qualquer um deles durante algum tempo se tem a sensação de haver lido um relatório poético, um catálogo de museu, sentido e muitas vezes sublime. Mas o que domina é o passado figurado nos objetos: uma chilena separada do par, um rancho abandonado, um velho laço, uma cambona. Seres inanimados, que recebem passivamente a saudade de quem os evoca.
Aureliano não: com ele, o que mais aparece são pessoas, indivíduos, com sua cota de penar e de folga, no cotidiano do trabalho duro ou na exceção do amor buscado. São pessoas como o prezado leitor e eu, mergulhadas em seu mundo, que calha de ser o da estância. Além disso, mais um mérito se soma, do ponto de vista do registro a quente da vida que é a poesia: Aureliano dá protagonismo a gente simples e muitas vezes a gente claramente marginal - um que se enforca de desespero, um que enlouquece, um que não soube controlar o cavalo que lhe deram para o trabalho.
Eu conheci o poeta Aureliano por causa de um disco, idealizado e gravado por Noel Guarany, em que canta e diz poemas cuja força é indesmentível. Vantagem, claro, porque agora mesmo releio o poeta e tenho na cabeça a dicção do cantor. Ainda existirá essa gravação?
(Publicado no Zero Hora de 10 de abril de 2010)

sexta-feira, 9 de abril de 2010

LANÇAMENTO

Ainda no mês de abril, deverei lançar meu livro em Santiago. O local para o evento será o Centro Cultural. Estou pensando numa realização diferente, com menos protocolo e mais vinho. Sério! Penso em convidar as pessoas do meu círculo de amizade e, seguindo uma dica de Baudelaire, degustar muito vinho e poesia.
Já fiz minha inscrição para o lançamento na Feira do Livro de Santa Maria. Às 17:30 horas, dia 8 de maio, sábado, penúltimo dia desse grande evento cultural.

VOZES E VERTENTES

Neste final de tarde, com o felicitômetro batendo seu ponteiro no máximo, recebi meu Vozes e Vertentes. Aguardava-o desde um telefonema à editora, quando fiquei surpreso com a informação de que os volumes estavam a caminho.
A capa foi elaborada pelo Beto Menegat (também diagramador). A ilustração, como havia adiantado, é um quadro da Didi. Na contracapa, outra tela dessa artista santiaguense. No canto inferior direito, o logotipo da Câmara dos Escritores de Frederico Westphalen, presidida até há poucos dias pelo poeta Cácio Machado. Homenagem que faço post-mortem ao meu amigo. (No fatídico 20 de fevereiro, quando Cácio sofreu o acidente, meu livro já tinha sido diagramado.)
A apresentação de Vozes e Vertentes foi feita por Erilaine Perez, que escreve maravilhosamente bem, como poucos em Santiago. Começa com o título: Entre fogo e palavras. O primeiro parágrafo:
É implícito à composição poética uma unidade estrutural que a distingue do prosaico: forma e conteúdo. Forma que abraça e invade o discurso, fazendo das palavras como as conhecemos instrumentos de voo para a percepção do poeta.
Dividi o livro em sete capítulos: espigas de luz; todo fogo a pedra; o tempo é quando; pedra e ira; tecido inconsútil; tropeiro de horizontes; e rosa rúbida.
Epígrafe do livro:
Entra nesta casa
tão vasta e de todos,
pequena aos enganos,
perdida, encontrada.
Os dias, os anos
são palmos de nada.
........................................Carlos Nejar
Cada capítulo traz como epígrafe pequenos excertos dos poemas nejarianos. Em tecido inconsútil, por exemplo, transcrevo os seguintes versos: o vento lavou a noite / mas ficaram as estrelas.
São 136 páginas. Fecha-se na contracapa, logo abaixo do belo quadro da Didi, com o excerto que dá título ao livro:
ponteiros de palavra
cavaram
cavaram poço
para encontrar
este veio
de vozes
e vertentes
.
(Ponteiros de palavra é o nome do primeiro livro que publiquei, 2006.)

quinta-feira, 8 de abril de 2010

PRECONCEITO ANTROPOCÊNTRICO


Uma das formas do preconceito antropocêntrico se manifesta na distância em que o homem se coloca da natureza, quando ele próprio é um ser natural. Orgulhoso de todo artifício de que se cerca, chega a imprecar contra furacões, terremotos, tsunamis, enchentes, deslizamentos e outros fenômenos que existem há alguns bilhões de anos. Ainda que não mais os considere como ação de uma entidade sobrenatural, satãnica, continua achando que são inconvenientes para a felicidade humana. Um repórter perguntou a Roberto Requião, então prefeito de Curitiba, o que faria pelas pessoas que tiveram suas casas invadidas pelo Iguaçu. Antes de responder, o político corrigiu a frase de seu interlocutor, dizendo que foram as pessoas que invadiram o leito do rio. As chamadas tragédias que vêm ocorrendo nos últimos anos, com milhares e milhares de mortes, demonstram não apenas o distanciamento autoimposto pelo homem ante a natureza, mas um flagrante desrespeito dele com tudo o que o cerca naturalmente.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

RAPIDINHAS

O título acima é decorrente de uma exigência do redator-chefe do Expresso Ilustrado, que acha minha coluna muito extensa (ainda que em tamanho 14, com o mesmo espaço destinado aos meus colegas de página). Ele não esconde a admiração pelo texto sintético, objetivo, que caracteriza o jornal.
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Lendo uma postagem do Márcio Brasil, preciso fazer a seguinte observação: Vinícius de Moraes, Carlos Drummond de Andrade, Cruz e Souza, entre outros grandes poetas também foram iniciantes um dia, poetas com "p" minúsculo. A evolução que cada um deles teve poeticamente, ao longo de uma vida e numa sucessão de obras publicadas, conferiu-lhes a grandeza, o traço da genialidade.
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No passado, quando eu pensava que sabia gramática, gostava de criticar os erros dos outros. Felizmente, o conhecimento me propiciou uma transformação de caráter ou de personalidade (uma vez que não poderia ser de temperamento). Hoje não digo que sei, embora sabendo muito mais. Ao invés de tripudiar sobre os erros alheios, procuro corrigi-los com a humildade que penso ter aprendido com os sábios.
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Sem qualquer outra intenção que não seja a de auxiliar, recomendo aos meus colegas blogueiros que tomem mais cuidado com a escrita. O meio eletrônico não nos isenta do padrão culto da língua. Alguns escreventes cometem tantos erros que chegam a comprometer o conteúdo de suas postagens.
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domingo, 4 de abril de 2010

NÃO TENHO RAZÃO?!

Há duas semanas, postei Vítima da droga neste espaço e publiquei em minha coluna no Expresso Ilustrado com outro título (O fator de desequilíbrio). Escrevi que O sentimento de insegurança, que, desde muito, caracteriza as cidades grandes, passa a constituir um problema que afeta a sociedade santiaguense. A perspectiva pessimista (para não dizer realista) é de que a criminalidade evolua do uso da pedra para a arma de fogo. Ao invés de vidraças serem atingidas, gente cidadã.
O que me dizem, caros visitantes deste blog? O assalto à casa lotérica do meu amigo Zeca é já a realização daquilo que vislumbrei sob uma perspectiva pessimista. Estou espantado com a rapidez com que ocorreu a evolução da pedra para a arma de fogo.

BENDITA TECNOLOGIA

Faço esta postagem na casa do meu pai, no Rincão dos Machado, onde o rádio chegou em 1969. Antes disso, vivíamos aqui como na Idade Média. Graças à Vivo e ao meu irmão, que trouxe um notebook, consegui utilizar esta que é a mais importante tecnologia de acesso ao hipertexto.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

OS TRÊS DEGRAUS DA CRUELDADE

Nenhum livro contém maior número de verdades, de coisas até então inauditas, que Para além de bem e mal, de F. Nietzsche. Nenhum outro me levou a ler uma, duas, três vezes (respectivamente, em 1989, 1990 e 1992). Mais as vezes incontáveis em que o abri à revelia, inspirando-me nele para escrever sobre assuntos "delicados", que ainda causam melindres, ou para transcrever algumas das verdades expressas pelo filósofo. Nesta manhã de Sexta-feira Santa, não foi diferente. Página 69, aforismo 55:
"Há uma grande escada da crueldade religiosa, com muitos degraus; mas três deles são os mais importantes. Outrora sacrificavam-se homens ao seu deus, e talvez aqueles a quem mais se amava, - eram desse tipo os sacrifícios dos primogêntitos, característicos de todas as religiões pré-históricas, e também o sacrifício do imperador Tibério na gruta de Mitra da ilha de Capri, este o mais arrepiante de todos os anacronismos romanos. Mais tarde, durante a época moral da humanidade, sacrificavam-se ao seu deus os instintos mais fortes que se possuía, a 'natureza' própria; é esta alegria festiva que brilha no olhar cruel do asceta, do homem entusiasticamente 'antinatural'. E, finalmente, o que ficava ainda para sacrificar? Não se teve, por fim, que sacrificar tudo que era consolador, sagrado e salutar, toda a esperança, toda a fé na harmonia oculta, em bem-aventuranças e justiças futuras? Não devia sacrificar-se o próprio Deus e, por crueldade para consigo, adorar a pedra, a estupidez, a força da gravidade, o destino, o nada? Sacrificar Deus ao nada - esse mistério paradoxal da extrema crueldade foi reservado à geração que precisamente agora surge no horizonte: todos nós já conhecemos alguma coisa disto".
A Bíblia é o mais completo, o mais extraordinário relato dos três tipos de sacrifícios a que se refere Nietzsche.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

CARPA, CARPA...


Hoje fui à feira do peixe. Grande a demanda e pequena a oferta. O caminhão não havia chegado de Capão do Cipó. Um caminhão cheio de carpa. Carpa, carpa, apenas carpa. As traíras eram miúdas, pouco mais que as joaninhas que pescava no Rosário naqueles meus verdes anos. Voltei para casa tranquilo. Sempre tenho peixe congelado. Primeiro, porque gosto mesmo (contrariando a maioria das pessoas); segundo, porque sou obrigado a diminuir a carne vermelha, por motivo de saúde. Essa corrida pelo peixe na semana santa é interessante, revela uma tradição, um condicionamento religioso (certamente com alguma raízes pagãs, como escreveu o Ruy), e expõe uma história irônica. Nas últimas décadas, os gaúchos acabaram com os rios piscosos. Para essa empreitada, usaram e abusaram da rede. A exploração agrícola funcionou como a paulada de misericórdia. Nestes dias, se queremos variedade, dependemos de alguns comerciantes que trazem peixe de longe (Mário Siqueira traz de Rio Grande, por exemplo). Caso contrário, só nos resta comer carpa, criada em açude. Depois que morei às margens do rio Paraguai, com opção entre o pintado e o pacu, entre o jaú e o dourado, voltar a comer carpa...
(Os gaúchos só perdem para os paraguaios em termos de destruição com a prática da caça e da pesca.)