A expressão “em tempo de pandemia” caiu no gosto popular
e parece unificar a linguagem em torno de um fato muito conhecido nestes dias.
Não poderia ser diferente, na medida em que a ocorrência factual ainda em curso
atinge a todos indistintamente, homens e mulheres, pobres e ricos, ignorantes e
cultos... Certamente, a pandemia marcará um tempo, um referencial menor dentro
do nosso calendário.
Em tempo de pandemia, as pessoas
criam as explicações mais bizarras acerca do grande problema que as obrigou a
uma quarentena. Grupos delas, facilmente identificados nas redes sociais,
concorrem entre si para ver quem melhor explica o inexplicável. Algumas
opiniões são merecedoras de um destaque especial, ou porque se baseiam em
crenças, ou em preconceitos, ou em fake news.
Uma das opiniões da ala religiosa
insinua que a pandemia é culpa do homem pecador, que não teme a “ira de Deus”.
Várias passagens da Bíblia se referem a essa ira divina, inclusive no Novo
Testamento, como em João 3,36. Caso se tratasse de um deus sumério, escandinavo, asteca ou de qualquer outra procedência, seria
aceitável esse sentimento (que denuncia o antropomorfismo já pensado por
Xenófanes 2,5 milênios antes do presente). Malgrado todas as traduções por que
passou o texto bíblico, ira nunca poderá ser algo que signifique amor.
Outra opinião, esta forjada pelas
fake News, insiste ser o Coronavírus uma criação de laboratório, cujo objetivo
abscôndito é de uma guerra biológica. A China teria produzido o micro-organismo
com a intenção de causar uma crise econômica, mais que sanitária, com a qual
certos países deveriam compra-lhe remédios e equipamentos, bem como vender-lhe
empresas importantes. Ao longo da Peste Negra, Eurásia, século XIV, por puro
preconceito, pregava-se que a culpa era dos judeus. Preconceito e fake News
constituem a espinha dorsal das teorias conspiratórias.
Uma terceira opinião, endossada pelo presidente do
Brasil, nega o grau de letalidade da COVID-19, como se ela não passasse de uma gripezinha qualquer. Os hospitais e as funerárias não conseguem atender a
demanda do tratamento intensivo e do sepultamento dos mortos, todavia, os
opinativos continuam a sustentar uma aparente normalidade. O máximo que
reconhecem ante a realidade é de que a percentagem de mortos é muito baixa,
quando comparada com outras doenças.
Dois dados sobre a saúde,
constituídos pelo esclarecimento científico (muito acima das opiniões), são
suficientes para mitigar o contágio: 1) lavar as mãos com água e sabão; 2) usar
protetor facial. Esses e outros hábitos serão práticas adquiridas por nós,
permitindo-nos futuramente uma referência sem saudade a uma quarentena vivida –
em tempo de pandemia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário