Em suas Reflexões autobiográficas, Eric Voegelin elenca três razões para alimentar
grande repulsa às grandes ideologias,
como o positivismo, o marxismo e o nacional-socialismo. A princípio, ele
reconhece que foi influenciado por Max Weber, para quem a honestidade
intelectual era indispensável em um homem de ciência.
A
primeira razão é exatamente a desonestidade intelectual daqueles que constroem
edifícios ideológicos, já examinados por uma ampla bibliografia. Aqui é
oportuno destacar Raymond Aron, autor de O
ópio dos intelectuais, em que disseca o marxismo e seu fascínio sobre a intelligentsia.
Basta ler a
bibliografia pertinente, para saber por que são insustentáveis (as ideologias).
Se, mesmo assim, um indivíduo opta por aderir a uma delas, impõe-se de imediato
a suposição de sua desonestidade intelectual (VOEGELIN, 2007, p. 80).
Um
cientista social competente e um ideólogo, para o filósofo, são incompatíveis.
O
segundo motivo de sua repulsa é o morticínio de pessoas, provocado por essas
ideologias, que a História mesma provou não se adequarem à condição basilar dos
seres humanos. Qual era a graça de matar por “diversão”, assim pergunta o
pensador (2007, p. 81):
A brincadeira é
conquistar uma pseudo-identidade com a afirmação do próprio poder, o que se faz
preferencialmente matando alguém, e esta pseudo-identidade passa a servir de
substituta ao ego humano que se perdeu.
O
terceiro motivo diz respeito “destruição da linguagem”, que caracteriza todo
ideólogo marxista (por exemplo). Ele se deixaria seduzir pelas dificuldades dos
escritos de Hegel, a explorar “as possibilidades de interpretação da realidade
a partir deste ou daquele ângulo de seu sistema”. O problema é que o faz sem
questionar as premissas que estão erradas. Para ocultá-las, o hegeliano conta
com o desconhecimento dos antecedentes em Plotino e no misticismo neoplatônico
do século XVII.
Para
Voegelin, é mais evidente a falsidade das premissas no marxismo. Não apenas por
distorcer os conceitos de Hegel, tomando-os como “predicados da ideia em
enunciados sobre fatos”, como por recusar o diálogo com o argumento etiológico
de Aristóteles, que trata das causas de todos os seres e coisas.
Com
o objetivo de destruir a humanidade do homem em benefício do “homem
socialista”, Marx precisava evitar o problema etiológico. Ele teve sorte nesse
intento em vista da “degradação cultural do universo acadêmico e intelectual no
final do século XIX e início do XX”.
A condenação radical
do conhecimento histórico e filosófico deve ser identificada como um fator
importante em nosso ambiente político-social, porque aqueles que a ditam não
podem sequer ser chamados de impostores intelectuais – seu horizonte de
consciência é por demais limitado para que estejam conscientes de sua desonestidade
objetiva (VOEGELIN, 2007, p. 85).
Na
contracorrente da tendência charlatã, Max Weber escreveu em 1904-1905 ensaios esclarecedores,
que levou Voegelin a rejeitar o marxismo como indefensável cientificamente.
REFERÊNCIA:
VOEGELIN,
Eric. Reflexões autobiográficas;
tradução Maria Inês de Carvalho; notas Martim Vasques da Cunha. – São Paulo: É
Realizações, 2007
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