segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

SIM E NÃO

Tudo em minha vida é uma decorrência inexorável de um sim ou de um não. De um sim ou de um não que disse em algum momento pretérito. Em incontáveis momentos, fui forçado a dizer sim; noutros, a dizer não. Em incontáveis momentos, disse sim e disse não por vontade própria. Do sim ou não que disse livre e espontaneamente, seguindo a lógica ou a intuição, raras vezes me arrependi da escolha. Do sim ou não que me foram impostos por alguém, pelas leis, pelas circunstâncias etc., muitas vezes, acabei sofrendo consequências previsíveis. Por esse viés, compreendo melhor Jean-Paul Sartre: o inferno são os outros. (...) Um simples sim, como me sentar numa cadeira, quando era para permanecer de pé. Um irrelevante não, como me levantar da cadeira, quando era para permanecer sentado. Um pusilânime não, quando era para ter dito um corajoso sim. Um sacrossanto sim, quando melhor convinha um não profano. (...) Pensamentos, palavras e atitudes de afirmação ou de negação, ou por iniciativa minha, ou por influência alheia, trouxeram-me até aqui, exatamente onde estou e como sou. E caso tivesse feito outra opção, o não pelo sim, o sim pelo não? Isso era factível, bastaria que me sentasse na cadeira ou que me levantasse dela, quando de fato fiz o contrário. O efeito borboleta se encaixa perfeitamente na ilustração do que ocorre a partir do gesto de me sentar ou de me levantar de uma cadeira. Esse gesto (em algum momento pretérito) deu origem a todo acontecimento que marcou minha vida. Independentemente da ventura ou desventura desse acontecimento, sei que haveria uma possibilidade de tudo ser diferente. Não serei feliz, enquanto culpabilizar minhas escolhas, livres ou forçadas, enquanto transitar indeciso ao longo da fronteira entre sim e não.

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