Dos tipos regionais brasileiros, o gaúcho é o que mais apresenta condições de se definir como objeto de estudo. Entre os aspectos que caracterizam a gauchidade, a relação homem–cavalo excede aos demais. Das primeiras estâncias aos meados do século XX, a figura compósita acima foi primordial para a constituição política, econômica e cultural do Rio Grande do Sul. A primeira ruptura ocorreu por culpa do latifúndio, que peão e animal ajudaram a fixar nas missões e campanha. A “trilogia do gaúcho a pé”, formada pelos romances Sem rumo, Porteira fechada e Estrada nova, de Cyro Martins, retrata o empobrecimento e a exclusão dos Joões Guedes, obrigados a vender o inseparável parceiro de lida e mudar para a cidade. Décadas mais tarde, com a industrialização e conseqüente êxodo rural, nova separação da díade campeira. Os meios de transporte motorizados (motos, automóveis, ônibus etc.), cruzando as estradas do interior, quase aposentaram o velho pingo (que se transformou em tema recorrente nas canções nativistas). Da gente que povoou os arrabaldes, alguns evoluíram economicamente, dando-se ao luxo de comprar terra, fazendo do campo uma nova opção de vida. Nesse retorno simbólico, não poderia faltar o cavalo (que, bem cuidado, completa o quadro do monarca na Semana Farroupilha). À exceção daqueles que participam de rodeio, atividade lúdica que já supera o futebol nos fins de semana, a maioria dispõe de um animal exclusivamente para o desfile. Os primeiros a cavalgarem pelas ruas de nossa cidade foram vistos domingo passado. Não pensem os observadores moralistas que esses cavaleiros sejam todos alcoólatras, absolutamente. A latinha de cerveja e a garrafa de canha já fazem parte dos aperos, na falta do borrachão. (...)
(Continuarei mais tarde)
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