segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

BOAVENTURA II

A partir da constatação forçada de que o período é de transição, Boaventura de Souza Santos vê uma necessidade de "voltar às coisas simples". Uma delas consiste em fazer perguntas aparentemente ingênuas, como o fez Jean-Jacques Rousseau num momento em que se passava a produzir cientificamente, em meados do século XVIII. Aquele período também era de transição, a julgar pelo sociólogo. Rousseau retoma uma fórmula socrática ao perguntar se há relação entre ciência (sabedoria) e virtude, se o conhecimento é capaz de diminuir a distância entre o que se é e o que se aparenta ser, entre a teoria e a prática. Tais dicotomias sempre existiram, existem e continuarão a existir, independentemente se o período é de transição ou não. Aliás, a humanidade vive em constante transição desde que evoluiu da condição animal, passando ao jugo dos deuses e libertando-se deles. A resposta rousseaniana àquelas indagações é um "redondo não", o mesmo com que o pensador português (até que enfim, um pensador português!) diagnostica para os anos oitenta. Segundo ele, um momento de perplexidade, falta de "confiança epistemológica", "sensação de perda irreparável"... Perda do quê? A transição mais evidente, repito o que escrevi em postagem abaixo, apontava para o fim da guerra fria (com a débâcle soviética). As inovações tecnológicas propiciaram um enorme salto para a cibercultura. As descobertas genéticas, por exemplo, aproximam o conhecimento da vida, negando o discurso negativo e alarmista do sociólogo.

Nenhum comentário: