terça-feira, 22 de junho de 2010

VOX POPULI, VOX DEI??????????????????

O conhecimento desmistifica, desmascara, revela a mentira que se faz passar por verdade. A crença de que a voz do povo é a voz de Deus não resiste a uma simples pesquisa sobre sua origem. Fui obrigado a fazê-la, em razão de ter decidido escrever contra esse chavão demagógico, hipócrita. Vamos a ela. Na antiguidade grega, as pessoas iam ao templo do deus Hermes e, ante sua estátua, perguntavam aquilo que queriam saber. Depois cobriam a cabeça (ou os ouvidos) e saíam do templo. As primeiras palavras que ouvissem na rua seria a resposta do deus à sua questão. Eis a origem da crença. Crença num absurdo. No século VIII, um teólogo chamado Alcuíno escreveu numa carta a Carlos Magno: “Não devem ser ouvidos os que costumam dizer que a voz do povo é a voz de Deus, pois a impetuosidade do vulgo está sempre próximo da insânia”. O que ficou da frase? Justamente o que o teólogo negava: vox populi, vox Dei. Com relação à origem, está claro o equívoco. O objetivo da minha reflexão é provar o erro do conceito atual, ainda citado por políticos espertos e cristãos ingênuos (seriam ingênuos?). Observando a realidade, a que o conceito deve representar, vejo claramente destacar-se a maledicência, o falar mal de. Não se infere disso o fato da difamação e da injúria passarem a constituir crimes? A manifestação ostensiva, todavia, contra a qual legisla o Estado, é uma ínfima parte do que ocorre velada (em relação ao praticado) e anonimamente (em relação ao praticante). Amparado por Houaiss, generalizo que povo é um conjunto de pessoas que falam a mesma língua (bem a propósito). Considerando-se Deus como o supremo bem, assim o creem, como tornar verdadeiro o símile ou a igualdade que diz ser sua voz a voz do povo? Por trás da crença que afirma essa relação se oculta o antropocentrismo, uma forma de soberba, qualquer coisa já definida por Ludwig Feuerback (em seu livro A essência do Cristianismo).

Nenhum comentário: