Nietzsche
criou duas metáforas para representar a trajetória do homem ao além-do-homem: a
da corda estendida sobre um abismo e a da subida em direção ao alto, à montanha
acima da cidade e de sua praça.
Desde antes de ler Nietzsche pela
primeira vez, concebi a busca da sabedoria como uma caminhada, exatamente como
pensara o filósofo há mais de um século. Ele afirma (lembro duas vezes) que
quanto mais você se eleva, menor se afigura aos que continuam embaixo, seja por
estes são ludibriados por uma ilusão de ótica, seja por inveja.
Uma vida é demasiado curta, a tomar
como referência nossa cultura, para se chegar ao topo, mais próximo da luz que
deve irradiar por lá. No entanto, desde já gozo de uma visão que se aclara à medida que subo mais e mais. Nessa visão,
incluem-se aqueles que sequer começaram a subida, por falta de coragem,
tibieza, despeito ou presunção. Eles se encontram (ou se perdem) no rasteiro do
sopé, incapazes de se desvencilharem do peso sobre seus ombros.
Uma aporia me perturba ao longo da
caminhada: ainda sinto compaixão pelos meus semelhantes (por um lado) e uma vontade
inquebrantável de subir ainda mais (por outro). Aquele sentimento me puxa para
baixo, ao contrário da força ativa, que me torna mais livre e mais seguro.
Todos devem se conduzir pelas próprias pernas, fazer seu próprio caminho – algo
que depende de um querer determinado.
Na altura em que me encontro, o vento é
fresco e o estar-só uma condição
muito agradável. Tudo abaixo se apequena, visto pela compreensão ampliada
continuamente. Tudo acima ganha em claridade. A julgar pelo bem que experimento
desde agora, o alto é o meio do caminho, é descer outra vez, qual o personagem
liberto da caverna na alegoria de Platão.
Em meio à luta dos homens lá embaixo, correrei o risco de ser incompreendido como o foi Zaratustra, tomado como um excêntrico, um herege, uma ameaça aos valores tradicionais, às "verdades" instauradas pelo hábito. Já convivi com eles nas primeiras duas décadas da minha vida. Ainda jovem, portanto, iniciei esta caminhada.
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