Os
outros meninos do rincão me chamavam de Gringo, em razão da cor clara da minha
pele, olhos e cabelos. Nos momentos em que ralhavam comigo, o apelido racista
vinha acompanhado de um adjetivo pouco lisonjeiro – não correspondente ao
asseio que me era imposto pela mãe.
Ela
procedia da serra, de uma família italiana, cujos pais e avós atravessaram o
Atlântico de navio nas últimas décadas do século XIX. Anteriormente, o rincão
era povoado apenas por “brasileiros”, de origem portuguesa. Minha mãe foi a
primeira a romper com essa homogenia de “pelo duro”.
O pejorativo com que fui tratado na
infância, contudo, não me marcou negativamente (hoje caracterizado como bullying). A diferença, por outro lado,
não se transformou em orgulho para mim. Um misto de ignorância e rigor com que
todos vivíamos no rincão não nos permitia avançar para um estágio de maior
sensibilidade (já em desenvolvimento nos centros urbanos).
A educação severa dos pais me preparou
para a vida, sem imprimir qualquer desajuste em minha personalidade. O respeito
por eles continuou a crescer como uma forma (inconfessável) de amor,
principalmente a partir de quando os deixei para estudar na cidade.
O rincão mudou deveras, por conta da passagem
inexorável de Cronos (o tempo sem retorno). Inobstante as mudanças por que
passei, ainda me sinto muito bem toda vez que volto lá, onde reencontro meu
pai, meu irmão, a casa, o lugar... Kairós (o tempo cíclico) me proporciona essa
felicidade de ser o mesmo e ser outro. Menino e livre-pensador.
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