A vida de uma
pessoa, do nascimento à morte, já foi comparada a muitas coisas,
que elencam uma relação ainda inconclusa (em vista do contínuo
exercício dos poetas). Uma das mais populares dessas metáforas
relaciona vida e caminho/ caminhada. Em Édipo Rei, de Sófocles, o
enigma proposto pela Esfinge alude a uma criatura que, pela manhã,
tem quatro pés; ao meio-dia, tem dois; e, à tarde, tem três. Édipo
resolveu o quebra-cabeça: “O homem – engatinha como bebê, anda
sobre dois pés na idade adulta, e usa uma bengala quando é ancião”.
O poeta espanhol Antonio Machado escreveu: “Al andar se hace el caminho/ y al
volver la vista atrás/ se ve la senda que nunca/ se há de volver a
pisar”. Via de regra, a caminhada inicia-se com uma subida (mais ou
menos difícil), alonga-se sobre um plano horizontal e encerra-se com
uma descida (mais ou menos difícil). A primeira fase pode ser
associada ao crescimento do indivíduo, exigindo-se um grande consumo
de energia. O alto é alcançado com o pleno desenvolvimento físico
e o satisfatório conhecimento de mundo. O psicológico continua a
evoluir na fase intermediária, segundo um processo que se confunde
com a própria racionalidade. Nesse plano, o caminho se caracteriza
pelo equilíbrio, pelo domínio de quem vislumbra maiores extensões.
Isso propicia belos momentos de contemplação, que excede todo
trabalho, toda atividade necessária. O caminhante tem a visão
ampliada por horizontes mais extensos, entre os quais alguns sonhos
se realizam e outros são esquecidos como impossíveis, sonhados
desde os primeiros anos da juventude. No último terço da caminhada,
os sinais de cansaço começam a aparecer com frequência, quando a
energia é insuficiente para evitar a entropia vital. Tal não é
problema para a pessoa responder com mais doçura aos estímulos
externos e pactuar sem problema com a solidão.
Nenhum comentário:
Postar um comentário