Um indivíduo é normal se pertence ao grande grupo de uma sociedade, com o qual compartilha de ideias semelhantes, de gostos semelhantes, de costumes semelhantes. Enfim, um semelhante. Em Santiago, por exemplo, existe um microuniverso quase fechado em torno da normalidade. A impedir tal perfeição, uns e outros rompem os limites desse mundinho, consciente ou inconscientemente. Do primeiro modo, agem os excêntricos; do segundo, os loucos. Antes que me interpretem mal, excentricidade e loucura com o menor grau de depreciação e de patologia, respectivamente. Com isso, tampouco ironizo uma excelência dos que podem ser reconhecidos como normais. Pelo simples fato de criticar, pertenço ao grande grupo. Sou normal. Todavia, provoco uma ruptura ao fazer a autocrítica. Ninguém me poderá cobrar pela contradição de ter meu dedo indicador apontando para fora, enquanto outros três se voltam para mim. Por gostar do frio, sou um excêntrico. Não sigo o grande grupo que odeia o frio no inverno e odeia o calor no verão. Hedonistas incorrigíveis. Odeio os dias quentes, mas me alegro com os dias gelados. Não tenho lareira em casa. A propósito, não tenho casa. Moro num apartamento alugado, no alto de cinquenta degraus. Mesmo assim, saio para rua de noite, só para sentir o cheiro da lenha queimando em lareiras de lares alheios. Acaso serei um louco por isso? Acima da excentricidade, a poesia é minha forma de loucura, meu discurso diferenciado, bem outro do que estou cansado de ouvir, de ler. Decididamente, não sou um indivíduo normal.
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