segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

DA IMPOTÊNCIA

O excesso de autocrítica me impede de escrever abertamente sobre diversos assuntos que gravitam no universo intelectivo a que pertenço. Ideias surgem e se perdem antes de encontrar a expressão mais adequada. [...] Quando me proponho a escrever, o conhecimento da inutilidade do trabalho se sobrepõe à convicção de que meu texto terá certa importância. Tudo o que produzi até agora adiantou alguma coisa? Alguém se beneficiou? Por mais convincente, o que consegui textualizar, no máximo, prendeu a atenção de poucos leitores. Se o que produzo é o resultado de uma evolução individual efetiva (e afetiva), a que ponto isso pode ser relevante para os outros? Tal situação me faz compreender a queixa escrita por Van Gogh a Theo, seu irmão: Pode ter-se um grande fogo na alma, mas ninguém vem nunca se aquecer nele, e os que passam só avistam um fumozinho no alto, a sair pela chaminé, e seguem seu caminho. Toda a motivação que me fez um colunista, um blogueiro, tem seu contraponto neste sentimento de impotência. A palavra foi banalizada, a partir de uma profusão interminável de gêneros (disponíveis nos mais diversos meios). O mundo digitalizado se transforma numa ladainha insuportável, numa algaravia, numa babel reeditada.
(Excerto de um texto publicado no jornal A Hora)

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