quinta-feira, 30 de setembro de 2010

poesia

é preciso nuvem
para o
pôr do sol
.
é preciso
sol
para se pôr
.
e olhos
que se põem
nas nuvens
.
O poema acima é apenas um esboço do que é poesia, mescla de forma e conteúdo. Qualquer coisa não muito diferente. 

NOVA ESPERANÇA (OUTRA VEZ)

O secretário da Educação de Nova Esperança do Sul,  meu amigo Ben-Hur, convidou-me para fazer parte da comissão de avaliação dos professores no 3º Seminário Municipal de Formação Continuada. A deferência e o inusitado me levaram a aceitar o convite. Num esforço de última hora, li os 21 trabalhos antes de serem apresentados numa sala do Colégio São José. Sete apresentações na segunda-feira, sete na terça e sete na quarta. Três noites indo ao vizinho município e vindo de lá, feliz com a nova experiência. Os temas abordados foram os seguintes: A valorização do profissional docente nos dias atuais; A questão do bullying na instituição escolar; Como promover o sucesso e a permanência do aluno na escola; A importância da afetividade dos profissionais da educação nos processos de ensino-aprendizagem; O enfoque da temática ambiental como conteúdo programático da escola; A correta utilização dos profissionais de apoio... Fundamentado em meus muitos anos de vida e de leitura, fiz alguns questinamentos pertinentes (PARA APRENDER TAMBÉM).   

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

PARADOXOS

Na educação – A educação ambiental é um tema muito debatido nestes dias. Diz-se que a escola necessita evoluir, da simples abordagem de conceitos a práticas que despertem a consciência ecológica. Como chegar a isso sem interferir no paradigma que continua a mover a sociedade materialista, que torna equivalentes o maior consumo e a melhor qualidade de vida?
Na política – É discurso corrente que o brasileiro não sabe votar. Tão valorizado antes de uma eleição, o cidadão acaba sendo responsabilizado por tudo o que ocorre amiúde em todos os âmbitos da administração pública, cujos cargos e/ou funções são preenchidos eletivamente. Já virou jargão a frase que diz ter o povo o (des)governo que merece. Como aprender a votar se as opções são, em muitos casos, limitadas a dois ou três nomes, entre os quais não há um que assegure o êxito da escolha?
Na ciência – Em 1929, Edwin Hubble descobriu o afastamento entre as galáxias, comprovando-se a expansibilidade do Universo. Tal descoberta contribuiu enormemente para a teoria do Big Bang, uma vez que o movimento observado infere uma origem comum. Como explicar a exceção representada pela Via Láctea (a galáxia em que habitamos) e Andrômeda, em rota de colisão?
Na religião – Em várias passagens dos evangelhos, fica claro que Jesus Cristo pregava um modus vivendi despojado dos bens materiais, Obviamente, uma pobreza voluntária fiel aos preceitos cristãos. Em Mateus, por exemplo, lê-se em 6, 24: “Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de odiar um e amar o outro...”. Referindo-se a Deus e à riqueza. Em 19, 21: “Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu”. Como explicar o surgimento de uma igreja evangélica (neopentecostal) no Brasil, cuja doutrina mais atraente é a da prosperidade terrena?

terça-feira, 28 de setembro de 2010

PESQUISA ELEITORAL

Veja o absurdo que são as pesquisas, clicando no link abaixo (como entrevistar 250 em São Paulo e 4.000 em Pernambuco).

sábado, 25 de setembro de 2010

RIO ROSÁRIO

os mapas mudam o nome
do rio
que sonhei desde a infância
o rosário
com seus poços
e histórias
com seus peixes prateados
e cachoeiras
com seus lajedos
e alcantis
com seus sarandis
e martins-pescadores
com suas águas doces
e mornas
o rosário
dos meus devaneios
não existe nos mapas
que trazem jaguarizinho
risco fino no papel
sem poesia

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

ESTATÍSTICAS

Quem pensaria no ano 2000 que a ferramenta recentemente desenvolvida, com um simples clique em "Estatísticas" ("Dia" "Público"), relacionaria o número de seus leitores no mundo todo? Uma década depois, neste exato momento, qualquer blogueiro pode saber isto: quantos visitantes o acessaram no dia, semana, mês e de que país o acessaram. O meu CONTRA ., por exemplo, apresenta o seguinte quadro agora:

Brasil                                                                                      328
Portugal
24
Estados Unidos
3
Espanha
2
Angola
1
Dinamarca
1
Luxemburgo
1
Rússia
1
Sei, por exemplo, quais as minhas postagens mais acessadas, o que pode apontar um futuro mais interativo para meu blog. Neste aspecto, a quantidade infere uma qualidade. 

UM SHOW

Nas palavras de Luiz Antônio Marcuschi, grande linguista da Universidade de Pernambuco, "os blogs têm uma história própria, uma função específica e uma estrutura que os caracteriza como gênero". O artigo produzido em 2005, para Hipertexto - e gêneros digitais, já nos parece ultrapassado em 2010. Isso prova a velocidade com que ocorrem mudanças na escrita eletrônica, por conta da evolução das ferramentas e do uso que se faz delas. Profeticamente, o próprio Marcuschi alertava para as novas funções e gêneros derivados do blog. Basta tomarmos a blogosfera com suporte hipertextual santiaguense, como exemplo, para constatar que o blog deixou de ser um diário pessoal. Jornalismo 3.0, publicidade, literatura, crítica e tudo mais, revolucionando os meios de comunicação. Um show.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

PEÃO DE ESTÂNCIA

Nesta terça-feira, foi lançado o livro Peão de Estância, de Antônio José Duarte. Mais uma vez, tive o prazer de elaborar e conduzir o protocolo, como Diretor do Departamento de Literatura do Centro Cultural. Seu Antoninho, no alto de seus (quase) oitenta anos, ficou emocionado ao falar (sem perder o controle, a coesão, todavia). De posse do diploma outorgado pelo Centro Cultural, ele confessou que há cinquenta anos esperava por esse momento. Perguntei-lhe se continuará escrevendo, disse-me que sim, com uma alegria nos olhos que reforçava sinergicamente tal assertiva. Na condição de peão humilde das letras, prometeu-me que participará da oficina que coordeno no Centro Cultural, às segundas-feiras. (A propósito, cito algumas pessoas que já integram nosso grupo de estudo: Arlete Cocentino, Therezinha Lucas Tusi, Fortunato de Oliveira, Lise Fank, Enadir Vielmo, Dirce Brum, Erilaine Perez, Marcelo Garcez, entre outros inscritos que ainda não se fizeram presentes.) Ao anunciar o lançamento do livro, recitei estes versos para descrever seu autor: Antônio José Duarte / peão de duas estâncias / procurador de distâncias / entre Pinheiro Machado / e nossa boa Santiago / que lhe deu cidadania / e o sonho de qualquer dia / sair pra campos diversos / a laçar crioulos versos / na Estância da Poesia. (No último verso, forcei uma dierese, separando em duas sílabas "po-e".) Com seu livro de estreia, o autor dá com os costados numa terceira estância, a da Poesia Crioula, onde tantos outros se divertem num belo rodeio de rimas.


domingo, 19 de setembro de 2010

BICO-DE-PENA DE CARLOS FONTTES

Catedral de Sant'Ana

Ponte Internacional

Centro Cultural "Dr Pedro Marini"

CARLOS FONTTES

Carlos Fonttes escreveu a primeira história da 1ª Brigada de Cavalaria Mecanizada. Militar, escritor e, o que fiquei sabendo por estes dias, artista plástico. Isso talvez explique nossa amizade que nasceu ontem. Decerto pertencemos a uma mesma classe de gente.
Antes de ir embora, Fonttes me presenteou com a obra Uruguaiana - Na Linguagem Plástica e Histórica (foto acima). Escrito e ilustrado por ele e Daniel Fanti, editado pela Pallotti, o livro é uma preciosidade. Os desenhos a bico-de-pena são uma clara demonstração de maturidade estética, domínio de um estilo que agrada o leitor.
Para conhecer o artista, acesse o site www.artmajeur.com/carlosfonttes

LANÇAMENTO DE LIVRO II

Ontem, no Círculo Militar de Santiago, ocorreu o lançamento do livro 1ª Brigada de Cavalaria Mecanizada, escrito por Cláudio Moreira Bento, Luiz Ernani Caminha Giorgis e Carlos Fonttes, todos militares. A obra é duplamente apresentada pelo Gen Edson Leal Pujol (Cmt da AMAN) e Gen José Eustáquio Nogueira Guimarães (Cmt da 1ª Bda C Mec). O coronel Bento escreve a Introdução do livro, que constitui mais um volume do Projeto História do Exército na Região Sul.
O Capítulo Primeiro faz um retrospecto histórico aos primeiros confrontos bélicos entre bandeirantes e índios na área das Missões (início do século XVII). Em seguida, Fundação da Colônia do Sacramento (1680), Guerra Guaranítica (1754-56), Guerras do Sul (1763-77), A Conquista dos Sete Povos (1801), O distrito Militar das Missões na Campanha do Exército Observador (1811-12), Guerra contra Artigas (1816-20), Guerra da Cisplatina (1825-28), Revolução Farroupilha (1835-45), O Patrono da Cavalaria no Comando da Fronteira das Missões em São Borja (18554-57), Invasão do Rio Grande do Sul pelo Paraguai por São Borja (1865), A Fronteira de São Borja na Guerra Civil (1893-95).
No Capítulo Segundo, a história da cidade de Santiago e das 1ª Bda C Mec.
No Capítulo Terceiro, a história dos comandantes da 1ª Divisão de Cavalaria e 1ª Bda C Mec.
No Capítulo Quarto, história das Unidades Militares subordinadas à 1ª Bda C Mec.
Na parte final do livro (de 282 páginas), os seguintes anexos:
- Academia de História Militar Terrestre do Brasil;
- Resumo histórico do Instituto de História e Tradições do RGS;
- Currículo dos autores;
- Bibliografia.
Antes do lançamento, foram empossados novos membros acadêmicos da Academia de História Militar Terrestre do Brasil (AHIMB) os seguintes delegados: Reinaldo Goulart Correia (São Borja) e Carlos Fonttes (Uruguaiana). De delegados passaram a acadêmicos, na vaga aberta pelos seus antecessores, alçados a acadêmicos eméritos.
Desde ontem, Santiago conta com uma delegacia da AHIMB, para a qual fui nomeado titular. O patrono escolhido para esta delegacia foi o Gen Carlos Flores de Paiva Chaves, que comandou a 1ª Divisão de Cavalaria de 29 de junho de 1956 a 19 de janeiro de 1959.
Ao final de um dia dedicado à organização do evento, mormente de seu protocolo, saí com um distintivo de lapela da Academia de História Militar Terrestre do Brasil.
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(NA TERÇA-FEIRA, DIA 21, TEREMOS OUTRO LANÇAMENTO NO CENTRO CULTURAL DE SANTIAGO: PEÃO DE ESTÂNCIA, DE ANTONIO JOSÉ DUARTE. SEU ANTONINHO, DEPOIS DE SER PEÃO DE MUITAS ESTÂNCIAS, ENTRE PINHEIRO MACHADO E SANTIAGO, PEDE LICENÇA PARA ENTRAR NA ESTÂNCIA DA POESIA CRIOULA.)

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

NOVA ESPERANÇA


Ontem fui voluntário para ir a Nova Esperança levar alimentos arrecadados pelo Esquadrão de Comando da 1ª Bda C Mec na última Campanha do Quilo. Essa cidade foi tributária durante a arrecadação, destacando-se pelo espírito solidário.
Perguntei para a recepcionista se o prefeito estava. Disse-me que sim, que poderia passar ao gabinete dele. Queria tanto conhecê-lo pessoalmente. Quando servi em Forte Coimbra, no Pantanal mato-grossense, os pantaneiros me perguntavam muito pelo Dr. Segatto, homem simpático, humanitário, militar educado. Ele servira lá dois anos antes.
Em Nova Esperança, o prefeito enfrentou uma crise econômica logo no início de sua gestão, superada com trabalho, disciplina e inteligência. De acordo com as palavras de seu vice e secretário de Indústria, Comércio, Turismo e Trabalho, o desemprego não assombra mais a "Capital da Bota".
Descarregadas as cestas básicas na Secretaria de Saúde e Assistência Social, fui ao Colégio José Benincá, dirigido pela minha amiga Cristina Cogo Michelon. Desde 1976 que não nos víamos, quando fomos colegas no Cristóvão Pereira. Todo esse tempo não diminuiu a alegria do reencontro. A Cristina é outra pessoa simpaticíssima. Levei-lhe quatro exemplares do meu Vozes e Vertentes. Pediu-me que eu retornasse noutra oportunidade, para falar de xadrez ou de poesia aos seus alunos.
A tarde estava bonita, iluminada, com seus ipês amarelos.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

A (CON)TRADIÇÃO

O culto ao passado evidencia uma contradição (que é ignorada pelos cultuadores com o propósito de justificar a cíclica rememoração). O cavaleiro elegantemente pilchado na Semana Farroupilha, por exemplo, imita o homem real, de carne e osso, que viveu dias difíceis outrora, ou não passa de uma representação do mito arquetípico do “centauro”, do “monarca”? Até onde a memória de nossos antepassados alcança, não há testemunho de que a vida no campo e os valores sócio-culturais a ela inerentes constituíssem algo maravilhoso. Depois de guerras brutais, fratricidas, que mancharam de sangue a Província de São Pedro, o gaúcho obrigou-se a trabalhar duríssimo no lombo do cavalo ou no cabo da enxada e do arado. Na entressafra, tropeava e carreteava, para não ser absorvido pelo latifúndio (que transformava em peão os desafortunados, pusilânimes ou indolentes). Nenhuma das alternativas expressas acima responde à pergunta que as antecede. O tradicionalismo é uma praxe social do presente. Os homens do nosso tempo dão-se ao luxo de reviver, pelo menos uma vez ao ano, o hábito de andar a cavalo pelas ruas da cidade, num padrão determinado pelos estatutos do MTG. Engana-se o analista que aponta o “presente degradado” como causa da tradição. Pelo contrário, é um excesso de riqueza e ócio que produz esse devaneio, essa fantasia sobre a identidade do gaúcho, ou gauchidade. Os nossos antepassados não tinham essa cultura, preocupavam-se muito com o presente – e com o futuro. A contradição, portanto, consiste na discrepância entre o que somos e o que fomos.

(Este artigo é uma tentativa simples de pensar algo diferente que não seja a mesma coisa.)

domingo, 12 de setembro de 2010

LANÇAMENTO DE LIVRO

Nesta semana, mais precisamente no dia 18, às 20 horas, o livro 1ª Brigada de Cavalaria Mecanizada será lançado em Santiago. O Cel Refm Cláudio Moreira Bento, seu organizador, virá do Rio de Janeiro para o evento. Os coautores são Luiz Ernani Caminha Giorgis (Porto Alegre) e Carlos Fonttes (Uruguaiana), ambos militares da Reserva. Fonttes já publicou a história da nossa Brigada "José Luiz Menna Barreto". O Cel Bento é um historiador de alcance internacional, presidente da Academia de História Militar Terrestre do Brasil. É autor, entre outras obras, de O Exército Farrapo e os seus chefes, O negro na sociedade do Rio Grande do Sul, Estrangeiros e descendentes na História Militar do Rio Grande do Sul, Regionalismo sul-rio-grandense, As batalhas de Guararapes, A grande festa dos lanceiros, Símbolos do Rio Grande do Sul - subsídios para sua revisão tradicionalista legal. O currículo do homem é admirável. O local do evento, em vista do número de convidados, deverá ser o Círculo Militar.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

IMAGENS


poesia é
toca do coelho
onde galopam
cavalos
azuis pintados
vermelhos
de franz marc
cavalos
sobre
nuvens
a iluminá-los
uma gérbera
presa aos cabelos
de alice
.
No sentido figurado, interregno é uma distância, um vazio entre dois pontos (no espaço) e dois momentos (no tempo). Dessa forma, vivi um interregno nos últimos seis meses, sem escrever um único poema.

SALM DE MIRANDA

RINCÃO CRIOULO

(A Santiago)

Sobre o tope altaneiro da coxilha,

Sentinela avançada da fronteira,

Bravura de lanceiro farroupilha,

Tradição de bondade missioneira...

.

Em teus campos, ao sol e à geada, brilha

A estância, alma dos pampas, sobranceira!

Amo o galope alegre da tropilha

E a gaita... no galope da “rancheira”...

.

Reduto ameno do costume antigo,

Que lembra a luta brava em campo largo,

Daqueles tempos que bem longe vão!...

.

Vida simples, campeando o gado amigo,

Um “matambre”, uma “china” e um mate amargo

No aconchego do fogo do galpão...

.

Salm de Miranda, quando serviu em Santiago como major, foi o primeiro presidente do Círculo Militar. Em 5 de maio de 1944, escreveu esse soneto. Mais tarde, foi diretor da Biblioteca do Exército e diretor do Departamento de Assistência à Infância de Pernambuco (1956). Livros de Salm de Miranda: Floriano Peixoto, Um Nordeste, Rio Doce: impressão de uma época, O açude e outras histórias...

RITMO E IMAGEM

Na elaboração do conceito de POESIA, duas palavras devem ser retomadas como tema para as próximas aulas: imagem e ritmo (não necessariamente nessa ordem).

5º PASSO

O que é poesia?

4º PASSO

Já realizado o 3º PASSO, apresento um texto de Fernando Pessoa, transcrito do livro A Poesia - Uma Iniciação à Leitura Poética, de Armindo Trevisan. Pessoa é de uma clareza incomparável. Um poeta moderno, dando-nos uma lição sem data de validade.

Poesia e prosa

A arte que se faz com a ideia, e portanto com a palavra, tem duas forma – a poesia e a prosa. Visto que ambas se formam de palavras, não há entre elas diferença substancial. A diferença que há é acidental, e, sendo acidental, tem que derivar-se daquilo que é acidental, ou exterior, na palavra. O que há de exterior na palavra é o som: o que há, pois, de exterior numa série de palavras é o ritmo.

Poesia e prosa não se distinguem, pois, senão pelo ritmo. (...) o ritmo consiste numa graduação de sons e de faltas de som, como o mundo na graduação do ser e do não-ser. Quer isto dizer que o ritmo consiste numa distribuição de palavras, que são sons, e de pausas, que são faltas de som. Às palavras, como existem, compete um ritmo de variação, dependente da extensão das palavras, da sua acentuação, da sua qualidade e quantidade silábica, e também, do seu sentido, quer próprio, quer dependente das outras palavras, que lhes são contexto. Às pausas, como não existem, compete tão somente um ritmo de extensão; isto é, a pausa como não é mais que a falta de uma coisa (o som) não tem variante senão a sua duração. A pausa é mais longa ou mais breve; só isto.

Na prosa, que é a linguagem falada, escrita, estas pausas são dadas por uma coisa a que se chama de pontuação, e a pontuação é determinada exclusivamente pelo sentido. (...) Se, porém, quisermos acentuar o ritmo para além da ordem lógica, em virtude de em nós a emoção, que produz a entonação (e o canto), predominar sobre a ideia propriamente dita, abriremos pausas artificiais no discurso; a essas pausas são artificiais porque a emoção, quanto a ideia, é externa (visto que não é a ideia), e portanto artificial.

Como estas pausas artificiais não podem ser designadas por pontuação, pois a pontuação designa as pausas naturais, temos que designá-las por qualquer coisa que, marcando-as acentuadamente, todavia as marca como artificiais. Isto fazemos dispondo o discurso em linhas separadas, sendo a pausa indicada pela passagem de linha. A este gênero de discurso se chama poesia. A pausa de fim de verso é independente do sentido, e é tão nítida como se ali houvesse pontuação. (...) O discurso poético é exposto em linhas precisamente para que se faça uma pausa, artificial embora, onde a linha termina. A poesia é assim a prosa feita música, ou a prosa cantada.(...)

Nos princípios da poesia, é o próprio ritmo musical que estabelece estas pausas: a pausa da voz que canta acentua a pausa do fim do verso. Mais tarde, por um processo ainda vagamente musical, que é o quantitativo, dá-se a cada verso um igual valor musical, e a voz conhece por antecipação onde a linha acaba, sendo-lhe dada, assim uma guia para a leitura. Mais tarde, dispensa-se essa base musical mas, para que a guia não falte, estabelece-se um sistema de referências pela qual se sabe onde termina o verso, e esse sistema é a rima. Mais tarde ainda, fixo já o verso em determinadas medidas quantitativas pelas sílabas que não pela quantidade, a rima dispensa-se, é o chamado verso branco – o regular. Finalmente, se chega ao justo critério do verso – de que basta marcar pela volta da linha que o discurso está escrito em verso para se dever ler como tal, para efetivamente ser tal.

Assim se chega ao critério moderno do verso, em que não há exigência de quantidade de sílabas certas, nem de rima. A linha isolada é uma unidade rítmica. A quantidade rítmica depende, como, aliás, dependeu sempre, do poeta.

Assim, a diferença entre a prosa e o verso, sem desaparecer, longe até de desaparecer, acentua-se tal qual é, sem mais nada. O verso é a prosa artificial, o discurso disposto musicalmente. Não é outra a diferença entre as duas formas da palavra escrita.”

Fernando Pessoa


quinta-feira, 9 de setembro de 2010

3º PASSO

Qualquer que tenha sido o conceito formulado a partir do apoio textual que apresentei, forçosamente merecerá uma nova revisão. Nada de outro mundo, impossível: O que há de diferente entre a poesia e a prosa?

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

2º PASSO

O primeiro passo consiste em responder o que é poesia. Inicialmente, muitos dizem que é a expressão da alma, sentimento... Algo muito amplo, muito vago. Por isso, nem falso nem verdadeiro.
Como 2º PASSO, proponho o seguinte estudo:
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Cantiga de amigo
(Estevão Coelho - trovador galego-português)
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Sedia la fremosa seu sirgo torcendo __ __ __ __
sa voz manselinha fremoso dizendo __ __ __ __
........cantiga de amigo.
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Sedia la fremosa seu sirgo lavrando __ __ __ __
sa voz manselinha fremoso cantando __ __ __ __
........cantiga de amigo.
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- Par Deus de Cruz, dona, sei eu que avedes
Amor mui coitado que tam bem dizedes
........cantiga de amigo.
...
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Versão atualizada dessa cantiga:
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Estava a formosa a seda torcendo __ __ __ __
sua voz mansinha formosa dizendo __ __ __ __
........cantiga de amigo.
.
Estava a formosa a seda lavrando __ __ __ __
sua voz mansinha formosa cantando __ __ __ __
........cantiga de amigo.
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- Por Deus, dona, amores vos fazem sofrer,
tão sentidamente vos vejo dizer
.........cantiga de amigo.
...
1 - Destaque as vogais tônicas dos versos com traçados ao lado do poema em galego-português e da sua versão atualizada.
2 - Perceba o hábil arranjo de sons agudos (e, i) e graves (a, o, u) desses versos que Murray Schafer* chamou de "bracelete de encantamentos vocais"
3 - O jogo (a simetria) desses sons se repete na versão atual?
4 - Substitua o termo "manselinha" pelo sinônimo "amorosa", por exemplo, O timbre do termo empregado pelo poeta funciona como um talismã fonológico, quebrando a monotonia dos outros sons (de acordo com Armindo Trevisan). A versão não consegue preservar a magia do texto original, entre outras razões porque priva da oposição dos sons graves e agudos.
* Raymond Murray Schafer (Canadá, 1933), compositor, escritor, educador musical e ambientalista. É autor do livro A afinação do mundo.
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Em seguida, distribuo os seguintes textos para leitura:
"No livro A poética do devaneio, Gaston Bachelard afirma que um excesso de infância é o germe de um poema. Para ele, as imagens de infância realizadas por um poeta remetem a um núcleo de infância que permanece em nós, uma infância que, embora apareça como história toda vez que a contamos, só possui uma existência real quando a iluminamos em sua existência poética".
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XIX
(Manuel de Barros - O livro das ignorãças)
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O rio que fazia uma volta atrás de nossa casa era a
imagem de um vidro mole que fazia uma volta atrás
de casa.
Passou um homem depois e disse: Essa volta que o
rio faz por trás de sua casa se chama enseada.
Não era mais a imagem de uma cobra de vidro que
fazia uma volta atrás de casa.
Era uma enseada.
.
Acho que o nome empobrece a imagem.
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Para completar o 2º Passo, solicito que refaçam o conceito de poesia, fundamentando-se no pequeno estudo de Cantiga de amigo, em Bachelard e no poema de Manuel de Barros. Antes disso, porém, falo do que significa "entrar na toca do coelho", alusão ao livro/ filme Alice no País das Maravilhas.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

PRIMEIRA ATIVIDADE DA OFICINA

A primeira atividade da oficina que passei a coordenar no Centro Cultural de Santiago consiste na elaboração do conceito de poesia. (O verbo no presente infere a continuidade do processo conceptual.) O método foi o instituído por Sócrates nas ágoras atenienses: a maiêutica (a repetição de perguntas , induzindo o interlocutor na conceituação de algo).
O passo inicial é O QUE É POESIA?
...
Aqui suspendo o relato para propor aos visitantes que elaborem um conceito de poesia, o que deverá ser feito sem qualquer consulta. Amanhã ou depois, explico o segundo passo.

sábado, 4 de setembro de 2010

DO NADA?

O Zero Hora publica uma pequena matéria sobre o novo livro de Stephan Hawking, O Grande Desenho (ou projeto), em que o cientista afirma a não-participação de Deus na criação do Universo. Num livro publicado em 1988, Uma Breve História do Tempo (que li duas vezes), Hawking escrevera: "Se descobrirmos uma teoria completa, seria o triunfo máximo da razão humana - porque poderíamos conhecer a mente de Deus". Os criacionista apanharam essa ideia com as duas mãos, forjando-a como argumento de autoridade em favor de suas crenças.
Em razão da manchete do ZH ser sensacionalista e com erros, fui à procura de outra fonte da notícia e encontrei a mesma frase atribuída ao cientista que me deixou pensativo. Não imagino Hawking escrevendo isto: "Devido à existência de uma lei como a da gravidade, o Universo pode e vai criar a si mesmo do nada". Escreveu. Do nada?
Nas últimas décadas, até os cientistas não escapam do bombástico, do sensacionalismo que vive o resto, na medida que há uma nova orientação existencial, baseada no parecer (saída para aqueles que não conseguem nem ser nem ter).
Hawking deve ter empregado o termo "nada" como uma metáfora, equivalente a uma grande concentração de massa/ energia. Isso é newtonianamente necessário para que haja força gravitacional, que Einstein descreveu como uma consequência da estrutura geométrica do espaço-tempo. Aqui me deparo com um paradoxo: se a força gravitacional decorre da estrutura geométrica do tempo-espaço, por que dizem os estudiosos que o tempo passou a existir com a grande explosão?
Pela afirmação de Hawking, a gravidade é causa da origem deste universo.
Outra constatação do cientista: a existência de um exoplaneta em torno de uma estrela diferente do Sol, infere que essa estrutura se repete em todo o Universo, diminuindo a importância da Terra como local preparado por Deus para colocar o homem.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

TOCATA DA INDEPENDÊNCIA

A Fanfarra da 1ª Brigada de Cavalaria Mecanizada fará um concerto nesta sexta-feira, às 20 horas, no auditório do Colégio Medianeira. A entrada é franca, e o ingresso pode ser retirado na Seção de Comunicação Social do QG, ou no local do evento. O mestre Roger Hartwig promete o melhor repertório já executado sob sua regência. Um pouco melhor do apresentado em 2008, no Círculo Militar, por ocasião da 1ª Sinfonia de Outono. Carruagem de Fogo, Fantasma da Ópera, Cavalaria Rusticana, entre outras músicas poderão ser executadas. Até amanhã.