Um
espírito verdadeiramente crítico necessita colocar a si mesmo sob uma análise, com
isso a superar o vulgo em sua tendência de ver no outro e de transferir a ele os
defeitos próprios. Para ilustrar o conteúdo do expresso acima, cito a relação
entre mim e o partido Novo.
O
primeiro valor defendido pela organização política a que sou filiado é o das
liberdades individuais. Isto é extraordinário: “o governo não deve decidir por
nós questões que são importantes para o nosso destino”. Logo após o direito à
vida, penso desde muito que a liberdade é o mais importante. Liberdade com o
pressuposto da responsabilidade.
Uma
das bandeiras mais radicais do meu partido é a revogação do estatuto do
armamento. Não posso agitá-la nas esquinas, ou defendê-la em meu discurso, na
medida em que tenho uma posição definida quanto ao uso generalizado de armas em
nossa sociedade. Essa bandeira, todavia, não impediu minha filiação ao partido.
Outras são mais importantes.
Os
pais de nossos pais diziam que os homens tinham respeito uns pelos outros,
porque andavam armados naqueles idos. Esse arrazoado é insuficiente ao
determinar a causa do respeito. Esse predicado das inter-relações tinha
antecedentes socioculturais, valores outros, ou internalizados pela família, ou
impostos pelo estado.
Hoje
a vida é pontuada pela mudança contínua, não há um tempo que tenha uma caracterização bem definida. Os dotados de uma
visão mais observadora – entre os quais me incluo sem qualquer presunção – percebemos
que, em meio à incerteza, à indeterminação, ao medo, novas necessidades surgem
no lugar dos valores essenciais. O respeito de que se orgulhavam nossos avós
não se observa nestes dias (de crise moral que afeta sociedade e estado).
O
aumento da violência é um dado inquestionável, não obstante as pessoas andarem
desarmadas. A revogação do estatuto e a liberação do uso de armas por todos (em
razão do direito individual de cada um), todavia, não assegura a pacificação e
a harmonia sociais. Não bastasse a falta de respeito em todos os âmbitos, a
violência é potencializada pela droga (que se restringia ao álcool em tempos
avoengos).
A
distância entre o cidadão de bem e o criminoso diminui consideravelmente com a
existência da arma de fogo, com grande chance de o criminoso roubar a arma de
sua vítima. A oposição pode ocorrer entre dois cidadãos de bem, que, dominados
por uma pulsão faz de um ou outro um assassino em alguns segundos.
Entre
escolher a liberdade de o indivíduo consumir droga e a interferência do estado
para coibir o tráfico violento ao extremo, não tenho outra opção. A segurança
do todo não pode depender do direito da parte. (A propósito, por que não
medidas políticas sobre o consumidor inclusive?)
Dessa
forma, continuo a defender a liberdade, que deve ser exercida com restrições em
certos aspectos – como o considerado acima. Espero que este posicionamento não
provoque minha desfiliação sumária, mas que sirva de autocrítica para o partido
Novo.
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