Augusto Cury é,
provavelmente, o segundo autor brasileiro mais lido em âmbito nacional – atrás
de Paulo Coelho. Esse dado não pressupõe que haja muitos leitores no país, cujo
deficiente de leitura aumentou consideravelmente com a massificação de computadores
e celulares.
Do campeão de venda acima
citado, consegui chegar ao fim de O
alquimista, um livro muito aquém da crítica. Da extensa obra de Augusto
Cury, adquiri dois títulos: Inteligência
Multifocal e Ansiedade (como
enfrentar o mal do século). O primeiro fui obrigado a abandonar já nas
primeiras páginas, e o segundo leio apenas para destacar as passagens em que o
autor, não raro, expressa sua imodéstia ou seu blefe pseudocientífico.
Em cada página de seu livro
é possível destacar uma referência às próprias teorias, seja a da Inteligência
Multifocal, seja a da Síndrome do Pensamento Acelerado. Ele considera tal
síndrome como o “mal do século”, a despeito do século contar tão somente com 15
anos em sua primeira edição. Com frequência, para fazer valer suas ideias,
escreve que grandes pensadores e cientistas estão equivocados:
O processo de
construção de pensamentos e todas as suas implicações psicológicas e
sociológicas não foram estudados sistematicamente por brilhantes pensadores
como Freud, Jung, Roger, Skinner, Piaget, Vygotsky, Paulo Freire, Nietzsche,
Jean-Paul Sartre, Hegel, Kant, Descartes, entre outros (p. 31).
Líderes espirituais,
políticos, juristas, médicos comentem erros seriíssimos porque creem que o
pensamento é instrumento da verdade (p. 42).
Neurologistas,
psiquiatras, psicólogos e psicopedagogos, ao observar crianças e adolescentes
agitados, inquietos, com dificuldade de concentração e rebeldes a normas
sociais, chegam a diagnósticos errados, atribuindo tais comportamentos ao
transtorno de déficit de atenção ou hiperatividade, quando a grande maioria
desses pacientes é vítima da Síndrome do Pensamento Acelerado (p. 46).
O blefe pseudocientífico de
Cury consiste num misto de tautologia e paráfrase de ideias já existentes, como
nos excertos abaixo:
Tudo o que mais
detestamos ou rejeitamos será registrado com maior poder, formando janelas
traumáticas, que denomino killer (p. 31).
Estamos na era do
conhecimento, da democratização da informação, mas nunca produzimos tantos
repetidores de informações, em vez de pensadores (p. 33).
A construção de
pensamento não é unifocal, mas multifocal, não dependendo apenas da vontade
consciente, ou seja, do Eu, mas de fenômenos inconscientes (p. 35).
... o primeiro ato do
teatro psíquico ocorre em milésimos de segundo e não através da atuação do Eu,
mas através de dois atores inconscientes, o gatilho e as janelas da memória (p. 40).
Com
o objetivo específico de destacar outras passagens do livro, que justifiquem o
culto a si mesmo e os disparates de seu autor, continuarei a leitura de Ansiedade. Farei um esforço para chegar
à última página e reescrever este texto posteriormente. Não é pretensão
desmascarar o autor em pauta, coisa que outros mais capacitados não conseguiram
com uma crítica mais elaborada. Preocupa-me, todavia, a baixa qualidade da
leitura de meus compatriotas.
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