segunda-feira, 7 de abril de 2008

RINCÃO DOS MACHADO

O Rincão dos Machado não tinha essa denominação há trinta e poucos anos. Lembro-me de que escrevíamos Rincão dos Cervos II na primeira linha de nossos cadernos, ao datar as aulas da professora Delir. Rincão dos Cervos I situava-se onde hoje é o Rincão dos Panerai. A origem dos nomes primitivos remonta a um tempo em que tais localidades eram quase devolutas, cujo primeiro grande proprietário foi Paulino Pinto. Fermino Machado de Oliveira adquiriu cinco quadras de campo, limitadas pelo rio Rosário (N e O), por um dedo da serra (S) e pelos campos limpos (L). A 6 km (uma légua) da igreja de Bom Retiro, 15 da Florida, 2 do Passo da Cruz e 29 da cidade de Santiago. Meu avô fora registrado com os sobrenomes em posições trocadas que negavam a sociedade patriarcal. Como seu pai era (João José) Machado, ele deveria sobrenomear-se Oliveira Machado. A partir desse pequeno erro de registro, seus descendentes, filhos, netos, bisnetos, trisneto, todos passamos a assinar Oliveira. Atualmente, não há um único Machado no Rincão dos Machado. Pelo menos de (sobre)nome. De sangue, genealogicamente que sim. Meu trisavô, Laurindo Machado, foi um dos três irmãos que, retornando da Guerra do Paraguai, estabeleceram-se nos distantes rincões que formariam o 3º Distrito de Santiago. Os outros Machado, que engrossam a população do nosso município, vieram mais tarde. Já pensei muitas vezes em assinar Machado. Pelo menos literariamente. Ainda que não assine, tenho escrito coisas sobre o meu rincão, instado por um sentimento de telúrica saudade. O rincão da minha infância não existe mais, porque tudo muda, tudo passa. A arte da escrita me permite, no entanto, transformá-lo numa metáfora (que represente o melhor lugar da minha vida).

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