Os nossos ancestrais, primeiramente, criaram os mitos como uma forma de interpretar o mundo. Hoje, numa tentativa de recriar o mundo, culturalmente falando, interpretamos os mitos. O Cristianismo e a Psicanálise são representantes dessas duas formas de produzir cultura. No Gênesis, tudo é mitologia, “narrativa de significação simbólica”, alegórica. O presente texto tem como objetivo dar uma interpretação ao mito adâmico, mormente aos irmãos Caim e Abel. Um dos estudos que mais me fascinam é o da evolução humana. Dois feitos foram fundamentais para a sobrevivência da nossa espécie: a domesticação de animais e a prática agrícola. Tanto uma quanto outra passaram ao domínio do homem há dez mil anos (aproximadamente). Posso ver uma tribo primitiva cuidando de suas ovelhas nas encostas e terrenos elevados. Descendo ao vale, às margens dos rios, lagos e mares, vejo outra tribo trabalhando a terra. Essas duas tribos eram encontradas em diversos pontos do Oriente. Cedo ou tarde, essas tribos (famílias, povos...) acabariam se confrontando, ou por disputa de alimento para si e para seus rebanhos, ou para ampliar suas riquezas. Os pastores sempre levariam a pior, caso optassem pelo confronto. Como defesa, criaram um deus que os abençoasse para sempre. Mais tarde, algumas dessas tribos formaram pequenos reinos, como os de Israel e Judá (onde nasceu a Bíblia). Meu insight constitui em relacionar Abel com as tribos pastoras, e Caim com as tribos agrícolas. No Gênesis, 4. 2, está escrito: “Abel foi pastor de ovelhas, e Caim foi lavrador”. Mas essa escrita não pode ser interpretada ipsis litteris, como o fazia um pastor evangélico (seguro de que seu deus havia criado o homem falando perfeitamente, com o aspecto atual conforme publicações cristãs).
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(O texto acima é um resumo do publicado na revista A Hora e constitui a coluna do Expresso Ilustrado de 1º de fevereiro de 2008. O quadro acima foi pintado em 1620, por Simon Vouet e Pietro Novelli. )
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