sexta-feira, 29 de março de 2019

(I)MOBILIDADE URBANA


        


         A mobilidade urbana é definida pelo texto institucional (Lei nº 12.587, de 2012) como a “condição em que se realizam os deslocamentos de pessoas e cargas no espaço urbano”. Da vila à metrópole, as atividades econômicas e sociais crescem sem o devido controle gestor, via de regra, a gerar um problema de mobilidade.
         Em Curitiba, a exemplo de outras grandes cidades brasileiras, o aumento populacional ocorre acelerada e desordenadamente. Malgrado as melhorias urbanísticas realizadas nas últimas décadas, os problemas de mobilidade urbana começam a surgir em razão do aumento exponencial da frota de veículos automotores. De acordo com números do Detran (de dezembro de 2017), já circulam mais de dois milhões e trezentos mil veículos dentro da região metropolitana. A capital paranaense, conforme um ranking publicado na revista Exame em 2014, encima a relação de mais carros por habitante.
         Entre os problemas de mobilidade em Curitiba, o congestionamento de vias em determinados horários do dia é o mais preocupante, cuja solução não apresenta uma perspectiva de médio a longo prazo. As dificuldades impostas pela redução do espaço (quase inteiramente ocupado) passam a interferir no tempo que se é gasto (ou perdido) com o ir e vir.
         O tempo é dinheiro, preceituava a doutrina capitalista desde Benjamin Franklin. Em plena modernidade “líquida” (denominação de Zygmunt Bauman), tempo é vida. As horas que se perdem num congestionamento estão na contramão da fluidez, da liberdade e do consumo (do próprio ócio). A demora aumenta a pressa, e esta diminui a qualidade de vida.
         A despeito de toda a infraestrutura de mobilidade de Curitiba, os problemas surgem, mais facilmente observados por aqueles que vêm de fora (não condicionados pelo diferencial urbanístico da cidade). Ao aumento da frota veicular se somam algumas condutas mal-educadas dos condutores – responsáveis por atrasar ainda mais a mobilidade no trânsito. 

segunda-feira, 25 de março de 2019

CRONOS E KAIRÓS: O MENINO MESMO E OUTRO


Os outros meninos do rincão me chamavam de Gringo, em razão da cor clara da minha pele, olhos e cabelos. Nos momentos em que ralhavam comigo, o apelido racista vinha acompanhado de um adjetivo pouco lisonjeiro – não correspondente ao asseio que me era imposto pela mãe.
Ela procedia da serra, de uma família italiana, cujos pais e avós atravessaram o Atlântico de navio nas últimas décadas do século XIX. Anteriormente, o rincão era povoado apenas por “brasileiros”, de origem portuguesa. Minha mãe foi a primeira a romper com essa homogenia de “pelo duro”.
         O pejorativo com que fui tratado na infância, contudo, não me marcou negativamente (hoje caracterizado como bullying). A diferença, por outro lado, não se transformou em orgulho para mim. Um misto de ignorância e rigor com que todos vivíamos no rincão não nos permitia avançar para um estágio de maior sensibilidade (já em desenvolvimento nos centros urbanos).
         A educação severa dos pais me preparou para a vida, sem imprimir qualquer desajuste em minha personalidade. O respeito por eles continuou a crescer como uma forma (inconfessável) de amor, principalmente a partir de quando os deixei para estudar na cidade.
         O rincão mudou deveras, por conta da passagem inexorável de Cronos (o tempo sem retorno). Inobstante as mudanças por que passei, ainda me sinto muito bem toda vez que volto lá, onde reencontro meu pai, meu irmão, a casa, o lugar... Kairós (o tempo cíclico) me proporciona essa felicidade de ser o mesmo e ser outro. Menino e livre-pensador.