domingo, 29 de julho de 2007

A HORA DO LANCHE

Toda foto registra um momento único, que jamais se repetirá. Futuramente, é possível que eu, a Lígia e a professora Sandra sejamos fotografados pelo Júlio, mas o tempo será outro. O rio da vida será outro (repetindo o argumento de Heráclito). No dia mais frio deste ano, sábado, às 15:20 horas, fizemos um intervalo nas aulas do Pós para o momento do lanche. A Sandra sempre nos surpreendendo com seus bolos deliciosos.

ESTANTE ESPECIAL

Texto não lido não é texto como atestam os lingüistas. A leitura não basta. Texto bom é pretexto para uma resposta. A tua, caro visitante, será a indicação de um livro que possa ser incluído na Biblioteca ideal, numa estante exclusiva.

BIBLIOTECA IDEAL


Will Durant escreveu um capítulo em seu Os grandes pensadores: OS CEM MELHORES LIVROS PARA UMA EDUCAÇÃO. No Brasil, Otto Maria Carpeaux fez uma listagem dos cem títulos da literatura universal indispensáveis ao homem culto. Minha Biblioteca ideal é mais completa, uma vez que inclui livros filosóficos e científicos. Elaborada ao longo de trinta e poucos anos de leitura, não é definitiva. Títulos lhe são acrescidos continuamente. Espero estar dando uma grande contribuição à cultura com a idealização desta biblioteca.
Alguns livros relacionados se justificam pelo prazer da leitura, outros indicam
os autores que devem ser lidos (O som e a fúria, por exemplo, remete a William Faulkner, melhor romancista norte-americano).
Para facilitar a procura, reuni os livros em três estantes:
I - FICÇÃO (CONTO, NOVELA E ROMANCE)
- A cabana do Pai Thomás, Harriet Stowe

- Admirável mundo novo, Aldous Huxley
- Alice no País das Maravilhas, Lewis Carrol
- Almas mortas, Nicolau Gogol
- A paixão segundo G. H., Clarice Lispector
- A revolução dos bichos, George Orwell
- As aventuras de Sherlock Holmes, Conan Doyle
- Cândido, Voltaire
- Capitães de areia, Jorge Amado
- Cem anos de solidão, García Márquez
- Contos de fadas, H. C. Andersen
- Contos de Natal, Charles Dickens
- Decameron, Boccacio
- Dom Casmurro, Machado de Assis
- Don Quixote, Miguel de Cervantes
- Em busca do tempo perdido, Marcel Proust
- Fábulas, J. La Fontaine
- Fernão Capelo Gaivota, Richard Bach
- Ficções, J. L. Borges
- Gargântua e Pantagruel, F. Rabelais
- Grande sertão: veredas, João G. Rosas
- Guerra e paz, L. Tolstoi
- Madame Bovary, Gustave Flaubert
- Maira, Darcy Ribeiro
- Mar morto, Jorge Amado
- Meu pé de laranja lima, José Mauro de Vasconcelos
- Moby Dick, H. Melville
- O estrangeiro, Albert Camus
- O evangelho segundo Jesus Cristo, José Saramago
- O jogo da amarelinha, Julio Cortázar
- O lobo da estepe, Hermann Hesse
- O mundo de Sofia, Jostein Gaarder
- O Pequeno Príncipe, A. Saint-Exupery
- O processo, F. Kafka
- Orlando, Virgini Woolf
- O século das luzes, Alejo Carpentier
- O senhor das moscas, W. Golding
- Os irmãos Karamazov, F. Dostoievski
- O senhor das moscas, W Golding
- Os miseráveis, V. Hugo
- Os rios profundos, José María Arguedas
- O tempo e o vento, Erico Veríssimo
- O velho e o mar, E. Hemingway
- Quarup, Antônio Callado
- Robinson Crusué, Daniel Defoe
- Senhor prsidente, Miguel Angel Astúrias
- Tirano Banderas, Ramón del Valle-Inclán
- Tristan Shandy, Laurence Sterne
- Ulisses, James Joyce
- Viagens de Gulliver, J. Swift
- Vidas secas, Graciliano Ramos
- Vinte mil léguas submarinas, Júlio Verne

II - POESIA
- A boa canção, Verlaine
- Antologia poética, Manuel Bandeira
- Antologia poética, Mário Quintana
- Antologia poética, Pablo Neruda
- Árvore do mundo, Carlos Nejar
- As flores do mal, C. Baudelaire
- Canção de amor e morte, Rainer-Maria Rilke
- Canto de vida e esperança, Rúben Dário
- Cantos, Ezra Pound
- Cem sonetos de amor, Pablo Neruda
- Claro enigma, Carlos Drummond de Andrade
- Divina comédia, Dante
- Eneida, Virgilio
- Fausto, J.W. Goethe
- Folha das folhas de relva, Walt Witman
- Ilíada e Odisséia, Homero
- Iluminações, A. Rimbaud
- Livros dos cantos, H. Heine
- Manfredo, J.G. Byron
- Mensagem, Fernando Pessoa
- Morte e vida severina, João C. Melo Neto
- O corvo, Edgar A. Poe
- O paraíso perdido, J. Milton
- Os escravos, Castro Alves
- Os lusíadas, Luís de Camões
- Peças, Eurípedes
- Peças, Shakespeare
- Poemas, A. Tennyson
- Poemas, J. Keats
- Poemas, P. Shelley
- Poesias, Olavo Bilcac
- Quatro quartetos, T.S. Eliot
- Rubayyat, Omar Khayyan
- Sonetos, Vinícius de Moraes
- Toda lira, V. Hugo

III - FILOSOFIA, CIÊNCIA...
- A arte de amar, Erich Fromm
- A criação do mundo, George Gamov
- A estética, G.W. Hegel
- A evolução criativa, Henri Bergson
- A genealogia da moral, F. Nietzsche
- A mutação interior, J. Krishnamurti
- A necessidade da arte, Ernst Fischer
- A origem das espécies, Charles Darwin
- A psicologia inconsciente, C. Jung
- A república, Platão
- A riqueza das nações, Adam Smith
- As eras de Gaia, James Lovelock
- Assim falava Zaratustra, F. Nietzsche
- As veias abertas da América Latina, Eduardo Galeano
- Casa-Grande & Senzala, Gilberto Freire
- Civilização e pecado, Konrad Lorenz
- Conferências e escritos filosóficos, M. Heidegger
- Conheça-se a si mesmo, Karen Horney
- Contrato social, J.J. Rousseau
- Dicionário filosófico, Voltaire
- Educação e mudança, Paulo Freire
- Elogio da loucura, Erasmo de Roterdam
- Ensaios, Francis Baccon
- Ensaios, M. Montaigne
- Ética, B. Spinoza
- Ética a Nicômacos, Aristóteles
- Investigações acerca do entendimento humano, David Hume
- Misticismo e lógica, Beltrand Ruusel;
- Mito do eterno retorno, Mircea Eliade;
- O capital, K. Marx
- O choque do futuro, Alvin Toffler
- O cosmos, Alexandre Humboldt
- O discurso de método, R. Descartes
- O enigma do Universo, Ernst Hackel
- O existencialismo é um humanismo, J. Paul Sartre
- O gene egoísta, Richard Dawkins
- O homem esse desconhecido, Alexis Carrel
- O homem revoltado, Albert Camus
- O macaco nu, Desmond Morris
- O mundo assombrado pelos demônios, Carl Sagan
- O polegar do Panda, S. Jay Gould
- Os verdadeiros pensadores do nosso tempo, Guy Sorman
- O trauma do nascimento, Otto Ranck
- Para além do bem e do mal, F.Nietszche
- Pensamentos, B. Pascal
- Princípios da filosofia da História, J.B. Vico.
- Princípio da relatividade, A. Einstein
- Psicanálise da sociedade
Contemporânea, Erich Fromm
- Totem e tabu, S. Freud
- Uma breve história do tempo, Stephen Hawking

PEDIDO DE DESCULPA

Venho, publicamente, através deste canal, pedir desculpa aos leitores que não se sentiram bem diante dos tópicos abaixo, nos quais questiono certos aspectos do espiritismo.

NARCISISMO TERCIÁRIO

As pessoas se queixam muito do frio, embora as manhãs continuem azuis (com a graciosa animação dos pássaros). O inverno está com os dias contados. O mês de agosto se aproxima, com vento norte, tarde quente e céu encoberto de fumaça. Só não é mais desolador porque a Natureza reaje com as florações do cedo.
Em pleno janeiro, beirando os 40ºC, as mesmas pessoas (que se queixam nestes dias) queixar-se-ão do calor. São narcisistas terciários, não conseguindo efetivar uma relação de harmonia com a Natureza.

sábado, 28 de julho de 2007

RESSURREIÇÃO VERSUS REENCARNAÇÃO

A palestrante nos assegurou que o dogma da reencarnação foi suprimido do Novo Testamento 600 anos depois de Cristo por um papa qualquer. Segundo ela, o espiritismo não vai de encontro às religiões cristãs.
Quase lhe fiz esta pergunta: se é assim, o que está escrito em Hebreus, 9.27, que "aos homens está ordenado morrerem uma só vez e, depois disto, o juízo", constitui um equívoco de interpretação, uma fraude. Nesse versículo, encontra-se a essência da ressurreição, um dogma-base das religiões cristãs,
inequivocamente contrário à reencarnação.

ARGUMENTO FALACIOSO

Um dos argumentos que tentam provar racionalmente que existe uma ordem, um desígnio no plano dos espíritos para que ocorra a morte de muitas pessoas de diferentes idades, a um tempo e num mesmo lugar diz que determinado cidadão desistiu da viagem na última hora, concluindo que ele não estava entre aqueles que necessariamente logo seriam desencarnados.
Quantos vôos ocorrem no país diariamente? No mundo todo?
Quantos cidadãos deixam de viajar, trocam o horário do seu vôo, ou se atrasam?

A resposta a essas perguntas é a mesma: muitos.
Por que tais cidadãos não viram notícia?

MORTE COLETIVA

Hoje assisti a uma palestra sobre "morte coletiva". Para o espiritismo, plenamente explicável, plenamente justificável. Os mortos no avião da TAM deviam de encarnações passadas, provavelmente tendo juntos praticados um crime. Inclusive as crianças, bebezinhos. Na vida passada, foram assassinos que mataram crianças. O deus infinitamente justo racionalizado pela palestrante permite essa forma de "justiça" para a evolução espiritual de míseros humanos.

quinta-feira, 26 de julho de 2007

VII CONCURSO AURELIANO DE POESIA

A Comissão Julgadora do VII Concurso Aureliano de Poesia reuniu-se ontem, para selecionar os melhores trabalhos literários. Dos 120 poemas que foram enviados ao Centro Cultural de Santiago, foram escolhidos os seguintes:
1º Lugar: NA FEIRA DE ARTESANATO
Reginaldo Costa de Albuquerque (Campo Grande - MS);
2º Lugar: LIBERTAS
Júlia Parreira Zuza Andrade (Belo Horizonte - MG);
3º Lugar: MUNDARTE
Ludimar Gomes Molian (Praia Grande - SP).
Menção Honrosa:
- ARLEQUINADA - Reginaldo Costa de Albuquerque;
- UM VESTIDO DE SONETOS - Reginaldo Costa de Albuquerque;
- POEMA PARA AMÉLIA - Júlia Parreira Zuza Andrade;
- COLHEITAS - Maria A.S. Coquemala (Itararé - SP).

ESCÓLIO

Certo dia, pensando na definição de tempo em Platão*, escrevi este verso decassílabo:
O tempo arrasta mil vagões por hora.
A relação com uma das melhores alegorias acerca da vida me ocorreu de forma imediata, num insight. O tempo e a vida identificam-se na imagem do trem. O tempo é a locomotiva e os vagões. A vida, os passageiros. Essa imagem resolve filosoficamente a questão dicotômica de se saber quem ou o que passa: nós ou o tempo. Gostei muito do verso acima. Mais tarde, resolvi escrever o restante do soneto, isto é, os outros treze versos. Destes, apenas um outro quase alcançou o nível de acabamento formal e conteudístico do primeiro: o último. Assim, tenho reescrito Inviso trem há doze anos.

* O tempo é a imagem móvel da eternidade.

quarta-feira, 25 de julho de 2007

INVISO TREM

O tempo arrasta mil vagões por hora,
num tique-taque que de longe vem
tomando os túneis que minh'alma tem,
para levar um pouco dela embora.

A pressa a tudo toca, sem demora,
meu corpo não escapará também,
atropelado pelo inviso trem,
que o arrojará um dia noite afora.

Irresoluto, encontro-me perdido,
à espera do que já passou por mim,
no vácuo do meu sonho não vivido.

Os olhos fitos no horizonte (à frente),
uma ilusão que só posterga o fim
e o tempo - eterno maquinar presente.

terça-feira, 24 de julho de 2007

CONCURSO AURELIANO DE POESIA

Dois anos depois do meu retorno a Santiago, expressei a idéia de criar um concurso de poesia na Terra dos Poetas. Duas senhoras, Enadir Vielmo e Dirce Brum, presidenta do Centro Cultural e diretora do Departamento de Literatura dessa entidade, respectivamente, ouviram-me com interesse. O concurso foi incluído na extensa programação de 1998, em homenagem ao centenário do nascimento de Aureliano de Figueiredo Pinto. A primeira edição do concurso teve como ganhadores Clodinei Machado (1º lugar), Hegel Silveira (2º) e Fortunato S. Oliveira (3º). Este ano, há muitos trabalhos inscritos. A comissão julgadora, formada por Lise Fank, Valdir Amaral Pinto e Eleni Bittencourt, reunir-se-á para a escolha dos melhores poemas na quinta-feira, dia 26, às 18:30 horas, no Centro Cultural. Os trabalhos escolhidos serão publicados no jornal literário Letras Santiaguenses. A solenidade de premiação está marcada para o dia 17 de agosto de 2007, diante da galeria de escritores. Mais informações sobre o VII Concurso Aureliano de Poesia serão postadas neste blog.

ALEGORIA DA CAVERNA (esboço para a coluna do Expresso Ilustrado)

A República é uma das melhores obras produzidas em todos os tempos, não obstante os vinte e quatro séculos que nos separam de Platão – filósofo grego que exerceria uma influência ainda não exaurida sobre a civilização ocidental. O livro traz um diálogo entre os personagens Sócrates e Glauco. Como ilustração da diferença que há entre a ignorância e o conhecimento (ou instrução), Sócrates pede para seu interlocutor imaginar homens morando dentro de uma caverna. Eles se encontram acorrentados, forçados a ver somente sombras na parede do fundo da caverna. Não sabem que, às suas costas, há uma estrada por onde passam outros homens transportando objetos. Projetadas por uma fogueira, tais sombras são vistas como reais. O que acontece, pergunta Sócrates, se um dos prisioneiros é libertado de sua ignorância. A luz fora da caverna o ofuscará por um instante, impedindo-o de ver as coisas como realmente são (não a sombra delas). Ao lembrar da primeira morada, lamentará por aqueles que continuam a viver no cativeiro. Se ele voltar à caverna, além de ficar com os olhos cegos pelas trevas, conseguirá convencer os demais de que a realidade é outra? Ao longo da Idade Média, as sombras mais definidas significavam o preconceito, a superstição e o dogmatismo religiosos. Aqueles que se libertavam dos grilhões da Igreja, iluminados por idéias filosóficas ou científicas, eram queimados em praça pública. Hoje, sob muitos aspectos, a maioria dos homens continua a viver dentro de uma caverna, mantida nas correntes pelo Estado todo poderoso. A educação proporcionada por este não consegue conduzir à liberdade (onde refulge a luz do saber). Pudera! Um Estado corrompido pelos próprios políticos que o constituem, bem diferente do que idealizara Platão.

domingo, 22 de julho de 2007

DEUS

um big bang


ocorre a cada batida


do coração
de deus




um quantum de sua energia infinita

é liberado

a cada explosão


estelar








toda matéria iluminada
e escura
constitui seu corpo
em eterno movimento


o universo
é







visto por dentro


AUTO-RETRATO

Todos os domingos, na capa do caderno DonnaZH, vem sendo publicada uma entrevista rápida com personalidades de destaque no meio artístico e cultural. Respondo as 20 perguntas a seguir, como se fosse o entrevistado. Caro leitor, repito que ainda me encontro numa fase autodescritiva. Portanto, não deves me classificar com egolátrico.
1) Qual a sua lembrança de infância mais remota?
Minhas irmãs e eu olhando a neve cair sobre os moirões, enquanto a mãe fritava bolinhos no meio da tarde.
2) Qual seu maior ídolo na adolescência?
Não tive ídolos, mas Natal, um amigo negro que me ensinou a doçura.
3) Onde você passou as suas férias inesquecíveis?
Na casa de meus pais, depois de um ano distante.
4) Qual a sua idéia de um domingo perfeito?
Em torno de um churrasco, no Rincão dos Machado (com o pai, irmãos, sobrinhos, vizinhos e amigos).
5) O que você faz para espantar a tristeza?
Bebo vodka.com
6) Que som acalma você?
Uma cachoeira, os pássaros, Beethoven e the sound of silence.
7) O que dispara seu lado consumista?
Livros.
8) Qual a palavra mais bonita da língua portuguesa?
Epifania (no sentido de manifestação ou percepção da natureza ou do significado essencial de uma coisa poética).
9) Que livro(s) você mais cita?
Cem anos de solidão (García Márquez), Assim falava Zaratustra (F. Nietzsche), Fernão Capelo Gaivota (Richard Bach).
10) Que filme você sempre quer rever?
Uma mente brilhante.
11) Que música não sai da sua cabeça?
Viagem, interpretada por Marisa Gata Mansa.
12) Um gosto inusitado.
Pimenta picada no prato.
13) Um hábito de que você não abre mão.
Ler.
14) Um hábito de que você quer se livrar.
Ser pontual (com pessoas sempre atrasadas).
15) Um elogio inesquecível.
"Você é uma pessoa doce", feito por diversos interlocutores em tempo e lugar diferentes.
16) Em que situação vale a pena mentir?
Quando o efeito da verdade é mais nefasto.
17) Em que situação perde a elegância?
Diante da teimosia e da petulância.
18) Em que outra profissão consegue se imaginar?
Fotógrafo.
19) O que você estará fazendo daqui a 10 anos?
Lendo e escrevendo.
20) Eu sou...
Semeador de trigo.

sábado, 21 de julho de 2007

MEDO DE AVIÃO

Nunca andei de avião. Não, nunca andarei de avião. Tampouco de helicóptero, planador, asa-delta e quejandos. (A última palavra significa "que ou o que é da mesma natureza, semelhante", segundo o grande Houaiss.) Por que "nunca andarei de avião"? Tenho medo de altura. Meu único medo. Instintivo, racional. Definitivo, inexorável. Tenho medo de altura desde antes de nascer. A lembrança de um fato intra-uterino resistiu ao trauma do nascimento, negando a teoria de Otto Rank. Segundo relatos da época, parece que eu me negava a deixar o paraíso onde fui gerado. Minha mãe sofreu muito por ocasião do parto. Como último recurso, jogavam-na para cima. Nasci em plena queda. Desde então, basta me encontrar a um metro do chão para me apavorar mesmo. Meus pesadelos repetidos: cair de uma altura perigosa. Ainda bem que sempre acordo antes de me esborrachar no chão. Defesa inconsciente contra o mal. Ao longo de dez meses de um curso que fiz no Rio de Janeiro, em 1984, nunca tive coragem de ir ao Pão-de Açúcar. Três anos depois, retornando à capital carioca, resolvi fazer o passeio. Dentro do bondinho, a mais de 500 m de altura, cofesso que senti o maior medo da minha vida. Outra vez, em Poços de Caldas, dentro de um teleférico... O pavor é tanto que me errepio com a possibilidade de ocorrer um acidente no momento em que eu esteja no alto. Não acho natural que as pessoas andem tanto de avião sem sentir medo na decolagem, durante as turbulências, ou na terrissagem. Nos instantes que permeiam a percepção da queda, duvido se alguém que, vitimado pelo medo de andar de avião, não diga a frase derradeira: eu já sabia que isso aconteceria comigo. Pois bem, o medo me protege de ser essa pessoa um dia. Como fazer uma viagem intercontinental? De navio, obviamente. Nenhum medo da água. Em dois anos, subi e desci o rio Paraguai de "voadeira". À noite, sozinho. Na popa da lancha, fiz proeza que apenas os piloteiros mais loucos se arriscavam nos confins do Pantanal. De navio, sim. De avião, não, João.

sexta-feira, 20 de julho de 2007

FERNANDO DELAVY

A nova disciplina do curso de Pós-Graduação, Metodologia da Pesquisa, é orientada pelo professor Fernando Delavy. O homem fala muito bem. A filosofia acaba sendo a tônica de suas aulas (aspecto que agrada a mim e ao Júlio). Heidegger e Peter Singer foram citados mais de uma vez. A aparente distância entre os dois filósofos se justifica na discussão de assuntos
que acabam se relacionando, como autenticidade e ética.
A Lígia fez uma homenagem aos colegas, neste Dia Internacional do Amigo. Um lindo discurso em defesa da sensibilidade, do afeto. Quando o cafezinho acaba,
a URI se transforma numa câmara fria. Hasta mañana.

AMIGO (É) PARA SEMPRE

A amizade é o sentimento que mais aproxima as pessoas, sem a romantização fantasiosa do amor. Embora a Psicanálise a tenha definido como “o amor inibido no seu objetivo”, difere deste por um acréscimo de “excelência moral”, de caráter (segundo Aristóteles). Afora consangüinidade, leis e interesses, ela consiste no amálgama do grupo formado por indivíduos livres. Entre caçadores pré-históricos, nenhum outro tipo de relação deixaria antever o advento da civilização. Entre orkuteiros do século XXI, constitui o motivo que sustenta a formação da “comunidade virtual”. A propósito, a Internet propicia um “reencontro” entre pessoas afins, separadas pela distância espaço-temporal. Não raras vezes, separações havidas por contingências externas, inexoráveis. No MSN, a retomada do diálogo é feita com a imagem dos interlocutores em tempo real (através da webcan). A tecnologia, depois de provocar um distanciamento nas relações afetivas, agora as reforça. Dessas relações, a amizade transcende a distância e o amor se definha sem o face to face, o contato físico. Nova amizade não substitui a amizade distante, soma-se a esta. O amor distante, geralmente, é trocado por um novo amor. O amor passa (como um temporal), a amizade permanece (céu limpo). Entre os filósofos gregos, coincidentemente, a afeição que nobilitava era a amizade e a cor preferida, o azul-claro. Neste Dia Internacional da Amizade, lembremo-nos de um(a) amigo(a) que está longe, retomando o contato com ele(a). Encontremo-nos com quem está próximo, abraçando-o, convidando-o para uma garrafa de vinho, para um churrasco no fim de semana. Enfim, vivamos a amizade.

quinta-feira, 19 de julho de 2007

CICLO


a cada flor
dada
uma pedra
*****da

a cada pedra
uma palavra
*****dada

a cada
palavra
medra
*****uma flor

a cada
pedra
*****da

AULÃO NO SINAPSE

A Brisabel, coordenadora do cursinho, insistiu para que eu participasse do aulão, ainda que não houvesse preparado uma revisão no Power Point. Por que no Power Point? Não percebemos, os professores, o excesso de imagens visuais utilizadas, impondo um ritmo de informações (nem sempre coerentes entre si) que não permite um tempo para a reflexão, para o questionamento. Ainda não sabemos acerca da dominante sensorial de cada um dos alunos, por isso apelamos para os olhos, é mais cômodo, prende mais a atenção. Somos, pedagogicamente, arautos do sensasionalismo que condenamos na grande mídia. Hoje a sala de aula é um lugar onde se apagam as luzes, para entrar em cena o profeshow. Ao longo de duas horas, acompanhei meus colegas. Espanhol, Inglês, Filosofia, Biologia, Química, História... O aquecimento global constituiu-se na temática recorrente. Desisti de falar sobre os gêneros textuais, principalmente os literários (conto, novela, romance...). Como escreve o Veríssimo: poesia numa hora dessas! Ainda tentei conversar com algumas alunas. Deise, Rebeca, Jéssica, Marília, Príncili, Tayane, Maiara... meninas adoráveis. Mesmo assim não consegui me animar. Voltei pra casa, pensando, pensando...

SOBRE O ACIDENTE

Leitor, não sou nenhum alienado. Embora eu esteja numa fase autodescritiva, inicial, continuo ligado ao mundo exterior, vendo, lendo e meditando sobre seus principais fatos. O que pode te parecer uma fuga, defino como "um tempo" para a reflexão. A mídia condiciona, aterroriza com o trágico factual. Meu silêncio, de certa forma, constitui o contraponto. Sobre o acidente com o avião da TAM, mesmo optando por ficar alheio às notícias, acabei enredado por elas. Respeito a dor daquelas pessoas que perderam alguém nesse acidente. A morte é incompreensivelmente absurda, diante da qual a avaliação supersticiosa de que "era a hora" torna ridículo o absurdo.

quarta-feira, 18 de julho de 2007

HEDONISTAS INCORRIGÍVEIS

Nietzsche se autoclassificava como hiperbóreo (que se relaciona com o extremo norte do planeta, próprio das regiões frias). Ao longo dos doze anos que vivi fora do Rio Grande do Sul, provocava meus colegas dos outros estados, classificando-me como austral (vindo do extremo sul, do frio). Dessa forma, incluo-me entre as pouquíssimas pessoas que preferem o inverno ao verão. Pode fazer 0ºC, não reclamo. Os 40ºC, em contrapartida, causam-me um mal-estar indesejável. Muitos dos que gostam do calor se queixam diante de uma simples viração. Nos tórridos dias de janeiro e fevereiro, no entanto, queixam-se do calor. São hedonistas incorrigíveis. Não conseguem estabelecer um referencial fora de suas vontades, de seus egos condicionados pelas sensações mais primárias.
O inverno é melhor para trabalhar, comer, estudar e dormir.
O verão, para vadiar (praia e cerveja).

terça-feira, 17 de julho de 2007

AULAS DE LITERATURA

Todas as terças-feiras dou quatro aulas no Sinapse. Duas para o PEIES I e duas para o PRÉ-VESTIBULAR. Não poderia ser mais feliz ao reunir minha paixão pela Literatura, o ato de ensinar e o contato com essa linda juventude.

segunda-feira, 16 de julho de 2007

DE GILBERTO MONTEIRO A BEETHOVEN

Já relacionei os melhores livros da minha estante, os filmes cinco estrelas, algumas idéias filosóficas... Agora revelo o que mais coloco para ouvir: Yamandú, Gilberto Monteiro, Beethoven e Dire Straits. Violão, gaita ponto, erudita e rock, respectivamente. Não me envergonho dessa diversidade. Nenhuma música toca mais profundamente minha alma que a Sonata em Dó Menor, ou simplesmente Patética, de L.V.Beethoven. Nenhuma me faz recordar de bailes inesquecíveis que um chamamé executado pelos dois virtuoses do nativismo gaúcho: Yamandú Costa e Gilberto Monteiro (santiaguense). Para ser coerente, há quatro horas ouço The Best Of Dire Straits. No final do CD, All The Roadrunning é interpretada por Marck Knopfler e Emmylou Harris, num dueto fantástico.

BLOGUE INTERATIVO

Cada postagem feita neste blogue constitui um enunciado, um pensamento,
uma idéia que comunico através de palavras. A intenção comunicativa está explícita
no verbo usado, cuja transitividade indireta requer uma outra pessoa que participe do processo.
Meu enunciado é importante, mas se perde no grande vazio sem alguém que o leia com
uma atitude responsiva ativa, isto é, que pense algo (1º passo), que escreva algo (2º passo)
ou publique algo (3º passo). A partir do ponto final desta postagem, deixo de ser o sujeito
do diálogo que pretendo estabelecer com você, leitor. Na aceitação da minha proposta,
assume responsivamente a condição de novo sujeito, capaz de formular o seu enunciado.
Como você fará isso?
Basta um click em COMENTÁRIOS, escrever suas considerações (sem se preocupar com a
extensão ou profundidade) e pressionar em PUBLICAR O SEU COMENTÁRIO. Com essa
atitude, o diálogo tem continuidade, alternando o sujeito outra vez.
Minha proposta é criar um blogue interativo, com o seu enunciado (comentário)
transformado em postagem.
Vamos tentar?

domingo, 15 de julho de 2007

DOMINGO AZUL

Um vento austral arrancou gemidos dos eucaliptos noite passada. Aqui dentro, meu coração batia mais forte para se sobrepor à umidade da casa. Mas isso não passa de lembranças, sensações agora textualizadas. Abro a janela deste quarto, para que o sol nascente traga a alvissareira certeza de um novo dia. O domingo se apresenta de dourado e azul.
Infelizmente não poderei passear por entre flores, preciso elaborar duas aulas sobre o Parnasianismo e escrever a coluna para a próxima edição do Expresso. Como sexta-feira que vem é o Dia Internacional da Amizade, já escolhi o tema do meu texto. Para mim, a amizade é o sentimento que mais aproxima pessoas livres, sem a romantização ou a fantasialidade do amor.
Ela constitui o amálgama do grupo social (seja ele formado por caçadores pré-históricos, ou por orkuteiros do século XXI). Discordo da definição freudiana de que "a amizade é o amor inibido no seu objetivo". Daqui a pouco, devo fazer algumas reflexões ao produzir o texto. Por enquanto, tenho os olhos nesta postagem, iluminados pelo sol que se eleva sobre o telhado da casa vizinha.
Nenhum vento concorre com o canto dos pássaros.

sábado, 14 de julho de 2007

OUTRO CAMINHO

O contraponto da razão
(muito bem representada pelas idéias abaixo)
é o coração.
Um coração que subverte a ordem natural:
metamorfoseia-se em nuvem.

ANJOS E DEMÔNIOS

"Sou uma pessoa que tem anjos e demônios; se mandar meus demônios embora, meus anjos irão também." Ainda não encontrei essa frase em Albert Camus, como citara uma atriz
há muito anos. Minha dúvida, no entanto, não diminui o encanto de sua verdade.

O LOBO DA ESTEPE

Em O LOBO DA ESTEPE, de Hermann Hesse, é transcrita a seguinte frase de Novalis: "A maioria dos homens não quer nadar antes que o possa fazer". Hesse continua: "Não é engraçado? Naturalmente, não querem nadar. Nasceram para andar na terra e não para a água. E, naturalmente, não querem pensar: foram criados para viver e não para pensar! Isto mesmo! E quem pensa, quem faz do pensamento sua principal atividade, pode chegar muito longe com isso, mas, sem dúvida estará confundindo a terra com a água e um dia morrerá afogado".
Não acredito na conclusão desse enunciado. Ele seria mais verdadeiro com a reescritura:
E quem pensa, quem faz do pensamento sua principal atividade, pode chegar muito longe com isso, sempre correndo o risco de morrer afogado.

MEA CULPA

A crítica que faço também tem seu contraponto: a autocrítica.
Desde ontem, estou para expressar um certo desconforto com relação à minha última postagem. O texto saiu publicado na última edição da revista A HORA. Pesado demais para um blog recém-criado, o qual deve procurar a leveza (aproveitando a dicotomia criada por Milan Kundera, romancista tcheco). Para que dificultar a ocasional estada do visitante?

quinta-feira, 12 de julho de 2007

RISO TRÁGICO

Clément Rosset pergunta e responde em Lógica do pior "o que há em comum aos Sofistas, a Lucrécio, a Pascal e a Nietzsche, é que o discurso segundo o pior é reconhecido de saída como o discurso necesário". Tais pensadores seriam "terroristas", lógicos do pior, trágicos.
Pensando na questão do aquecimento global, tão badalada pela média que já causa enfado a muita gente, reconheço-me um terrorista (gostei da palavra). Não me limito a textualizar um profundo pessimismo, mas de pensar o pior, o caos revertendo a ordem do mundo.
Não se trata mais de questionar se o homem conseguirá uma solução para os problemas ambientais que ameaçam sua própria sobrevivência. Meu riso trágico começa por observar os chamados ecologistas, otimistas que ainda crêem na perenidade humana. Eles negam o acaso da vida, cegos para o espaço em que habitam e para o tempo que os circunda nesse espaço. Todos os esforços para preservar Gaia são resíveis, uma vez que se fundamentam na ordem preexistente (já atingida pela entropia).
Toda a história da nossa espécie, dos primeiros indivíduos que a caracterizaram geneticamente aos últimos, cobrirá alguns milhões de anos. Dos grndes animais que povoaram o planeta, o homem é, certamente, um dos mais efêmeros. Não obstante sua inteligência, não tem noção correta do tempo que demorou a surgir como existente (em torno de 4,5 bilhões de anos), tampouco consegue imaginar o tempo em que a Terra ainda circulará o Sol sem ele (mais 4,5 bilhões de anos). Por isso a cegueira.
O Sol funde Hidrogênio por enquanto, numa fase denominada de "seqüência principal", mas o acúmulo de Hélio em seu núcleo levará a fundir esse elemento, acelerando as reações nucleares das outras camadas. Isto significa dizer que a estrela produzirá energia suficiente para incandescer os planetas mais próximos. Inclusive a Terra - já sem vida. Não restará o menor resquício orgânico sobre o nosso planeta.
Não são apenas os ecologistas de hoje os causadores do meu riso trágico, mas todos os teístas que inverteram o sentido de sua criação, transformando-a no criador. Onde se justificará a crença num deus ou na apoteose humana ao longo dos bilhões de anos em que a Terra há de girar sem vida? A sobrevivência do espírito, a grande fantasia, só aumenta minha vontade de rir.
Sim, rio de todos os espiriualistas, criaturas que acreditam na (auto)divinização.
Por dois bilhões de anos a Terra girará sem vida. Em que plano esses espíritos viverão as esperiências sensíveis, indispensáveis para sua evolução?
Meu riso é línguagem não verbal do discurso terrorista. Discurso necessário.

DUPLA FINALIDADE

A Filosofia serve para compelir, algumas vezes, o próprio conhecimento no sentido de desmistificar sua infalibilidade. O ato de filosofar não apenas constitui a argamassa que
levanta monumentos ideológicos, mas também o martelo da desconstrução.
Por isso, sou nietzschiano.

LIVROS E LIVROS

Melhores livros que li: Cem anos de solidão (García Márquez), O som e a fúria (William Faulkner), Orlando (Virginia Woolf), Grandes Sertões: vereda (J.G.Rosas), A paixão segundo G. H. (Clarice Lispector), O velho e o mar (Ernest Hemingway), O ovo apunhalado (Caio Abreu), Fernão Capelo Gaivota (Richard Bach), Don Quixote (Miguel de Cervantes), A insustentável leveza do ser (Milan Kundera), Assim falava Zaratustra (F. Nietzsche), Dicionário filosófico (Voltaire), Os grandes pensadores (Will Durant), Nietzsche e a filosofia (Gilles Deleuze), O macaco nu (Desmond Morris), O gene egoísta (Richard Dawkins), O polegar do panda (Stephan Jay Gould), Por que não sou cristão? (Bertrand Russel), A essência do cristianismo (L. Feuerbach), Psicanálise da sociedade contemporânea (Erich Fromm), Os verdadeiros pensadores do nosso tempo (Guy Sorman), A necessidade da arte (Ernst Fischer), Auto-engano (Eduardo Giannetti), A educação e o significado da vida (J. Krishnamurti), Uma breve história do tempo (Stephen Hawking), As eras de Gaia (James Lovelock)...
O mais importante livro que li (mais importante da história humana): A origem das espécies (Charles Darwin).
Quanto à poesia, prefiro citar o autor (pelo conjunto): Pablo Neruda, Fernando Pessoa, Carlos Drummond de Andrade, Mário Quintana, J.C. Melo Neto, Paulo Leminski, Carlos Nejar...
As reticências me salvam de possíveis esquecimentos.

CINCO ESTRELAS

Antes de preencher meu perfil, adianto alguns dados como a-pre-sentação deste blogueiro.
Quais os filmes que mais gostei: Antes que termine o dia, Pear Harbor, O pianista, A vida é bela, Uma mente brilhante, Voando para casa, O sexto sentido, O carteiro e o poeta, Tomates verdes frito, O silêncio dos inocentes, Império do sol, Sociedade dos poetas mortos, O nome da rosa, Sete homens e um destino, Asas da liberdade, O pescador de ilusões... todos cinco estrelas.

LEITOR APAIXONADO

Você que visita meu blog, não deixa de tecer um comentário (com pontinhos miúdos). Há de estranhar que falo muito em livros, idéias e quejandos. Onde está o "contraponto"? Tomando como referencial minha coluna da edição passada do Expresso, Média zero, quando fui extremamente irônico, falar de leitura é o mesmo que contrapontear.
Sou um leitor apaixonado. Filosofia, Poesia, Astronomia, História (Natural e Quadrinhos), Psicologia, Antropologia, Genética, tudo leio. Neste ponto, sou obrigado a citar J.L.Borges:
"Que otros se jacten de las páginas que han escrito; a mi me enorgullecen las que he leído".

SISTEMA DE COTAS

Uma expectativa toma conta de mim todas as quintas-feiras: o que os leitores do Expresso pensarão ao ler minha coluna amanhã. Pois bem, hoje mais do que nunca, espero que entendam minha opinião sobre o sistema de cotas no concurso vestibular. Contrapontear é ir de encontro ao senso comum.

SUICÍDIO

A revista Filosofia, nº 11, traz como destaque de capa o suicídio (discutido por Platão, Hume e Camus). O artigo começa com a citação do conhecido argumento de Albert Camus, expresso em seu O mito de Sísifo: "Só há um problema filosófico verdadeiramente sério: o suicídio. Julgar se a vida merece ou não ser vivida é responder a uma questão fundamental da Filosofia. De resto, se o mundo tem três dimensões, se o espírito tem nove ou doze categorias, vem em seguida".
Entre as considerações dos pensadores, o artigo transcreve trechos da última carta deixada pela escritora inglesa Virginia Woolf, antes de provoar o suicídio ao entrar num rio com pedras nos bolsos. Outros suicídios são citados: Ernest Hemingway (grande romancisa norte-americano), Paul Lafargue (autor de O direito ao ócio), Kurt Cobain (líder da banda Nirvana).
Há recortes de estudos recentes sobre o assunto, como o do suicídio-espetáculo.
Fernando Pessoa escreveu:
Súbita, uma angústia...
Ah, que angústia, que náusea do estômago á alma!
Que amigos que tenho tido!
Que vazias de tudo as cidades que tenho percorrido!
Que esterco metafísico os meus propósitos todos!
Uma angústia,
Uma desconsolação da epiderme da alma,
Um deixar cair os braços ao sol-pôr do esforço...
Renego.
Renego tudo.
Renego mais do que tudo.
Renego a gládio e fim todos os deuses e a negação deles.
Mas o que é que me falta, que o sinto faltar-me no estômago
e na circulação do sangue?
Que atordoamento vazio me esfalfa no cérebro?
Devo tomar qualquer coisa ou suicidar-me?
Não: vou existir. Arre! Vou existir.
E-xis- tir...
E--xis--tir...

NIETZSCHE

Na minha primeira postagem, citei Nietzsche. Para não parecer um blefador, relaciono abaixo os livros do (e sobre o) filósofo que releio com freqüência, dispostos no espaço mais acessível da minha estante. Entre parêntesis, quantifico as vezes que li a obra citada.
- A origem da tragédia (3);
- A gaia ciência (4);
- Assim falava Zaratustra (3);
- Para além de bem e mal (3);
- A genealogia da moral (3);
- Humano, demasiado humano (1);
- O livro do filósofo (1);
- Crepúsculo dos ídolos (2);
- O viandante e sua sombra (1);
- O anticristo (4);
- Aurora (3);
- Correspondência com Wagner (1);
- A minha irmão e eu (1);
- Ecco homo (2);
- Vontade de potência (2);
- Nietzsche e a filosofia (3);
- Nietzsche - Os pensadores (1);
- Nietzsche em suas obras (1);
- Nietzsche - Filósofo da cultura (1);
- Nietzsche - Deuses malditos (1);
- Por que Nietzsche? (1);
- Nietzsche contra Darwin (1);
- Compreender Nietzsche (1);
- Nietzsche e a mania da razão (1);
- A morte dos deuses - Vida e afetividade em Nietzsche (2);
- Por que não somos nietzschianos (1);
- Quando Nietzsche chorou (1)
- A filosofia de Nietzsche (1)

quarta-feira, 11 de julho de 2007

A GAFE

Ziraldo, um dos mais famosos cartunistas brasileiros, disse que “A Internet é o antro do débil mental”. Segundo ele, o usuário da Rede é um babaca, um imbecil. As justificativas para tanta depreciação foram mínimas, insuficientes: o hábito de darmos CD, DVD e celular, ao invés de livro, e a comunicação em linguagem cifrada dos internautas. Num país em que o próprio presidente é acostumado a cometer gafes, devemos desculpar o artista. Sua genialidade na criação gráfica não se verifica com as palavras. “Antro” e “débil mental” pertencem a frames distintos, a realidades incompatíveis.

APOCALYPTO

O filme Apocalypto, dirigido por Mel Gibson, me levou à seguinte avaliação: todo povo que fez sacrifício humano para agradar a um deus, numa justa medida, mereceu a dominação e o extermínio.
Nesta postagem de estréia, de cara, esclareço o motivo que me levou a entrar para o seleto grupo de bloqueiros (seguindo o exemplo do Márcio Brasil, do Júlio Prates, Vivian Dias, entre outros). Ato contínuo, justifico o título do meu blog, fechando com algumas considerações necessárias.
A profusão de textos disponíveis na Rede é algo que me faz pensar se vale a pena mais um enunciador, senão para denunciar uma nova babel em construção. Minha voz não reforçará a algaravia já entreouvida, pelo contrário, será a um tempo tonitruante e doce. O estilo do meu enunciado, salvo alguns deslizes poéticos, constituir-se-á na própria razão do contraponto,
isto é, a negação.
O filósofo que mais leio. F. Nietzsche, que maior influência exerceu no século XX, destila sua sabedoria em aforismos. Antes de ser acusado de pernóstico, cito o diretor do Expresso Ilustrado, João Lemes, com quem aprendo a dizer o essencial e p(r)onto.
Assim, minhas postagens serão breves. Figo pingo de mel, às vezes. Às vezes, malagueta (como gosto dessa pimentinha vermelha!).