sábado, 31 de maio de 2008

CONTRA AS COTAS

Antes de concluir a postagem abaixo, ouvi o Luciano Huck anunciar a final do Soletrando 2008 (torneio de Língua Portuguesa para estudantes brasileiros). Fui para frente da televisão, quando os três finalistas eram apresentados: Amanda Costa, do Rio de Janeiro; Thafne Souza, Paraná; e Eder Coimbra, Minas Gerais. A seleção iniciou-se num universo de quinhentos mil alunos de todo o Brasil. Na quarta rodada na final deste domingo, Amanda errou a palavra "onisciência", esquecendo-se de soletrar o "s". A disputa continuou até a nona rodada, momento em que Thafne não soube soletrar "hageológio", traída pela falta de som do "h". Eder venceu a disputa, ao acertar "psicroestesia" (sensação de frio). O menino de 14 anos ganhou uma bolsa de cem mil reais, troféu "Machado de Assis" e um fardão inspirado na Academia Brasileira de Letras.
(A relação das palavras perguntadas foi a seguinte: excelso, aquiescência, apoplexia, energúmeno, glóbulo, audiovisual, oniscência, hodierno, intramuscular, ocioso, destilação, hermético, inabitável, glossário, subcutâneo, argênteo, homogeneidade, hortênsia - a única que errei, trocando o "s" por um "c" -, predecessor, morfossintaxe, displicência, infra-hepático, subconsciência, hagiológio, psicroestesia.)
Agora o mais interessante, o motivo que me levou a ver o programa. Thafne é aluna do Colégio Militar de Curitiba e Eder, aluno de um colégio municipal de uma cidadezinha do Vale do Jequitinhonha. Colégio elitista, da meritocracia, versus colégio público. Classes A e B versus C, D e E. Metrópolis versus interiorzão. Mais interessante ainda: Eder é negro. Negro e de um colégio público. Meu amigo Ivan Zolin contra-argumentará que não passa de uma exceção (outra que se soma a tantas exceções que conheço, como já postei abaixo). Eder não é uma exceção. O colégio municipal em que estuda não é uma exceção. Portanto, o sistema de cotas é uma generalização forçada (para não dizer burra) que denuncia um revanchismo ideológico, descarado, arrogante...

EXISTE UMA ESCRITA POÉTICA?

"Nos tempos clássicos, a prosa e a poesia são grandezas, a diferença entre elas é mensurável; não estão nem mais nem menos afastadas do que dois números diferentes, como eles contíguas, mas outras pela diferença mesma de sua quantidade. Se chamo prosa a um discurso mínimo, veículo mais econômico do pensamento, e se chamo a, b, c, atributos particulares da linguagem, inúteis mas decorativos, tais como o metro, a rima ou o ritual das imagens, toda a superfície das palavras se alojará na dupla equação de M. Jourdain:
Poesia = Prosa + a + b + c
Prosa = Poesia - a - b - c
"Donde ressalta evidentemente que a Poesia é sempre diferente da Prosa. Mas essa diferença não é de essência, é de quantidade. Ela não atenta, pois, contra a unidade da linguagem, que é um dogma clássico. Dosam-se diferentemente as maneiras de falar segundo as ocasiões sociais: aqui, prosa ou eloqüência, ali, poesia ou preciosismo, todo um ritual mundano de expressões, mas por toda parte uma só linguagem, que reflete as categorias eternas do espírito. A poesia clássica era sentida apenas como uma variação ornamental da Prosa, fruto de uma arte (isto é, de uma técnica), jamais como uma linguagem diferente ou como produto de uma sensibilidade particular. Toda poesia não passa então da equação decorativa, alusiva ou carregada, de uma prosa virtual que reside em essência e em potência em qualquer maneira de se exprimir. 'Poética', nos tempos clássicos, não designa nenhuma extensão, nenhuma espessura particular do sentimento, nenhuma coerência, nenhum universo separado, mas somente a inflexão de uma técnica verbal, a de 'exprimir-se' segundo regras mais bonitas, portanto mais sociais do que aquelas da conversação, isto é, de projetar fora de um pensamento interior brotado todo armado do Espírito, uma palavra socializada pela evidência mesma de sua convenção.
"Dessa estrutura sabe-se que nada resta na poesia moderna, aquela que parte, não de Baudelaire, mas de Rimbaud, a menos que se retome num modo tradicional adaptado os imperativos formais da poesia clássica; os poetas instituem doravante a sua palavra como uma Natureza fechada, que abraçaria a um só tempo a função e a estrutura da linguagem. A Poesia já não é mais então uma Prosa decorada de ornamentos ou amputada de liberdades. É uma qualidade irredutível e sem hereditariedade. Não é um atributo, é uma substância e, por conseguinte, pode muito bem renunciar aos sinais, pois carrega a sua natureza em si, e nada tem a fazer com apontar no exterior a sua identidade: as linguagens poéticas e prosaicas são suficientemente separadas pra poder dispensar os próprios sinais de sua alteridade.
Além disso, as relações pretendidas entre o pensamento e a linguagem ficam invertidas; na arte clássica, um pensamento totalmente formado vem a parir uma palavra que o 'exprime', o 'traduz'. O pensamento clássico é sem duração, a poesia clássica só tem aquela que é necessária para o seu arranjo técnico. Na poética moderna, ao contrário, as palavras produzem uma espécie de contínuo formal de que emana pouco a pouco uma densidade intelectual ou sentimental impossível sem eles; a palavra é então o tempo espesso de uma gestação espiritual, durante a qual o 'pensamento' é preparado, instalado pouco a pouco pelo acaso das palavras. Essa oportunidade verbal, de onde vai cair o fruto maduro de uma significação, supõe pois um tempo poético que não é mais o de uma 'fabricação', mas o de uma aventura possível, o encontro de um signo e de uma intenção. A poesia moderna se opõe à arte clássica por uma diferença que pega toda a estrutura da linguagem, sem deixar entre essas duas poesias outro ponto comum que não seja uma intenção sociológica.
"A economia da linguagem clássica (Prosa e Poesia) é relacional, isto é, as palavras nela são o mais possível abstratas em proveito das relações. Nenhuma palavra aí é densa por si mesma, mas chega a ser o signo de uma coisa, é muito mais a via de uma ligação. Longe de mergulhar numa realidade interior consubstancial ao seu propósito, estende-se, logo que proferida, rumo a outras palavras, de maneira que forme uma cadeia superficial de intenções. Um olhar sobre a linguagem matemática permitirá talvez compreender a natureza relacional da prosa e da poesia clássica: sabe-se que, na escrita matemática, não somente cada quantidade é provida de um sinal, mas ainda as relações que ligam essas quantidades são também transcritas, por uma marca de operação, de igualdade ou de diferença; pode-se dizer que todo o movimento do contínuo matemático provém de uma leitura explícita de suas ligações. A linguagem clássica é animada por um movimento análogo, ainda que evidentemente menos rigoroso: suas 'palavras', neutralizadas, ausentadas pelo recurso severo a uma tradição que absorve o seu frescor, fogem do acidente sonoro ou semântico que concentraria em um ponto o sabor da linguagem e estancaria o movimento inteligente em benefício de uma volúpia mal distribuída. O contínuo clássico é uma sucessão de elementos cuja densidade é uniforme, submetidos a uma mesma pressão emocional, e retirando deles toda a tendência a uma significação individual e como inventada. O próprio léxico poético é um léxico de uso, não de invenção: as imagens são aí particulares em conjunto, não isoladamente, por costume, não por criação. A função do poeta clássico não é pois encontrar palavras novas, mais densas ou mais brilhantes; é ordenar o protocolo antigo, perfazer a simetria ou a concisão de uma relação, trazer ou reduzir um pensamento ao limite exato de um metro. Os achados clássicos são achados de relação, não de palavras: é uma arte da expressão, não da invenção; as palavras, aí, não reproduzem como mais tarde, por uma espécie de altura violenta e inesperada, a profundeza e a singularidade de uma experiência; são trabalhados em superfície, segundo as exigências de uma economia elegante ou decorativa. Fica-se encantado com a formulação que os reúne, não com o seu poder ou com as suas belezas próprias."
"Por certo a palavra clássica não atinge a perfeição funcional da rede matemática: as relações não são aí manifestadas por sinais especiais, mas apenas por acidentes de forma ou de disposição. É o afastamento mesmo das palavras, seu alinhamento que cumpre a natureza relacional do discurso clássico; usados num pequeno número de relações sempre semelhantes, as palavras clássicas estão a caminho de uma álgebra: a figura retórica, o clichê são os instrumentos virtuais de uma ligação; perderam a densidade em proveito de um estado mais solidário do discurso; operam à maneira das valências químicas, desenhando uma área verbal cheia de conexões simétricas, de estrelas e nós de onde surgem, sem nunca ter o descanso de um espanto, novas intenções de significação. Mal as parcelas do discurso clássico entregam o seu sentido, já se tornam veículos ou anúncios, transportando sempre mais adiante um sentido que não quer depositar-se no fundo de uma palavra, mas estender-se na medida de um gesto total de intelecção, isto é, de comunicação.
"Ora, a distorção a que Victor Hugo tentou submeter o alexandrino, que é o mais relacional de todos os metros, já contém todo o futuro da poesia moderna, pois que se trata de aniquilar uma intenção de relações para substituí-la por uma explosão de palavras. A poesia moderna, de fato, já que se deve opô-la à poesia clássica e a toda prosa, destrói a natureza espontaneamente funcional da linguagem e dela só deixa subsistir as bases lexicais. Das relações, ela só conserva o movimento, a música, não a verdade. A Palavra explode acima de uma linha de relações esvaziadas, a gramática fica desprovida de sua finalidade, torna-se prosódia, não é mais do que uma inflexão que dura para apresentar a Palavra. As relações não são propriamente suprimidas, são simplesmente lugares guardados, são uma paródia de relações e esse nada é necessário pois é preciso que a densidade da Palavra se eleve fora de um encantamento vazio, como um barulho e um signo sem fundo, como 'um furor e um mistério'.
"Na linguagem clássica, são as relações que conduzem a palavra e depois a arrastam imediatamente rumo a um sentido sempre projetado; na poesia moderna, as relações não são mais do que uma extensão da palavra, é a Palavra que é “a morada”, é implantada como uma origem na prosódia das funções, ouvidas mas ausentes. Aqui as relações fascinam, é a Palavra que alimenta e cumula como o desenvolvimento súbito de uma verdade; dizer que essa verdade é de ordem poética é apenas dizer que a palavra poética nunca pode ser falsa porque ela é total; brilha com uma liberdade infinita e se propõe a irradiar em direção a mil relações incertas e possíveis. Abolidas as relações fixas, a palavra não tem mais que um projeto vertical, é como um bloco, um pilar que mergulha num total de sentidos, de reflexos e de remanescências: é um signo de pé. A palavra poética é aqui um ato sem passado imediato, um ato sem entornos, e que não propõe senão a sombra espessa dos reflexos de todas as origens que lhe estão vinculadas. Assim, por trás de cada Palavra da poesia moderna subjaz uma espécie de geologia existencial, onde se reúne o conteúdo total do Nome, e não mais o seu conteúdo eletivo como na prosa e na poesia clássicas. A Palavra não é mais dirigida de antemão pela intenção geral de um discurso socializado; o consumidor de poesia, privado do guia das relações seletivas, desemboca na Palavra, frontalmente, e recebe como que uma quantidade absoluta, acompanhada de todos os seus possíveis. A Palavra é aqui enciclopédica, contém simultaneamente todas as acepções entre as quais um discurso relacional lhe teria imposto escolher. Cumpre então um estado que só é possível no dicionário ou na poesia, ali onde o nome pode viver privado de seu artigo, reduzido a uma espécie de grau zero, prenhe ao mesmo tempo de todas as especificações passadas e futuras. A Palavra tem aqui uma forma genérica, é uma categoria. Cada palavra poética é assim um objeto inesperado, uma caixa de Pandora de onde saem voando todas as virtualidades da linguagem; é portanto produzida e consumida com uma curiosidade particular, uma espécie de gulodice sagrada. Essa fome da Palavra, comum a toda a poesia moderna, faz da palavra poética uma palavra terrível e desumana. Institui um discurso cheio de buracos e cheio de luzes, cheio de ausências e de signos supernutritivos, sem previsão nem permanência de intenção e por isso mesmo tão oposto à função social da linguagem, que o simples recurso a uma palavra descontínua abre a via de todas as Sobrenaturezas."
(MAIS TARDE, POSTAREI O RESTANTE DO ENSAIO DE ROLAND BARTHES)

sexta-feira, 30 de maio de 2008

NOVOS POETAS DE SANTIAGO

Um dos ensaios de O grau zero da escrita, de Roland Barthes, Existe uma escrita poética?, trouxe a palavra que me faltava para uma análise dos novos poetas de Santiago, cujo fazer estético se limita a sobrepor versos heterométricos e pauperrimamente rimados em estrofes mais ou menos regulares. Há doze anos, leio todas as publicações que ocorrem amiúde na Terra dos Poetas (até como uma forma de justificação), não percebendo o avanço de qualidade na elaboração do gênero textual recorrente. Entre os neófitos, existem belas exceções. A Ana Paula Sangói começou romântica, imitando o grande Álvares de Azevedo (na escolha do léxico ou do tema). Após uma série de observações que lhe fiz por escrito, pedi que procurasse pelo Oracy Dornelles, que sabe muito da poesia clássica e da moderna. Hoje a Ana domina o alexandrino. Outra poeta que me chama a atenção é Erilaine Perez. Seus poemas são modernos por excelência, faltando um pequeno trabalho de reescritura para torná-los definitivos. Neles, a palavra já não é mais um elo relacional, diacrônico, usual no discurso prosaico, mas passa a ser quase independente, “um signo em pé”, “um furor e um mistério” (segundo Barthes). A maioria dos novos poetas, no entanto, desconhece a técnica da composição de um soneto, por exemplo, forma clássica que exige o conhecimento do metro. Desconhece, não quer aprender e tem ódio de quem sabe. Mas, contraditoriamente, não evolui para as modernas formas de expressão, ou de explosão. Seus poemas melhor se disporiam em prosa, uma vez que a mudança da linha e a rima paupérrima (geralmente com verbos no infinitivo) não são suficientes para justificar o grandioso epíteto de nossa cidade no âmbito estadual.

OLHOS ENDIABRADOS

Após ler a reportagem Brota um novo poeta, no Expresso Ilustrado, liguei para Dona Maria, mãe de Rogério Madrid, poeta que estréia com Olhos endiabrados. A adorável senhora, que conheci na ExpoSantiago de 2007, disse-me que encontraria um exemplar na livraria do meu amigo Tide. A tarde azul convidava para dar uma saidinha, um passeio pelo calçadão, uma esticada até o mercado Central (o melhor pão francesinho da cidade) e voltar pra casa. Antes do anoitecer, acabei a leitura dos 43 poemas de Olhos endiabrados. O livro foi bem editado, capa, orelha e este poema final:

MINHA SANTA

Uma quinta,
Outra sexta,
Ambas santas
Uma véspera,
Outra morte,
Minha santa
Não deixe nosso amor
Morrer na véspera

quinta-feira, 29 de maio de 2008

URI

A universidade é um dos melhores lugares para visitar em Santiago, embora a noite seja a mais fria do ano. Primeira vez que venho à URI este ano, ainda na condição de pós-graduando do curso de Leitura, Produção, Análise e Reescritura Textual. Estive na biblioteca, onde retirei O grau zero da escrita, de Roland Barthes, e Discurso, estilo e subjetividade, de Sírio Possenti.

segunda-feira, 26 de maio de 2008

SALA DE LEITURA

Hoje resolvi anotar apenas o que me chamasse mais a atenção no pronunciamento dos vereadores na sessão ordinária. O projeto do Dr. Accácio é muito interessante: criar uma sala de leitura nas escolas do município. Ao longo do curso de Letras na URI e no Pós-Graduação em Leitura, Produção, Análise e Reescrita Textual, tantas foram as leituras que fizemos dos autores que se dedicaram ao assunto, tantas as reflexões que fizemos acerca da importância da leitura, que, com um certo pessimismo, concluo sobre a existência de um abismo entre a idealização e a realidade. Como um projeto dessa natureza poderia ter seus objetivos atingidos empiricamente, ainda que parcialmente? Não vejo outra alternativa para transformar os brasileiros em leitores, se não por intermédio da escola (dentro de um horário de aula). Os professores devem dar o exemplo, lendo mais. A leitura precisa ser currículo obrigatório. Sem essa obrigatoriedade, não há mudança, não há ponte que transforme o ideal em vivência. A leitura é indispensável para a evolução crítica do indivíduo, que evolui de uma leitura a outra. A idade mais adequada para despertar o gosto é a dos primeiros anos na escola. Não será na universidade que o graduando passará à condição de leitor incondicional.

domingo, 25 de maio de 2008

CONTRA O ESTABLISHMENT

Desde pequeno, ouvia as pessoas ao meu redor falarem com a maior seriedade possível, como se fosse a mais pura verdade aquilo que falavam com a maior seriedade possível. O que essas pessoas falavam com a maior seriedade possível? Elas falavam com a maior seriedade possível que não devemos discutir política, religião e gosto. Como o nosso caráter é moldado também pelos adultos que nos educam, obedeci-lhes sem ponderação. Certo dia, comecei a ler os chamados pensadores e suas idéias fizeram despertar em mim aquele menino que perguntava, perguntava e perguntava (até que as pessoas ao meu redor falassem com a maior seriedade possível que não devemos discutir política, religião e gosto). Desde então, passei a perguntar outra vez. O questionamento desinteressado e sem muito a ver com política, religião e gosto, aos poucos, me levaram a desenvolver uma aptidão argumentativa para discutir também sobre esses assuntos-tabus. Hoje sou capaz de responder sobre a razão daquele preconceito adultocêntrico: preservação do establishment.

15 ANOS DO EXPRESSO

A festa dos 15 anos do Expresso se dividiu em duas partes: o lançamento do livro João Lemes - 20 anos de jornalismo, de João Lemes, e a entrega do diploma "Amigo do Expresso". (No intervalo entre elas, um delicioso jantar.) O salão nobre do Clube União, com uma decoração tematizada, ficou lotado para o evento. Para descrevê-lo, duas palavras são obrigatórias: beleza e emoção. Roberto Carlos no telão, como animação de fundo. Apresentação do Christian Souto. Falas do Márcio, da Sandra e do João Lemes. O protagonista literário chamou à frente seus familiares presentes, inclusive tio Valdomiro, muito citado na autobiografia de um autodidata. Em seguida, a sessão de autógrafos: Ao amigo e incentivador, professor e poeta, um abraço e obrigado por tudo. Jantar delicioso, bom vinho e a companhia agradável de Valdir Pinto e Dona Cleusa. Mais tarde, vieram a nossa mesa Luis Carlos Heinze e Júlio Ruivo. Depois do jantar, os colunistas do jornal foram chamados para auxiliar na entrega do diploma Amigo do Expresso. Entre os cinqüenta agraciados, tive o privilégio de ser incluído. Para encerrar, banda Casablanca Show. Uma noite para não esquecer.

sábado, 24 de maio de 2008

RICA PETROBRAS

Desde a semana passada, a mídia veicula que a PETROBRAS é a terceira empresa mais rica da América, ultrapassando a Miocrosoft. Seu faturamento nos dois últimos anos margeia a bagatela de 50 bilhões de reais. Um dos fatores responsáveis por esse lucro todo é o aumento nos produtos refinados pela empresa. O óleo diesel, por exemplo, o preço do litro já ultrapassa 2,20 reais. Os consumidores diretos estão ligados ao transporte de carga e de pessoal (caminhões e ônibus). Todos os brasileiros somos os consumidores indiretos desse combustível. Em síntese, pagamos para a PETROBRAS ter lucro. Não há motivo para nos orgulharmos com a notícia de que essa estatal é uma das empresas mais ricas do mundo.

O PRAZER DA ESCRITA


O escritor, sociólogo, crítico literário, semiólogo e filósofo francês Roland Barthes defendia que a escrita gera uma espécie de clímax, um têxtase. Todas as semanas, esta coluna me faz experimentar um prazer indescritível. Desde minha estréia em 12 de dezembro de 2003. Quase um lustro. Os fins de semana ganharam o aprazível compromisso de escrever para o Expresso Ilustrado. Todo meu ser de cognição fica atento – qual um pescador à beira do rio. Os assuntos são inumeráveis. O prazer começa com a expectativa de fisgar um peixe grande. A mídia, com a pesca industrial, reduz a escolha para um colunista simples, do interior. Por isso, acompanho seu navio algumas vezes. Independentemente de outras atividades, tenho vivido sábados azuis e domingos dourados com a linha do meu pensamento distendida, a vibrar entre os dedos. A espera é recompensada com a prazerosa definição do tema. Na segunda-feira, o pescador cede lugar ao cozinheiro. Agora é preciso preparar o prato. A forma vai da macro à microestrutura. Assado, frito ou cozido? Tempero? Salada? Vinho? O gênero coluna de jornal, à exceção do espaço previamente determinado, possui mil e uma maneiras de se constituir textualmente. A começar pelas palavras: imagens e sons incontáveis. A arte de escrever consiste em escolhê-las com inteligência, em associá-las com beleza. O estilo nasce da relação hedonista e apaixonada que o escritor mantém com as palavras (como significantes e significados). Evolui nas construções sintáticas (oração e período). Consagra-se no texto, ao qual lhe dá aparência e gosto. Minucioso e exigente na cozinha, não poderia ser de outra forma na escrita. Experimento e reescrevo até quarta-feira, quando entrego o texto na redação. Com a prova tirada na quinta, uma última revisão. Na sexta, o prato vai à mesa, quando o prazer é compartilhado.

(Coluna do Expresso Ilustrado, edição de 23 de maio de 2008)

sexta-feira, 23 de maio de 2008

JEFFERSON PÉRES


O líder do PDT no Senado, Jefferson Péres (PDT-AM), 76, morreu nesta sexta-feira em Manaus (AM), vítima de um infarto fulminante. O corpo do parlamentar é velado no Palácio Rio Negro, em Manaus. O enterro deve ocorrer amanhã após a chegada do filho do senador que mora nos Estados Unidos. O senador passava o feriado de Corpus Christi com a família. Ele nasceu em 19 de março de 1932, em Manaus. Professor e advogado, ocupava vaga no Senado desde 1995, e exercia seu segundo mandato na Casa. Filiado ao PDT desde o início de 1999, concorrendo à vice-presidência do Brasil nas eleições de 2006, na chapa do também senador Cristovam Buarque. Um dos melhores discursos do senado brasileiro.

quinta-feira, 22 de maio de 2008

FOLHA NOTICIA QUE...

...Eugenio Alexandre Tollendal Costa, filho de Hélio Costa, ministro das Comunicações, é funcionário fantasma no gabinete do senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA) e possui vencimentos mensais de R$ 2.649,46. O senador e seus funcionários nunca viram o tal, não sabem de nada.

LUIZ CARLOS VERGARA MENIN

Ontem fui assistir à terceira sessão solene da Câmara de Vereadores, cumprindo-se o programa estabelecido para a 9ª Semana do Parlamento. O palestrante convidado, Luiz Carlos Vergara Menin, falou sobre o tema “A Democracia nas Comunicações”. Seu currículo, que prometia uma palestra interessante, no mínimo, verificou-se relativamente pequeno demais para tamanho conhecimento e desenvoltura ao final. Professor de História, coordenador nacional da Rede Brasil de Comunicação Cidadã, diretor da emissora Obirici FM Comunitária de Porto Alegre. O fato de ter trabalhado no Ministério das Comunicações, em Brasília, deu-lhe a experiência suficiente para falar sobre coisas que o plenário sequer desconfiava (acerca da tv digital, por exemplo). Todos ficamos visivelmente satisfeitos com o palestrante, cuja aparência simples, sem gravata, a princípio, denegava seu desempenho com argumentos bem elaborados e, no caso da política antidemocrática do governo federal em relação às concessões, persuasivos. Confessou-nos que pegou seu boné e veio embora ao discordar do que viu e não gostou. Segundo ele, o ministro Hélio Costa não passa de um enviado da Rede Globo ao Planalto.

CONSTITUIÇÃO




















toda pedra
traz dentro
o fogo
que a ordena

todo fogo
a pedra
que o alimenta

fogo
e pedra
trago em mim:

duro
ilumino


(Ontem escrevi esse poema, pura metáfora)

terça-feira, 20 de maio de 2008

MEDIDAS APERFEIÇOADORAS?

A mídia eufemiza quando escreve que “a Câmara dos Deputados aprovou uma série de medidas aperfeiçoadoras dos códigos Penal e Processual Penal”. O que se pressupõe por “medidas aperfeiçoadoras” de alguma coisa? Obviamente, que alguma coisa necessitava de correções, era imperfeita. O pressuposto foi eufemizado com a intenção discursiva de preservar aquilo que se julgava a própria perfeição. Afora a tipificação do crime de seqüestro relâmpago e da criminalização da entrada de celulares nos presídios, que não ocorriam no passado, tudo mais constituía um equívoco. No caso de considerar a vida pregressa do menor infrator em crimes cometidos na vida adulta, não haverá aperfeiçoamento em mudar para o “sim”, mas a completa negação do que era constitucional. O Código estabelece a primariedade aos 18 anos, independentemente do número de assassinato que tenha cometido. No máximo, internação até aos 21 anos. A OAB já se manifestou contra a mudança. Certamente, nem todos os filiados a essa organização pensam assim. A idoneidade de um advogado para decidir sobre essa matéria é a mesma de qualquer outro cidadão. Se há leis imperfeitas, que necessitam ser reformuladas ou negadas completamente, por que continuar a defendê-las como a coisa mais certa? As constantes alterações, em contrapartida, diminuem a credibilidade que esse mesmo cidadão tem nas leis.

segunda-feira, 19 de maio de 2008

DORVAL BRÁULIO MARQUES

A Câmara de Vereadores de Santiago iniciou hoje sua "Semana do Parlamento" com uma palestra proferida pelo advogado e professor Dorval Bráulio Marques. O tema trazido para debate (que não houve, uma vez que o plenário preferiu ouvir apenas) foi A Mídia e o Parlamento. O palestrante começo dizendo que "todos nós sofremos a influência da mídia e os parlamentos também sofrem". A função da mídia é de blindar qualquer tentativa de desestruturação do sistema uniformizado por ela. Dessa forma, somos reféns dos meios de comunicação. Na seqüência, dissertou sobre a hipótese da Agenda Setting, criada por Maxwell McCombs e Donald Shaw, a qual defende que as pessoas conversam mais sobre assuntos que a mídia veicula. O ilustre professor, em seguida, complementa com outra hipótese, desenvolvida por Elisabeth Noelle-Neumann: a espiral do silêncio. Essa aprofunda a agenda setting ao afirmar que os meios não só determinam os temas sobre os quais se deve falar, como também impõem o que falar sobre esses temas. Como exemplo de influência da mídia no parlamento, ele citou o crime cometido por Guilherme de Pádua e Paula Nogueira Thomaz (sua mulher) em 22 de dezembro de 1992 contra a vida de Daniela Perez, atriz da Rede Globo. A pressão da mídia foi tanta que Brasília foi obrigada a votar uma lei que piorou o que de bom havia no sistema penal brasileiro: a lei dos crimes hediondos. Na relação entre mídia e parlamento, concluiu o Dr. Dorval Bráulio Marques, a comunidade precisa estar de olhos bem abertos e procurar saber o que não é veiculado.
Amanhã palestrará o comandante da 1ª Bda C Mec, General-de-Brigada Edson Leal Pujol.

domingo, 18 de maio de 2008

CONTRAPONTO

Uma frase manjada diz que "toda generalização é burra". Nunca a empreguei nos meus textos, sob pena de generalizar, negando a idiossincrasia do contraponto (que me faz a cabeça há muito). O significado de "contraponto" deste blog, inclusive, não é o generalizado, referencial, mas figurativo: contrastar, contrapor... Basta o visitante reler algumas postagens abaixo para se certificar de que evito o consenso. Aliás, já o superei, evoluindo cognitivamente.

FATO EXPRESSO

O diretor João Lemes me falou, num dos encontros na sala de redação, que o jornal precisaria provocar o fato se possível. Diante da pasmaceira de dias iguais, a cidade teria que despertar na sexta-feira com o Expresso Ilustrado. O acontecimento midiático, assim pode ser chamado, repetindo-se todas as semanas, faria os assinantes aguardarem com certa ansiedade a chegada do jornal, os leitores eventuais a se tornarem assinantes e os não-leitores a leitores eventuais. Essa corrente, facilmente mensurável pelo número de exemplares entregue e vendido, constitui um referencial para a empresa jornalística (inserida que está num mercado cada vez mais competitivo). À qualidade formal e conteudística do Expresso deve se somar o gerador factual, algo capaz de também gerar notícia. O ideal de João Lemes, que o identifica aos grandes diretores, transforma-se em realidade. A cada edição, o jornal contribui com uma parcela significativa para movimentar a sexta-feira. Tanto isso é verdade que, neste mês, o próprio Expresso é o fato principal. Todos os santiaguenses sabem disso, inclusive os analfabetos e aqueles que, em razão de seu status político, cultural ou econômico, ainda não reconhecem a importância deste semanário. Levando-se em conta apenas o aumento da leitura e da interação comunicativa em nossa cidade, o Expresso se apresenta como um fato sócio-cultural, cujo alcance já se pode vislumbrar do alto de seus quinze anos. Logo após o debut, virá a maioridade, inscrevendo-se para ser o melhor e mais longevo jornal na história de Santiago.
(Coluna do Expresso Ilustrado, edição de 16 de maio de 2008)

sábado, 17 de maio de 2008

DDPM, O QUE É ISSO?

Entre as diversas teorias que tenta explicar a desordem disfórica pré-menstrual, ou simplesmente TPM, a mais científica se fundamenta na variação dos níveis de serotonina, substância responsável pelo humor e apetite. Tal disfunção hormonal resulta em ansiedade e irritabilidade. Minha análise, todavia, não pretende ser behaviorista ou psicológica, virando do avesso o paciente em que essa "doencinha" se manifesta. Até hoje não se fez consideração em defesa de quem verdadeiramente sofre com a irritação (para não dizer agressão): o outro. Se o principal sintoma é a irritação, nunca foi perguntado sobre quem se constitui (ou é constituído, sem escolha) no anteparo humano de seus (de)efeitos. Como os não-fumantes, apenas recentemente considerados as vítimas mais inocentes do mal, os homens precisam ser incluídos nos estudos acerca do fenômeno pré-menstrual. No atual estágio evolutivo da nossa sociedade, em que se evidencia um excesso de sensibilidade, continuam valendo os princípios que norteiam as relações interpessoais. A mulher que se sentir com a desordem acima especificada (quis a natureza que tal ocorresse uma vez a cada mês) precisa ter cuidado para não aliviar sua irritação no seu próximo.

LICENÇA PARA MATAR


Uma questão na reforma das leis penais do país propõe que sejam consideradas as infrações cometidas pelo criminoso quando ainda menor de idade em processos posteriores. A Organização dos Advogados do Brasil (OAB) já se manifestou contra. O menor que comete assassinato aos 17 anos, por exemplo, chega aos 18 anos como se primário fosse. Quando internado por uma medida sócio-educativa, terá liberação compulsória aos 21 anos, recuperado e reintegrado à sociedade. O Código precisa ser alterado (se não estou enganado, há um projeto de lei nesse sentido). Idealização não significa avanço civilizacional. Indiretamente, uma das causas da violência no Brasil está na inimputabilidade penal do menor. Li um artigo de um desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo, cujo título era paradigmático: Menor infrator - Licença para matar.

A ÚLTIMA HORA


Documentário produzido e narrado por Leonardo DiCaprio, reúne dezenas de comentários de vários estudiosos acerca da degeneração vital do nosso planeta. Excelente para ser rodado nas escolas.

sexta-feira, 16 de maio de 2008

LARÍ FRANCESCHETTO

Um dos vencedores do Concurso Aureliano de Poesia (instituído pelo Centro Cultural de Santiago) foi o veranense Larí Franceschetto. O poeta já é conhecido no Rio Grande do Sul desde o brick-a-brack do Correio do Povo, onde publicou seus primeiros textos. O Concurso Aureliano de Poesia motivou uma amizade epistolar entre nós. Há três anos, retornando de Curitiba (onde passava minhas férias), visitei meu amigo poeta em Veranópolis – a Terra da Longevidade.
O Larí prepara o lançamento de seu primeiro livro, Espelho das águas.
Abaixo, transcrevo dois de seus poemas:
OO
MADRUGADA

oo
A aranha tece
labirintos-casas
hospedando solidões.
oo
A Poesia re(colhe)
estrelas perd(idas)
na escuridão das horas.

oo
As verdes folhas amadurecidas
mudam geo(grafias)
na face das esquinas.

oo
Mais mar, amar, amora!
O que foi jogado fora
e não deveria ter sido...

oo
A algazarra na rua
são boêmios semeando luas -
antes da fria manhã
apagar o clarão da noite.

oo
Mas sei, Neruda:
Não conseguirão acorrentar
outra madrugada;
nem meu coração.

oo
(In Almanaque Gaúcho, Zero Hora)
oo
oo

OUTONO

oo
Fim de tarde
virá mover sinos
porque Deus, sei...
Mãos maduras põem
no andar das horas.
Calçadas acarpetadas
de amareladas folhas
são danças de ir embora
sob sol de março.
Acordará de novo
tudo que anoitece.
Flores darão frutos,
sobrarão vôos azuis
nos casulos emergentes.
Gestações da vida!
Somos sopro, outono:
Cigarro na esquina
roupa no varal
água do moinho
cigarra no quintal.
oo
Quero estar contigo
no que sobrar de abrigo
depois do vendaval.

oo
(Menção Honrosa – I Concurso Nacional Letra Livre – Nova Friburgo/RJ)

quinta-feira, 15 de maio de 2008

ASAS DE PANO


a cortina
esvoaça
no vão
da janela
000
a brisa
do outono
dá-lhe
as asas
ooo
borboleta
que tarde
repousa
do vôo
o
colada
à vidraça
OO
(Hoje escrevi esse poema, ainda um rascunho que precisa ser reescrito três cinco dez vezes para considerá-lo definitivo.)

quarta-feira, 14 de maio de 2008

LANÇAMENTO DE LIVRO

Daqui a pouco, no Centro Cultural, teremos o lançamento do livro Inventário histórico de Santiago, de Fábio Monteiro. Esse jovem estudante e senhor autodidata cedo percebeu que nosso município tem uma história que precisa ser inventariada de tempo em tempo, sob pena de perdermos suas referências factuais. Por isso, Inventário histórico de Santiago chega em boa hora. Estou saindo para o Centro Cultural, onde deverei abrir o protocolo na condição de Diretor do Departamento de Literatura.

EU, IVAN ZOLIN, JÚLIO RUIVO...

Eu, Ivan Zolin, Júlio Ruivo e tantos outros meninos, vindos do interior, formamos a Turma 6/6 do Colégio Polivalente (Lucas Araújo de Oliveira) naquele inesquecível 1973. O número acima significa que constituíamos a sexta turma da sexta série. Hoje os dois maiores colégios de Santiago, Thomás Fortes e Apolinário, contam com três turmas equivalentes cada um.
Na década de setenta, a escola tecnicista era o grande paradigma. Todavia, não tínhamos consciência do modelo de educação em que nos inseríamos. O Brasil preteria o humanismo em razão de um arranco desenvolvimentista, material.
Após a oitava série, continuamos em cursos técnicos, no Cristóvão Pereira, no Isaías ou noutras instituições (fora daqui). Recordo-me de que desenvolvi uma aversão incontrolável pela Contabilidade, disciplina do curso de Auxiliar de Escritório. Minhas notas caíram um pouco, por conta dos números contábeis. Já não suportava a Matemática. Como reação aos números, receitas e despesas, prestei vestibular para Desenho e Plástica na UFSM. Aprovado, não fiz a matrícula (por motivo de óbices financeiros). Dois anos mais tarde, ingressei no Instituto de Artes Plásticas da UFRGS, na capital. Mais uma vez, dificuldades em conciliar emprego e estudo me fizerem desistir no segundo semestre. Meus amigos tomaram outros caminhos, ou melhor, continuaram no caminho da formação técnico-científica. O Ivan fez Engenharia Mecânica, Matemática, Física e, recentemente, Filosofia. O Júlio se formou em Veterinária. Em 1985, passei no vestibular na Federal do Paraná, curso de Letras. No dia da matrícula, não encontrei o Histórico do 2º Grau (Ensino Médio). Nesse curso, freqüentei quase dois semestres na Tuiuti, em Curitiba. Apenas em 1999, de volta à querência, resolvi cursar Letras na URI, formando-me em 2003.
Nenhum daqueles meninos, filhos de pequenos agricultores e pecuaristas necessitaria fazer um cursinho PV para ingressar nas universidades federais. Mesmo assim, freqüentávamos para não perder o gosto de estudar. À exceção do Medianeira, não havia colégio particular em Santiago, com melhor ensino. Nossos colégios estaduais eram excelentes. Por que, então, cairia a qualidade dos mesmos? Seria uma das conseqüências da Escola Tecnicista? Seria a necessidade de retomar a educação humanista? Por que o aluno da escola pública dificilmente consegue ingressar numa das federais, forçando o governo a criar uma política que o privilegie?
Não estaria justamente na queda do ensino público (níveis fundamental e médio) a causa da grande “injustiça” que teimam os defensores de cotas em atribuir a condições sócio-econômicas?

terça-feira, 13 de maio de 2008

DIREITA ESQUERDA

Mudei as posições abaixo de direita e de esquerda, com o propósito de impedir a interpretação ideológica. Hoje não há mais essa dicotomia. O nosso presidente, por exemplo, foi eleito pela esquerda, mas são os bancos que mais faturam no país. O mesmo vale dizer acerca de (neo)liberais e conservadores. Depende de que lado está o poder.

LÓGICA PARADOXAL

O argumento decisivo contra a pena de morte se fundamenta na possibilidade remotíssima de o Estado condenar um inocente (por um erro qualquer). Todos concordam que a exceção deve condenar a regra, isto é, na hipótese de ocorrer o engano acima, assassinos reincidentes e cruéis devem ser tratados com urbanidade. Essa lógica inquestionável não é observada quanto à política de distribuição de cotas. Meu vizinho da esquerda será injustiçado, não recompensado pelo seu trabalho, pelo seu esforço. Em contrapartida, será premiado o vizinho da direita, imprevidente,
boa-vida...

JUSTIFICATIVA

O leitor poderá se espantar da minha simplificação abaixo, atribuindo a um caso tamanha importância. Em se tratando de famílias brancas, qual foi a origem das distorções econômicas principalmente? Os imigrantes receberam porções diferentes de terra dentro da mesma colônia?

CONTRA AS COTAS

Por alguns anos, morei numa vila (conjunto de casas). Todos pertencíamos a uma mesma classe social, com uma renda mais ou menos equivalente. Apenas como ilustração, descrevo o modus vivendi dos meus vizinhos mais próximos. Na casa à direita, a família era perdulária: festa, carro zero, viagem etc. Na casa à esquerda, a família era segura: festejavam pouco, viajavam apenas nas férias etc. As crianças da direita estudavam num colégio público do bairro. As crianças da esquerda, num colégio particular no centro da cidade. Gastos diferentes, condições diferentes. A educação diferenciada, depois de dez anos, verificou-se no vestibular: os jovens da direita não eram aprovados para as melhores universidades, para os melhores cursos; os jovens da esquerda, em contrapartida, passavam na Universidade Federal para Medicina, Odontologia, Engenharia... Para os primeiros, não havia outra alternativa se não pagar uma universidade particular, estudar a distância ou vagabundear. Não poderia ser diferente. E não é que passou a ser diferente, com uma lei de cotas para alunos do ensino público!

DARWIN E NIETZSCHE

Desde que comecei a ler os livros e o mundo, desenvolvo quase como uma paixão pelo conhecimento (ainda que sentimento e razão sejam antagônicos num mesmo indivíduo). Uma coisa que me irrita é ouvir ingratidões ou calúnias contra a Ciência ou a Filosofia, apenas porque elas não dão todas as respostas aos devaneios humanos. Penso ser impossível alguém conhecer Darwin (incluindo os pós-darwinistas) e ficar indiferente, refutar a teoria da evolução das espécies ou criticá-la duramente, tendo o criacionismo como referência. Impossível esse mesmo alguém ler Nietzsche e não inferir de sua filosofia certas verdades palpitantes, como a que denuncia a nefasta influência da tradição judaico-cristã em nossa civilização. A maioria dos meus contemporâneos parece não conhecer Darwin e Nietzsche. Da mesma forma, não conhecem Marx e Freud (incluindo os pós-freudianos). Ultimamente, inclino-me a pensar que poucos estão dispostos a saber algo que acusa seu narcisismo, “seachismo”, ou coisa que o valha. Meus textos anteriores constituem um bater constante na mesma tecla. Não os considero totalmente infrutíferos, perda de tempo, em razão da incompreensão ou da resistência que sei caracterizar o senso comum. São os primeiros passos de uma longa caminhada que pretendo realizar. Já vislumbro a possibilidade de êxito, uma vez que a Filosofia passa a despertar a atenção da opinião pública, reinserida nas escolas de educação básica. Tenho certeza de que o ensino filosófico será mal direcionado, adequando-se aos mesmos valores que conduzem nossa sociedade a um excesso de sensibilidade (como temia Nietzsche).

domingo, 11 de maio de 2008

CRÍTICA NÃO-ANÔNIMA

Meu amigo Ivan Zolin comenta as postagens abaixo. Com relação a CONTRA AS COTAS, na qual escrevo que um dos líderes do Movimento Negro-Socialista declarou que era contra o sistema de cotas para negros, Ivan acha lamentável minha posição. O mais importante da postagem constitui a declaração de um negro brasileiro, líder do MNS, que, inteligentemente, é contra as cotas, explicando-se com a mesma razão em que me apóio desde o início das discussões. Repito: a política perpetua o racismo (que sempre existiu e que existe neste país, mesmo que brancos hipócritas façam campanha anti-racista). Os brasileiros são racistas, porque seus avôs eram racistas e os seus tetravôs, escravocratas. Não será a universidade que eliminará essa doença etnocêntrica.
Com relação ao pleito para presidente nos Estados Unidos, fiz uma brincadeira. Desta vez, penso que um democrata (Hillary ou Obama) ganhará de McCain. Discordo de que a política seja uma arte, embora a maioria dos políticos a trate dessa forma. Arte de enganar o povo (como escreve o Júlio Prates), arte de fraudar, arte de gastar o dinheiro público, arte de representar... Política deve ser ciência, meu amigo. O que faz Roberto Mangabeira Unger no governo?
Agradeço pela crítica (não-anônima).

sábado, 10 de maio de 2008

PARADOXO POLÍTICO II

Vocês sabem quem será eleito presidente dos Estados Unidos entre Hillary Clinton e Barack Obama? Simples: John McCain, candidato republicano.

CONTRA AS COTAS

Neste dia, ocorreu a 3ª Reunião Nacional do Movimento Negro-Socialista. Não me surpreendi com um de seus líderes que declarou ser contra cotas para negro, uma vez que o sistema perpetua o racismo, a diferença entre brasileiros. Isso é mais verdadeiro do que sustentar a necessidade de corrigir distorções históricas, sócio-culturais, com mais esse óbolo de uma política paternalista.

DIA DAS MÃES




Amanhã é o Dia das Mães, isto é, um dia muito especial em que o comércio aquece suas vendas, empregando a figura materna como garoto-propaganda. Na genealogia dessa data, encontra-se Ana Jarvis, mulher norte-americana que resolveu estender a todas as mães a homenagem que receberia de amigas (preocupadas com a sua depressão ante o falecimento da própria mãe). O cravo branco foi o único presente instituído para a data, símbolo da maternidade. Jarvis disse não ter criado o Dia das Mães para ter lucro. Infelizmente, os setores mercadológicos da nossa sociedade transformaram o Dia das Mães numa oportunidade de vender mais, agregando um valor monetário aos afetos, aos sentimentos. Por outro lado, os setores consumistas pisotearam no cravo branco proposto por Ana Jarvis, agregando o que ainda resta de afetividade a um produto comercial, com valor monetário. Há dois anos, perdi minha mãe. Tudo o que lhe daria neste dia seria um abraço carinhoso. Todos os dias celebro sua memória. Farei isso até o fim da minha vida, com uma saudade que me enche os olhos d'água.

PARADOXO POLÍTICO

O Partido Progressista de Santiago será mais uma vez beneficiado pelo Sandro Palma, não por um voto de minerva, se não por sua candidatura a prefeito. Os votos pró-Sandro, no próximo pleito, poderão representar a diferença entre Júlio Ruivo e Vulmar Leite (em favor do primeiro).

LE PONT DU CHEMIN...


Uma tela de Claude Monet (1840-1926), Le Pont du Chemin de Fer à Argenteuil, bateu o recorde de preço já alcançado por uma obra do pintor, na terça-feira, durante um leilão da Christie's, em Nova York. A obra foi vendida a um comprador anônimo por US$ 41 milhões (cerca de R$ 73 milhões). Sua obra mais cara, até então, havia sido vendida por US$ 37 milhões (cerca de R$ 66 mi).

sexta-feira, 9 de maio de 2008

1ª SINFONIA DE OUTONO


Acabei de chegar do Círculo Militar, onde se realizou a 1ª Sinfonia de Outono (evento organizado pelo Departamento de Cultura de Santiago). Nota 10! A música sempre arrebata as alma mais sensíveis. Arte suprema, universal.
O programa foi dividido em três partes: 1ª) Com execução da Fanfarra da 1ª Brigada de Cavalaria Mecanizada: Abertura-Proposta (com músicas de Roberto Carlos); É Preciso Saber Viver; Carinhoso; Céu, Sol, Sul, Terra e Cor; e Aquarela do Brasil. 2ª) Performance de Ruy Armando Gessinger (violino), Mário Meira (harpa), violões e vozes de três aluno do Criança Feliz: Negrinho do Pastoreio; Mercedita, Asa Branca, Km 11... 3ª) Novamente a Fanfarra da 1ª Bda C Mec: Carruagem de Fogo; Fantasma da Ópera; Cavalaria Rusticana; e Cavalaria Ligeira. A secretária de Cultura do Estado, Mônica Leal, aplaudiu com entusiasmo. Parabéns ao Departamento de Cultura.

ALGO EM COMUM

POR ACASO, VOCÊ CONHECE CACHORRO QUE MATA OVELHA? POR ACASO, CONHECE PORCO ROCEIRO (CONFORME DEFINE HOUAISS, "QUE PENETRA NAS ROÇAS E AS DEVASTA")? QUEM NASCEU E SE CRIOU NO INTERIOR SABE QUE ESSES DOIS ESPÉCIMES MORREM MAIS CEDO DO QUE DETERMINARIA O DESTINO OU A VONTADE DE SEU DONO. O PRIMEIRO, COITADO, GERALMENTE RECEBE UMA CARGA DE CHUMBO NA CABEÇA. O SEGUNDO ENTRA PARA O CHIQUEIRO (QUE OS CHIQUES CHAMAM DE POCILGA), LUGAR ESPECIALMENTE PREPARADO PARA A ENGORDA. FELIZ POR CONSUMIR A MELHOR RAÇÃO, QUAL O MILHO JÁ DEBULHADO, ACABA NA PONTA DE UMA FACA AFIADÍSSIMA. OS HOMENS, EM MUITOS ASPECTOS, SÃO PARECIDOS COM PORCOS E CACHORROS. A DESPEITO DA RACIONALIDADE QUE OS DISTINGUE, EM CERTAS OCASIÕES ELES SE COMPORTAM COM TAL FREQÜENCIA E IRREDUTIBILIDADE QUE SE PARECEM COM CACHORRO QUE MATA OVELHA OU COM PORCO ROCEIRO. UM EXEMPLO QUE PODE SER OBSERVADO EM NOSSA BLOGOSFERA (PARA NÃO IR MAIS LONGE) CONSTITUI O COMENTARISTA ANÔNIMO. ENTRE TODOS OS DEFEITOS QUE ALBERGA SUA PERSONALIDADE, O INSTINTO PERVERSO TRANSCENDE A INOCÊNCIA DA ALIMÁRIA. (PARA QUEM FOI CAPAZ DE EMPREGAR O TERMO "SERPENTÁRIO", "ALIMÁRIA" NÃO SERÁ UM PROBLEMA.) SUA IGNORÂNCIA NÃO É DE NATUREZA LINGÜÍSTICA, MAS PSICOLÓGICA, EMPÁTICA, POR PENSAR QUE EU SEJA INCAPAZ DE ESCORRAÇÁ-LO DO ANONIMATO. EM BREVE, TEREI O PRAZER DE ANUNCIAR SEU NOME, AINDA QUE ISSO POSSA RESULTAR NUMA GRANDE INIMIZADE. AS FERRAMENTAS DO PRÓPRIO BLOG OFERECEM UMA FORMA DE "MATAR" O ANÔNIMO, CONSISTE EM MODERAR OU OCULTAR COMENTÁRIO. MAS ISSO SERIA UMA COVARDIA DA MINHA PARTE (EM RELAÇÃO A ELE). ETICAMENTE INCORRETO (EM RELAÇÃO ÀQUELES QUE DESEJAM INTERAGIR COM SERIEDADE).

quinta-feira, 8 de maio de 2008

MÔNICA LEAL


Há pouco, cheguei da Câmara de Vereadores, onde fui assistir a uma palestra da secretária estadual da Cultura, Mônica Leal. A filha de Pedro Américo Leal, antes de ser convidada a participar do governo de Yeda Crusius, fora vereadora por dois anos em Porto Alegre e concorrente ao senado pela majoritária de seu partido (PP). Sua política revela uma tendência moderna, de inclusão social, cujo programa-síntese é expresso na frase A ARTE DE INCLUIR PELA CULTURA. A maioria dos projetos que sua secretaria desenvolve, pelo menos foi o que pude deduzir da palestra, está centrada na "capital do povo gaúcho" e seu entorno. Seu assessor, todavia, adiantara que apenas 15% do orçamento é aplicado na Grande Porto Alegre. A visita que faz a Santiago pode ser o começo de uma maior descentralização da política de patrocínio - financiamento LIC no âmbito do Estado. A contrapartida dos interioranos deve ser fundamentada em projetos bem elaborados, que priorizem a inclusão social.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

ATITUDE RESPONSIVA (ATIVA)

Uma das ferramentas que possibilitam a interação entre os blogueiros e leitores eventuais é disponibilizada no rodapé de cada postagem. Ela transforma os blogs num espaço propício à comunicação. A minha monografia do curso de Pós, inicialmente, tinha como objetivo analisar os blogs de Santiago sob o aspecto interativo. Depois de aguardar por alguns meses, como visitante assíduo, percebi que não seria possível tal análise. Salvo algumas exceções, não ocorre troca de informações entre os participantes da nossa blogosfera. (Em Portugal, por exemplo, os blogs registram 30, 40, 50 comentários em suas postagens.) Em Santiago, os comentários são geralmente anônimos e maldosos. Por esse motivo, a maioria dos blogueiros oculta ou modera os comentários, quando não desiste de blogar (para minha tristeza). Tive que mudar o objetivo da minha monografia no último momento. Analisarei a literariedade que caracteriza certos blogs, cujos elementos poéticos devem confirmar a verve que caracteriza a Terra dos Poetas (no âmbito digital).

NOVO LIVRO DE GARCÍA MÁRQUEZ


Gabriel García Márquez, prêmio Nobel de Literatura de 1982, publicará antes do fim de 2008 um novo livro sobre o amor, afirmou uma fonte ligada ao escritor. "Tive a felicidade de estar nesse fim de semana no México com o escritor e posso garantir que ele está dando os últimos retoques em seu novo romance", disse o jornalista Darío Arizmendi, diretor da rádio Caracol. De acordo com Arizmendi, o livro está pronto e será lançado em agosto ou setembro. Segundo o jornalista, a nova obra do Nobel colombiano, de 81 anos, terá 250 páginas e será uma evidência de que está "lúcido" e plenamente produtivo em sua ampla carreira como escritor. O último lançamento do escritor foi a novela Memorias de mis putas tristes. O amor é quase personagem em O amor nos tempos do cólera. Eis um pequeno resumo do romance: Trata-se da história de Florentino Ariza, Fermina Daza e Juvenal Urbino. Florentino se apaixona pela trança de Fermina, o romance dura algumas cartas, mas ao conhecer seu admirador, a moça rejeita-o e casa-se com Urbino, com quem vive por quase cinqüenta anos. O amor de Florentino, porém, persiste a vida inteira. No final do livro, Florentino e Fermina se reencontram para resolver a antiga história.
ooo
Sou leitor de García Márquez desde 1982, ano em que ganhou o Nobel. Aguardarei por esse novo romance.

domingo, 4 de maio de 2008

EM DEFESA DA BARBÁRIE

Os três estados evolutivos da humanidade são os seguintes: a selvageria, a barbárie e a civilização. Como reflexão para esta noite, deixo as seguintes perguntas:
Durante a barbárie, um pai aprisionaria a filha por 24 anos, estuprando-a diariamente e gerando 7 filhos da relação incestuosa?
Durante a barbárie, um pai assassinaria a filha de 5 anos?
Durante a barbárie, uma mãe afogaria os filhos para ficar com o amante?
Constitui um equívoco antropológico dizer que o homem retorna à barbárie em vista da crueldade cometida por ele. A civilização não merece essa defesa, esse subterfúgio.

TRISTE TARDE

Triste tarde para um gremista, que tinha uma esperançazinha de ver o Juventude jogar bola no Beira Rio. Mas não jogou nada. O Inter arrancou a "toca", pisoteou nela (como fazia literalmente um colorado bêbado na Rua dos Poetas no fim da tarde), meteu-lhe na privada e puxou oito vezes a descarga. A partir do segundo gol, desfiz a ligação da antena interna para ver as decisões do Rio de Janeiro e São Paulo pela parabólica. De tempo em tempo, os meninos do condomínio gritavam, e fogos de artifícios explodiam nos céus santiaguenses. Após o jogo, viria o buzinaço nas ruas e o encontro dos felizes torcedores no centro. Menos mal que os colorados são mais comportados agora, devido a faixa de idade da grande maioria, entre 30 e 38 anos. (A torcida violenta é a do Grêmio, porque sua maioria é mais jovem.) No Rio, o resultado também não me agradou: Flamengo. Em São Paulo, indiferente. No Paraná, outra decepção: Coxa. Ao longo de nove anos que residi em Curitiba, passei a simpatizar com o Atlético (apesar do vermelho na camiseta). Agora é suportar a flauta dos colorados amanhã.

sábado, 3 de maio de 2008

OS DOIS TEMPLOS

Hoje, mais uma vez, insisti na idéia de que nossa civilização nasceu no Reino de Judá. Levara meu amigo Ivan Zolin à livraria do Tide, onde conversei alguns minutos com o Juarez. Enquanto o Ivan separava volumes e volumes, apontei para os livros de Nietzsche e disse que a nossa cidade tinha a oportunidade de ler esse filósofo. Depois de muitos anos de leitura, finalmente compreendia a implicância nietzscheana contra a tradição judaico-cristã. Tão forte é a influência dessa tradição que não há ateu que não seja afetado por ela. Católicos e evangélicos nem se fala, a moral cristã constitui o fundamento que norteia suas vidas. (Tal generalização não é verdadeira, mas para ilustrar meu argumento já serve.) Tudo teve início no mais pobre dos reinos que surgiram no Oriente Próximo: Judá. Em sua capital, Jesuralém, Salomão (que a arqueologia acaba de constatar que não era rico como exagera a narrativa mítica) constrói o Templo do Deus de Israel. A unicidade em torno desse templo foi meia salvação do povo judeu. A outra metade viria mais tarde (século VII a. C.), com um rei que descendia de Salomão: Josias. Quarenta e poucos anos antes de Judá cair sob o domínio da Babilônia, Josias teve a mais brilhante idéia para o futuro judeu, qual seja, a de reunir todos os escribas, profetas, contadores de causo e outros para a compilação de um livro que reunisse todo o passado lendário e histórico, desde o princípio dos princípios até ao presente. Assim nasceu a Bíblia, o templo móvel que partiria de Jerusalém para o mundo ocidental pelas mãos de um pregador viajante e arrojado, o grande idealizador e divulgador do Cristianismo, Paulo de Tarso. Suas viagens e pregações não poderiam começar melhor, por uma Grécia exaurida religiosa e culturalmente. O apóstolo levou um novo alento, de que este mundo é assim mesmo (feio e mau, como bem definiu Nietzsche).

quinta-feira, 1 de maio de 2008

IGNORANTE E INVEJOSO

Ao final do texto A quarta frustração, postado abaixo (e que será publicado no Expresso Ilustrado de amanhã), escrevi a seguinte observação: (Leitor, caso tiveres dúvida acerca da autoria da idéia que defendo acima, digita no Google "a quarta frustração". Certamente, nada encontrarás que se assemelhe). Este blogueiro fazia sua defesa prévia contra qualquer acusação de plágio, mera interpretação de idéias alheias (o que comumente ocorre em trabalhos acadêmicos, artigos científicos e quejando). A originalidade da idéia, a quarta frustração da humanidade a partir da Genética, forçou-me a escrever a observação entre parêntesis. Outro participante da blogosfera santiaguense havia denunciado plagiadores num post sobre política, por isso a preocupação em afirmar a autenticidade do meu texto. Em nenhum momento fui acariciado egocentricamente pela jactância, ou por qualquer pensamento imperfeito que constitui a vaidade humana, como acusa este comentário que recebi anonimamente: "O texto estava muito bom até o comentário do rodapé. Quanta vaidade, meu caro. Mas afinal, era esse o foco do texto, não?". Por parte, como dizia Jack, o Estripador. Se o texto estava muito bom, não será uma observação de rodapé, metatextual, que o transformará num texto muito ruim. Assim falou Zaratustra, Para além de bem e mal, A genealogia da moral... não perderam o brilho apofântico com as confissões egolátricas de seu autor (Nietzsche), quando este já sofria da doença que o internaria numa clínica. O Sr. Anônimo me interpreta como vaidoso (apenas pelo conteúdo da nota). O título da minha coluna, Crítica e autocrítica, possui a coerência de também me incluir entre os humanos que pecam pelo narcisismo individual e especista. Penso que, no momento em que vejo em mim esse narcisismo, liberto-me dele (podendo criticar à vontade). Se reivindicar a autoria de uma idéia é sinônimo de vaidade, Sr. Anônimo, então sou vaidoso. É melhor sê-lo do que não ter idéia alguma, ou sentir-se diminuído com a idéia dos outros. Ignorante e invejoso, Sr. Anônimo.

VISÃO POÉTICA

Ao me levantar ontem de manhã, entre seis e sete horas, fui à área de serviço para calçar meus coturnos, olhei para a noite que sumia depressa na direção oeste e pensei: essa visão merece um poema. Desde pequeno, ouvi falar na "barra do dia" que chega, nunca no seu oposto. Dessa forma, escrevi os seguintes decassílabos:
oo
o dia chega
oooooooooono apagar
ooooooooooooooooooodas luzes
a noite foge
ooooooooooparalém
do poente
atropelado
oooooooooobando
ooooooooooooooooooode avestruzes
de escuras penas
ooooooooooooooovai-se
de repente