quarta-feira, 29 de março de 2017

CONTRADIÇÃO, HIPOCRISIA...

Um observador atento há de perceber (sem julgamento ético) a contradição entre o discurso e a prática de certas pessoas que adquirem a condição discursiva. 
Ambientalistas que defendem o meio ambiente, mas usam muita água em suas piscinas no verão e muita lenha em suas lareiras no inverno.
Católicos que defendem o valor da família, mas têm ou tiveram amante, filho com a amante. Evangélicos que carregam a Bíblia debaixo do braço e não se cansam de falar em Jesus, mas querem enriquecer materialmente, ignorando um dos melhores ensinamentos do profeta: "Ninguém pode servir a dois senhores...".
Teístas que creem num deus infinitamente bondoso, mas querem a pena de morte, como forma de o estado debelar a violência crescente em nossa sociedade.
Pessoas que defendem os animais, mas comem sua carne com incontrolável gula. A propósito, cães e gatos são amados por que não se transformam em pratos deliciosos, ou não se transformam em pratos deliciosos por que são amados?
Cidadãos que defendem a moralidade na política, severos juízes dos corruptos, mas fazem negócios lucrativos ludibriando os outros.
Homens e mulheres que condenam o machismo, mas não escondem suas posturas despudoradamente machistas. Idem em relação ao racismo. 
A relação de casos é imensa, capaz de enfastiar o observador, que volta em silêncio ao seu retiro intelectual. 

quarta-feira, 22 de março de 2017

OUTONO OUTRA VEZ

O Outono chegou. Uma declaração que muitas pessoas fazem sem saber o mais profundo significado desta estação. Outono é mais que folhas amareladas, mais que se pode perceber no entorno. Outono é tempo de doçura correndo nas veias, de poesia... Sou outonal desde criancinha, com recaídas em outras épocas, como nas manhãs de outubro (por exemplo).
Outra coisa: poesia é doçura (já citado acima), mais que o domínio da palavra, do discurso poético.

segunda-feira, 20 de março de 2017

AMOR FATI

Vocês podem esconder aqui, dizer que a vida é uma maravilha, caminho de flores sem espinhos. Todavia, entre vocês, alguém está sofrendo pelo amor não correspondido, por  não conseguir adquirir isso ou aquilo, pela morte de um familiar... 
A vida é assim: hoje se ama, amanhã se odeia (não necessariamente nessa ordem). Por favor, não digam que este mundo é ruim. Amor fati, prescrevia Nietzsche. 

sexta-feira, 17 de março de 2017

PARADOXAL?

Algumas pessoas se surpreendem com o meu discurso e minhas atitudes voltados para o bem, malgrado o ateísmo que professo radicalmente. Esse estranhamento ainda remonta ao preconceito alimentado dogmaticamente pelo catolicismo ao longo da Idade Média e adentrando-se na modernidade, com processos inquisitoriais, que levaram milhares de gente inocente à fogueira. A descrença em deus era associada ao mal, ao diabo, que inspiraria aos homens o “supremo insulto” (MINOIS, 2014). Sabe-se hoje, a maldade se esconde, não raro, no coração daqueles que creem num deus bondoso extremamente. Persiste a dificuldade de meus semelhantes religiosos entenderem este aspecto (paradoxal na aparência) de minha personalidade: ser ateu e adepto de uma ética da outridade, que valoriza o bem-querer. 

quinta-feira, 16 de março de 2017

H.G.WELLS OUTRA VEZ

Desde muito, percebi uma das dificuldades para se compreender a história da vida na Terra, especialmente a história da humanidade: a passagem do tempo. Richard Dawkins se refere a ela reiteradas vezes. H.G. Wells escreve:
O tempo transcorrido, entre o império de Sargão I e a conquista da Babilônia por Alexandre o Grande, foi tão longo, cumpre recordar, quanto, pela menor estimativa, o tempo que medeia entre Alexandre o Grande e os tempos atuais. [...] Antes de surgir Sargão I, já a civilização havia percorrido metade do tempo de sua atual duração.


No segundo volume de História Universal, H.G.Wells publica um gráfico que favorece a compreensão dos tempos antigos.

terça-feira, 14 de março de 2017

OUTRO PARÁGRAFO ESCLARECEDOR

A História é maravilhosa, na medida em que esclarece sobre o passado obscurecido pelo tempo. Os mitos se dissolvem, e a realidade se desvela sob a luz do conhecimento.
Abaixo, transcrevo um único parágrafo da obra de H.G. Wells:

Não há nenhuma espécie de animal terrestre no mundo, como não há nenhuma qualidade de planta terrestre, cuja estrutura não seja essencialmente a de alguma espécie aquática que se tenha adaptado, por meio de modificações e diferenciações, à vida fora da água.

         Eis a descrição científica do fato: a vida animal e vegetal teve origem no mar, na água. Nada mais verdadeiro.
         A maioria que acredita em mitos acha um absurdo o homem ter evoluído do macaco, porque tal evolução nega o princípio divino da criação ex nihilo. O que dirão eles ao saber que parte do DNA humano nadava há mais de 300 milhões de anos?

         Já me cansei de ouvir o que dizem os cristãos, por exemplo. Independentemente das descobertas científicas (a prova dos nove), continuarão a acreditar no mito bíblico.

***

(Desde 1981, tenho lido incansavelmente sobre muitos assuntos, entre os quais religião. Iniciei com Krishnamurti, livre-pensador que releio até hoje, Freud, Erich Fromm, Nietzsche, entre outros. Como abandonar o conhecimento que adquiri com as leituras e observando a realidade, o grande laboratório para a sabedoria?)

sábado, 11 de março de 2017

PARÁGRAFO ESCLARECEDOR

"O poder dos registros escritos atingiu seu apogeu com o surgimento de escrituras sagradas. Nas civilizações antigas, sacerdotes e escribas acostumaram-se a considerar documentos como guias para a realidade. No início, os textos versavam sobre a realidade dos impostos, dos campos e dos celeiros. Mas, assim como a burocracia ganhou poder, os textos ganharam autoridade. Sacerdotes anotavam não somente as listas das propriedades de um deus, mas também seus feitos, mandamentos e segredos."
(Harari escreve em Homo Deus, p. 178.)

Isso foi o que ocorreu na Suméria, no Egito... Em Judá não seria diferente, na medida em que os judeus eram mestres do gênero literário midraxe hagada, que se apropria de histórias alheias para dar-lhes um fundo moral. A propósito, nas páginas transcritas na postagem anterior, Harari diz ser a interpretação o forte da aptidão rabínica.
Os primeiros textos bíblicos, não resta a menor dúvida, foram produzidos pelos sacerdotes letrados de Judá.



PÁGINAS ESCLARECEDORAS

Yuval Harari esclarece em seu Homo Deus (2016) o nó górdio da discussão que envolve religião e ciência, fé e razão, teísmo e secularidade:

“Quando saímos da esfera etérea da filosofia e observamos as realidades históricas, descobrimos que os relatos religiosos quase sempre incluem três partes:
1. Conceitos éticos, tais como ‘A vida humana é sagrada’.
2. Declarações factuais, como ‘A vida humana começa no momento da concepção’.
3. Uma combinação de conceitos éticos com declarações factuais, que resulta em orientações práticas, tais como ‘O aborto jamais deve ser permitido, mesmo um único dia após a concepção’.

“A ciência não tem autoridade nem capacidade para refutar ou corroborar os conceitos éticos elaborados pelas religiões. Entretanto, os cientistas têm muito a dizer sobre declarações factuais religiosas. Por exemplo, os biólogos são mais qualificados que os sacerdotes para responder a questões factuais do tipo ‘Os fetos humanos têm sistema nervoso uma semana após a concepção? Eles podem sentir dor?’.

“[...] Na Europa medieval, os papas, os papas desfrutavam de uma autoridade política de longo alcance. Quando um conflito irrompia em algum lugar da Europa, eles invocavam autoridade para decidir a questão. A fim de estabelecer sua reivindicação de autoridade, eles repetidamente lembravam aos europeus a Doação de Constantino. De acordo com esse relato, em 30 de março de 315 o imperador romano Constantino assinou um decreto oficial assegurando ao papa Silvestre I e a seus herdeiros o controle perpétuo da parte ocidental do Império Romano.

“[...] a história da Doação de Constantino baseia-se não apenas em conceitos éticos. Envolve também algumas declarações factuais muito concretas, as quais a ciência é altamente qualificada tanto para confirmar quanto para refutar. Em 1441, Loreno Valla – um sacerdote católico e pioneiro da linguística – publicou um estudo científico demonstrando que a Doação de Constantino era uma falsificação. [...] Hoje todos os historiadores aceitam que a Doação de Constantino foi forjada na corte papal em algum momento do século VIII.
[...]
“Hoje podemos usar um arsenal de métodos científicos para determinar quem compôs a Bíblia e quando. Cientistas vêm fazendo isso há mais de um século, e, se tiver interesse, você poderá ler livros inteiros sobre as descobertas feitas. Para encurtar uma longa história, a maioria dos estudos revisados por cientistas concorda que a Bíblia é uma coleção de numerosos textos diferentes escritos por autores humanos em séculos subsequentes aos eventos que se propõem descrever e que esses textos só foram reunidos num único livro muito depois dos tempos bíblicos. Por exemplo, apesar de o rei Davi ter vivido por volta de 1000 a.C., aceita-se que o livro do Deuteronômio foi composto na corte do rei Josias, de Judá, por volta de 620 a.C., como parte da campanha de propaganda destinada a fortalecer a autoridade de Josias. O Levítico foi compilado ainda mais tarde, não menos de 500 a.C.

“Quanto à ideia de que os judeus da Antiguidade preservaram cuidadosamente o texto bíblico, sema acrescentar ou subtrair coisa alguma, os cientistas ressaltam que o judaísmo bíblico não era, de todo, uma religião baseada numa escritura, e sim um culto típico da Idade da Pedra, semelhante aos de muitos de seus vizinhos no Oriente Médio. Não havia sinagogas, jessibás, rabinos – nem mesmo uma Bíblia. Em vez disso, havia rituais elaborados no tempo, a maioria dos quais envolvia sacrifício de animais a um ciumento deus no céu, para que ele abençoasse seu povo com chuvas na estação e vitórias militares. Sua elite religiosa consistia em famílias sacerdotais que deviam tudo a sua origem familiar e nada de proezas intelectuais. Os sacerdotes, em geral iletrados, ficavam ocupados com as cerimônias no templo e dispunham de pouco tempo para escrever ou estudar quaisquer escrituras.

“Durante o período do Segundo Templo, formou-se gradualmente uma elite religiosa rival. Em parte devido a influências persas e gregas, os estudiosos judeus que escreviam e interpretavam textos eram cada vez mais preeminentes. Esses estudiosos vieram a ser conhecidos como rabis, ou rabinos, e os textos que compilavam foram batizados de ‘a Bíblia’.
[...]
“O forte da aptidão rabínica era a interpretação.
[...]
“[...] nem sempre é fácil separar conceitos éticos de declarações factuais. Religiões apresentam a tendência irritante de transformar declarações factuais em juízos éticos, criando com isso uma grande confusão e obscurecendo o que deveriam ser debates muito simples.  Assim, a declaração factual ‘DEUS ESCREVEU A BÍBLIA’ muito frequentemente sofre uma mutação para se transformar na injunção ética ‘VOCÊ TEM DE ACREDITAR QUE DEUS ESCREVEU A BÍBLIA’.

“Isso levou alguns filósofos, como Sam Harris, a alegar que a ciência sempre pode solucionar dilemas éticos, pois os valores humanos sempre ocultam algumas declarações factuais. Para Harris, todos os humanos compartilham um único valor supremo – minimização do sofrimento e maximização da felicidade – e, portanto, todos os debates éticos são discussões factuais concernentes ao meio mais eficaz de maximizar a felicidade. Fundamentalistas islâmicos querem alcançar o paraíso para poderem ser felizes, os liberais acreditam que incrementar a liberdade humana maximiza a felicidade, e os nacionalistas alemães pensam que seria melhor para todo mundo se se permitisse que Berlim governasse o planeta. Segundo Harris, islâmicos, liberais e nacionalistas não estão em conflito ético; eles estão em desacordo factual sobre o melhor modo de alcançar seu objetivo comum.
[...]
“Costuma-se descrever a história da era moderna como uma luta entre ciência e religião. Na teoria, tanto a ciência como a religião estão interessadas acima de tudo na verdade, porém, como cada uma sustenta uma verdade diferente, estariam fadadas a se chocar”.

Para mim, não há como contrapor razão e fé, se esta se fundamenta num livro cheio de equívocos (que seus defensores acreditam ser escrito por uma divindade).  

quarta-feira, 8 de março de 2017

ÓBOLO MACHISTA

A nossa civilização ainda sofre a influência racional da filosofia grega e da irracional moralidade judaico-cristã. A fusão desses ADNs culturais gerou um ser teratológico, que avança racionalmente no domínio da realidade e continua preso irracionalmente à mítica do Velho e do Novo Testamento. Um dos aleijões morais desse ser (homem) é seu desprezo pelo feminino, cuja prova é a própria sociedade falocêntrica, machista. Os discursos com que ele se cercou para exercer seu domínio foram internalizados pela mulher desde antanho. Já no século XXI, ela aceita esta condescendência, este óbolo, esta migalha dada com falsa solenidade: um dia consagrado à mulher, um dia apenas.
(Prova da internalização do machismo é facilmente observada em mulheres da sociedade santiaguense, por exemplo, as quais sabem serem traídas pelos seus maridos e os aceitam passivamente.)

terça-feira, 7 de março de 2017

PIADA DO DIA


Sarney Filho afirma que a exploração da Floresta Amazônica é feita de uma forma sustentável pela primeira vez (kkkkk).

quinta-feira, 2 de março de 2017

ALGUNS COMENTÁRIOS INCONVENIENTES

AFETAÇÃO
Certo pastor evangélico (conhecidíssimo em nossa cidade) descrevia deus em seu programa de rádio. Entre os atributos do divino, ele enfatizou o poder e a suscetibilidade. O exemplo para esta última não poderia ser mais antropomórfico: o pai que orienta seu filho para o bem não vai gostar de ser ignorado, contrariado... Deus é assim (e assado), segundo o pastor, o que prova a criação dessa entidade sobrenatural à imagem e semelhança do homem.

ESPIRITUALIDADE
Meu interlocutor, recém-ingresso na Maçonaria, insistia que o homem necessita de espiritualidade (uma maneira de ser quase perfeita, na medida em que lapida a “pedra bruta”, blá-blá-blá). Para ele, espiritualidade é transcendência mística, religiosidade, e todo racional é frio, egoísta... Minha vontade imediata nesse ponto foi de encerrar a conversa. Idealização e preconceito a exigirem estatuto de verdade. Conheço a organização maçônica por intermédio de seus adeptos, pessoas cujo caráter deixa a desejar, mais egoístas e frios (nos negócios e nos relacionamentos) do que os racionais, ateus por excelência.

ESPIRITISMO
Outro interlocutor, recém-ingresso no espiritismo, exige-me argumentos que provam a não existência de deus, alma eterna, reencarnação etc. Como resposta, pedi-lhe que estudasse História Natural, mais especificamente o evolucionismo. A evolução da vida neste planeta desmistifica todos os mitos de divindades (elaborados pela fantasia humana). O Livro dos Espíritos, não tenho a menor dúvida, constitui uma engambelação bem articulada, falsamente intelectualizada, uma mentira com estatuto de verdade (que ainda faz igreja).