terça-feira, 27 de setembro de 2016

SOCIALISMO OU BARBÁRIE?

Ao fazer 80 anos, Luis Fernando Veríssimo repete um chavão anticapitalista: "socialismo ou barbárie?". Socialista caviar, o escritor faz em Paris seus passeios mais regulares (onde tem um apartamento, frequenta a boa mesa, visita exposições, assiste a concertos).
Depois de Rosa Luxemburgo, ISTVÁN MÉSZÁROS, filósofo húngaro marxista, intitulou um de seus livros de O século XX - Socialismo ou Barbárie?. O autor reúne as mais estapafúrdias teorias conspiratórias contra o "imperialismo" norte-americano, contra o capital, em favor do socialismo.
Fiz várias anotações às margens do livro, quando o li em 2006, todas contrárias às ideias do filósofo.
Alguns absurdos produzidos por István:
"O capital não vai ajudar nem fazer tamanho favor à classe trabalhadora pela simples razão de que é incapaz de fazê-lo";
"O extermínio da humanidade é um elemento inerente ao curso do desenvolvimento destrutivo do capital "...
Catastrofista, István relaciona a destruição a uma possível hecatombe nuclear, não a uma degradação ambiental (por exemplo).
Conclui seu livro em dezembro de 1999 desta forma: "Por isso, o século à nossa frente deverá ser o século do 'socialismo ou barbárie'".
Hoje Zero Hora publicou um artigo de opinião de Denis Lerrer Rosenfield (professor de Filosofia),que baixa a lenha nesse dualismo criado por Rosa Luxemburgo. O articulista pergunta ironicamente se a Alemanha dividida do século XX poderia ser exemplo desse dualismo: a ocidental como bárbara (errada), e a oriental, socialista (correta). Quem tem mais de 40 anos de idade sabe como terminou a separação pelo Muro de Berlim. Os trabalhadores da Ásia e África, com a desculpa de fugir da guerra, querem ir para a Alemanha ultracapitalista.
Por que será?
A esquerda caviar deveria saber a resposta.

segunda-feira, 26 de setembro de 2016

CARREIRAS/ELEIÇÕES


A paixão pela política chega ao seu clímax nestes dias, momento em que os debates se acirram com os candidatos no partidor e a massa de eleitores alinhada ao longo do andarivel. A agitação é geral, comparável às carreiradas de outros tempos. 
No domingo, com os parelheiros/candidatos em suas caixas/partidos, ocorrerá a largada. A velocidade de cada um deles será determinada pelo número de apostas/votos, hoje verificado eletronicamente. Em vista desse uso tecnológico, o resultado se saberá no final da tarde. 
A maioria dos apostadores/eleitores é convicta em quem apostar/votar, embora não consiga justificar tal convicção. 
O gosto pelas carreiras, a fé nesta ou naquela religião, a torcida para este ou aquele time de futebol, entre outras idiossincrasias, são decorrentes da instintualidade característica da grei humana. A razão ainda não consegue controlá-la, absolutamente. 
Para uma minoria, em contrapartida, a escolha recai no parelheiro/candidato que está à frente nas apostas/pesquisas. Estas são indesejáveis, na medida em que influenciam quem joga/vota nos favoritos. 
Mesmo que não se ganhe dinheiro com as eleições, diferentemente das corridas de cavalo, ganha-se o status da representatividade. A democracia é o ideal que move a paixão pela política, cuja culminância acontece neste dia 2 de outubro. 
Tão ou mais exaltados que a média dos brasileiros, encontram-se os santiaguenses. 
Boa sorte a todos (o que é prática e tecnicamente impossível).

sábado, 24 de setembro de 2016

MUSIQUINHAS DE CAMPANHA


A ignorância política de uma sociedade se expressa na forma escolhida pelos seus líderes para ganhar o voto (de crença e) de fato.
Essas musiquinhas, que poluem o dia todo para cima e para baixo, são da pior qualidade, rebotalho de uma degeneração estética sem precedente. Elas refletem o nível dos candidatos, sempre equivalente ao nível do populacho que os elege a um cargo público.
Toda música produzida no Brasil está em decadência, assim como a política.
Desafio você a me dizer o contrário.

sexta-feira, 23 de setembro de 2016

CAIO POETA



Comprei o livro com os poemas do Caio, publicado pela Editora Record. Organizado por Letícia da Costa Chaplin e Márcia Ivana de Lima e Silva, as quais cometem um erro imperdoável: a inclusão de uma letra de Gilberto Gil, Barato Total, como poema produzido por Caio. A editora prometeu uma nova edição corrigida. O livro é o resultado de tese de doutorado de uma das organizadoras. 
Grande saber acadêmico!
Os poemas são fracos, talvez por isso Caio não os tenha publicado. 
Coisas do mercado editorial.

quinta-feira, 22 de setembro de 2016

CREDO PETISTA

O petismo no Brasil, depois de se constituir num movimento arrivista, transforma-se, por um processo que a Psicanálise denomina de internalização, numa forma de credo.
Não se trata mais de convicção político-partidária, mas de fé, tão ou mais radical que a professada pelos fundamentalistas religiosos.
O séquito de lulistas, adiantando-se a uma desmitificação indesejável de seu ídolo, reage no ciberespaço (discursivamente) e na rua (com ações violentas), vestindo-o com uma inocência deslavadamente falsa.
O fenômeno social, autoalienador, envolve intelectuais e semianalfabetos, aqueles gestados nas universidades públicas e estes condicionados pela propaganda. Entre uns e outros, uma militância dogmatizada e turrona.  
A igreja levantada pelo petismo mantem-se aberta até 2018, na esperança da volta de seu “sebastião”.

terça-feira, 20 de setembro de 2016

MITO VERSUS REALIDADE

Gauchismo, telurismo, seja que "ismo" for, há um sentimento que excede o ser nascido no Rio Grande do Sul nestes dias. Por força desse sentimento, a Revolução Farroupilha já foi transformada em mito. O Hino Rio-Grandense é uma hipérbole poética, sem qualquer respaldo da realidade. A propósito, para fugir da realidade que nos acossa diuturnamente, saltamos para um mundo faz-de-conta, para um passado que não existiu, para uma grandeza que já perdemos... O nosso querido Rio Grande, que os exaltados querem transformar em país, despenca nos índices de produtividade, educação, segurança pública... Quais as nossas façanhas hoje serviriam de modelo a toda terra?

TRÁGICO

O HOMEM É UM SER TRÁGICO (na melhor acepção dada pelos poetas gregos da antiguidade). Ele sofre com a fugacidade da vida e sabe que a morte o espera inexoravelmente. Nada pode fazer para mudar esse destino natural, malgrado suas crenças, seus sonhos, suas obras... Antes de morrer, experimenta muitas formas do trágico, que o acaba assimilando ontologicamente.

segunda-feira, 19 de setembro de 2016

TU E ELE - IMPERATIVO

O imperativo é o modo verbal pelo qual se expressa uma ordem, pedido, desejo, súplica, conselho, sugestão, recomendação, solicitação, orientação, alerta ou avisoO anúncio publicitário e a receita são dois exemplos de gêneros textuais que empregam o verbo no modo imperativo.
A dúvida mais comum ocorre entre tu e ele, respectivamente, 2ª e 3ª pessoas do singular. 

Imperativo Afirmativo:
canta (tu)
cante (ele, você)

Imperativo Negativo:
não cantes (tu)
não cante (ele, você)

Todos os verbos da 1ª conjugação mantêm o modelo acima. A 2ª pessoa do singular, no afirmativo, vem do presente do indicativo (cantas, sem o s). No negativo, vem do presente do subjuntivo (cantes).

Imperativo Afirmativo:
Escreve (tu)
Escreva (ele, você)

Imperativo Negativo:
não escrevas (tu)
não escreva (ele, você)

Todos os verbos da 2ª conjugação mantêm o modelo acima. A 2ª pessoa do singular, no afirmativo, vem do presente do indicativo (escreves, sem o s). No negativo, vem do presente do subjuntivo (escrevas).

Imperativo Afirmativo:
parte (tu)
parta (ele, você)

Imperativo Negativo:
não partas (tu)
não parta (ele, você)

Todos os verbos da 3ª conjugação mantêm o modelo acima. A 2ª pessoa do singular, no afirmativo, vem do presente do indicativo (partes, sem o s). No negativo, vem do presente do subjuntivo (partas).

Os verbos em que a letra z aparece no final do radical, como dizer, fazer, trazer, introduzir, reduzir, traduzir etc., há duas formas para a 2ª pessoa do Imperativo Afirmativo:
diz ou dize (tu)
faz ou faze (tu)

Para lembrar:
cantA (tu)
escrevE (tu)
partE (tu)

O verbo pôr e seus derivados são considerados de 2ª conjugação, evoluíram de poer, cuja vogal temática e desapareceu no infinitivo impessoal.
Imperativo Afirmativo:
põe (tu)
ponha (ele, você)

Imperativo Negativo:
não ponhas (tu)
não ponha (ele, você)

domingo, 18 de setembro de 2016

DICA DE PORTUGUÊS

O verbo HAVER, no sentido de OCORRER ou EXISTIR, é impessoal, permanece na 3ª pessoa do singular.
Exemplo:
Sempre haverá polêmicas no Facebook.
Os verbos OCORRER e EXISTIR, ao contrário, flexionam-se em número e pessoa.
Exemplo:
Sempre ocorrerão/ existirão polêmicas no Face.
O equívoco no emprego de HAVER flexionado ocorre em razão de se tomar os outros dois verbos acima como modelo.
EXCEÇÕES:
Na função de VERBO AUXILIAR (com o sentido de TER), na função de verbo pessoal com o sentido de OBTER, CONSIDERAR e LIDAR, o verbo HAVER se flexiona.
Exemplos:
Os alunos haviam estudado pouco para a prova.
Os delatores houveram do juiz Moro a comutação da pena.
Os eleitores o haviam por incorruptível.
Os atletas paralímpicos houveram-se muito bem nos jogos. 

sábado, 17 de setembro de 2016

DEUS VERSUS RIQUEZA MATERIAL

Um dos dualismos a que o homem religioso do Ocidente é forçado a enfrentar nos últimos dois milênios, a divisão do mundo em material e espiritual, parece chegar ao fim nestes dias.
A princípio, Platão criara a oposição no âmbito filosófico: o inteligível, associado à alma, versus o sensível, associado ao corpo, depreciado como material e transitório.
O platonismo deu a Paulo de Tarso o fundamento para uma "ordem imaginada", que cativou corações e mentes da nossa civilização jovem.
Os evangelhos já haviam professado o problema dualístico, especialmente em Mateus, 6:24: "Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de aborrecer-se de um e amar ao outro, ou se devotará a um e desprezará o outro". Não se pode buscar a Deus e às riquezas materiais ao mesmo tempo.
O enunciado é de uma claridade meridiana, que não permite qualquer outra interpretação que não a objetivada por seus termos.
Um pregador brasileiro, chamado Edir Macedo, por volta do ano de 1977, ao criar a Igreja Universal do Reino de Deus, instituiu a doutrina da prosperidade.
Essa doutrina se desenvolve a partir da "lei de reciprocidade", que expressa mais ou menos o seguinte: "se o homem for bom para com Deus, Deus é 'obrigado' a ser bom de volta".
Lamentavelmente, o leitor ainda ainda não conhece A essência do Cristianismo, de Ludwig Feuerbach, para entender que esse deus obrigado a retribuir é muito pequeno, constituindo-se numa alteridade humana.
Depois de quase quarenta anos, as demais igrejas pentecostais e neopentecostais do Brasil se deixaram atrair pelo "sucesso" da doutrina do pastor bilionário.
Tais organizações religiosas conseguiram resolver o dualismo fundamental deus versus riqueza. Não faltam provas disso. A última é paradigmática: um pastor levou seu carro importado para dentro do templo, onde os fiéis, ao tocá-lo, pudessem receber a unção de prosperidade.
(Publicado em Considerações neoateístas, 2016.)

quinta-feira, 15 de setembro de 2016

BÁRBARO!


Wittgenstein é um filósofo bárbaro, único no século XX a fazer uma crítica à filosofia de todos os tempos. Nesse aspecto, ele se aproxima de Nietzsche.
No aforismo (sura) 4.003, o autor de Tratado Lógico-Filosófico escreve:
As proposições e questões que têm sido escritas acerca de temas filosóficos não são, na sua maior parte, falsas mas sem sentido... Não é surpreendente, que os mais profundos problemas não são de todo problemas.
Logo à frente,
A totalidade das proposições verdadeiras é toda a ciência natural (4.11)... A Filosofia não é uma das ciências da natureza (4.111)... O objetivo da Filosofia é a clarificação lógica dos pensamentos. A Filosofia não é uma doutrina, mas uma atividade. Um trabalho filosófico consiste essencialmente em elucidações. O resultado da Filosofia não é "proposições filosóficas", mas o esclarecimento de proposições (4.112).
A meu juízo, a lógica dessas verdades wittgensteinianas soa mais bela que toda a poesia. 

quarta-feira, 14 de setembro de 2016

EIS UM PENSADOR

Destaco da blogosfera este excerto de uma postagem do Júlio Prates:
"O resto é queimação de dinheiro, semana farroupilha, alegorias e fantasias, auto-apologia, comilança, beberagem, tudo em nome da tradição e do culto de um passado que ninguém sabe ao certo o que cultua ou porque rodam os CTGs. Mas vale a festa. Comida salgada, muita cerveja. Adoro ser gaúcho. Somos o máximo. O Estado mais politizado do Brasil, somos mais em tudo... E Santiago é o centro do mundo, tudo gira em torno do nosso umbigo".

Suas análises sociológicas, bem caracterizadas pela ironia, constituem algumas proposições inigualáveis na ensaística produzida em Santiago. 
À parte seu existencialismo confesso, sua reaproximação da igreja cristã, o Júlio é um pensador (que pensa com base empírica na própria dor).

O BEM QUE OFEREÇO

Algumas pessoas pensam (na condição de interlocutores indiretos), que penso conforme elas pensam. 
O pensamento delas, todavia, está distante de ser alteridade, distante de ser empatia. 
Na iminência de compreender meu próprio ego, por intermédio do autoconhecimento, já tenho condições de afirmar que é fazendo o bem aos outros que faço bem a mim mesmo. 
Por isso escrevo. 
O bem que ofereço são ideias que possam provocar nos outros uma vontade de melhor compreender o mundo e a si mesmas (e de se tornarem mais racionais).

terça-feira, 13 de setembro de 2016

BARBELA

No ano de 1980, o Barbela tinha um programa na Rádio Santiago, todos os domingos. Um dia, ele me convidou para fazer a leitura de uma crônica no ar.
Em 1985, fui a um sebo de Curitiba (quando lá residia) e, para minha surpresa, encontrei numa estante o livro Guri de campanha de meu conterrâneo. Fiquei eufórico e mandei uma longa carta ao Barbela, contando da minha alegria ao encontrá-lo em Curitiba. Ele me respondeu a carta.
Por volta do ano 2000, tivemos um pequeno embate sobre o Concurso Aureliano de Poesia, criado por mim em 1998. Ele discordara do resultado final, na medida em que o poema vencedor não pertencia à poesia crioula. A temática era livre, e Odemir Tex Jr., o laureado, hoje é um dos melhores poetas do Rio Grande do Sul. O Barbela desconhecia o regulamento.
O ano passado, com a ideia de fundar uma Academia Santiaguense de Letras, fui ao seu apartamento, para convidá-lo a participar como membro fundador. Na época, ele andava meio debilitado e não pode ir à reunião, que seria informal, mas que foi transformada em assembleia pelo presidente da comissão (malgrado a ausência de grandes nomes da nossa literatura, entre eles o Oracy e o Barbela).
Penso ter me redimido com o Barbela, se é que falhei na questão sobre o concurso acima declinado.
Um homem que deixará saudade.

SURPRESA...


Um casal de pardaizinhos veio fazer seu ninho sobre meu ar-condicionado (no vão entre o aparelho e o teto da sacada).
E AGORA...?
Não posso ligar o ar (que espantaria com os habitantes canoros).
O Passer domisticus incuba os ovinhos por 12 dias, e os filhotes levam mais ou menos 10 dias para abandonar o ninho.
A corrida contra o tempo será minha e dos passarinhos. Eles terão 22 dias de habitação tranquila caso não faça calor.
A escolha do meu ar pelos pardaizinhos se deve à existência de folhagens e flores que lotam a sacada (aos cuidados da Erilaine).

Logo logo virão as borboletas.

domingo, 11 de setembro de 2016

SUICÍDIO



HOJE O ZERO HORA traz uma ampla reportagem (oito páginas) sobre o mal invisível que leva à morte três gaúchos a cada dia: o SUICÍDIO. 
O 10 de setembro foi escolhido como o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, dentro da campanha "Setembro Amarelo". As instituições diretamente envolvidas no Brasil, como Associação Brasileira de Psiquiatria, passaram a difundir o slogan FALAR É A MELHOR SOLUÇÃO.
As redes sociais, que papagaiam sobre os assuntos mais diversos, continuam em silêncio em relação ao suicídio, ainda dominado pelo tabu.

(Detalhes das telas de Van Gogh ilustram a reportagem.)

quinta-feira, 8 de setembro de 2016

WITTGENSTEIN




Estou cursando a disciplina Filosofia da Linguagem, a mais difícil do curso até agora. Resolvi me aprofundar em Wittgenstein, um desafio de exigência intelectual extraordinária. 

EVANGÉLICOS VERSUS EVANGÉLICOS

Na página 162 de meu Considerações neoateístas, publico "Sunitas versus Xiitas", que passaram a se atacar, agora por uma causa mais política que religiosa (malgrado a religião do Islã constitua a causa primeira do conflito). 
Sam Harris, em seu livro A morte da fé, e Christopher Hitchens, em Deus não é grande, citam os derramamentos de sangue em diversas partes do mundo por motivos religiosos nas últimas décadas: na Irlanda do Norte, católicos contra protestantes;  no Líbano, cristãos contra muçulmanos; Na Índia, hindus contra muçulmanos; nas repúblicas que emergiram da Iugoslávia, católicos contra judeus, católicos contra cristãos ortodoxos, católicos contra muçulmanos ("limpeza religiosa" camuflada de "limpeza étnica"); em Israel e Palestina, judeus contra muçulmanos; na Cachemira, muçulmanos contra hindus; no Sudão, muçulmanos contra cristãos; no Sri Lanka, cingalês budista contra a minoria tâmil hindu; no Cáucaso, russos ortodoxos contra chechenos muçulmanos...
Em Santiago, evangélicos contra evangélicos, católicos contra evangélicos... Obviamente, sem a belicosidade dos conflitos acima. Aqui fica mais no plano dialético, do direito, principalmente daqueles que reagem ao aproveitamento da massificação religiosa para fazer política. Não demora, a blogosfera e o Facebook prenderão fogo.
Conheço algumas histórias terríveis de algumas pessoas religiosas e de pessoas políticas de nossa cidade. O poço em que se precipitou a ética não tem fundo, constituindo uma pequena amostra da crise que atinge o país. 
Depois que Edir Macedo eliminou a contradição explícita em Mt 6, 24, tudo é possível.  

   


terça-feira, 6 de setembro de 2016

CAMPANHA DA FRATERNIDADE 2016

A Campanha da Fraternidade deste ano tem o tema “Casa comum, nossa responsabilidade”, fundamentado no subtítulo da encíclica Laudato Si’, do papa Francisco, e o lema “Quero ver o direito brotar como fonte e correr a justiça qual riacho que não seca”, uma perífrase ideológica de Amós 5. 24. A campanha é organizada pelo Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC), uma pretensão de ecumenismo que encobre a atuação política da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
Minha primeira consideração diz respeito à inversão de valores diligenciada pela Igreja Católica (ou sob sua liderança). Desde Roma, ela passou, de uma forma crescente ao longo dos séculos, a se importar mais com o terreno, material, e menos com a (sobre)natureza espiritual, a essência cristã. Em passagens diversas dos evangelhos, Jesus distinguiu dois modus vivendi – entre esta vida e a vida-além, entre o que é de César e o que é de Deus. Paulo de Tarso, o grande pregador, aprofundou ainda mais a diferença entre os dois mundos. As maiores intervenções da Santa Sé contribuíram significativamente para fazer da Terra um “lacrimarum valle” (conforme a oração da Salve Rainha). Não bastassem os processos inquisitoriais, com perseguição, prisão, tortura e morte de centenas de milhares de homens e mulheres, o poder de sotaina apoiou as piores guerras religiosas da história. Mas não há mal que sempre dure: graças à secularização, o Catolicismo entrou em decadência, afundando-se nas próprias contradições.
João Paulo II foi o primeiro líder católico a perceber o abismo em que se metera a igreja. No começo de seu pontificado, declarou bombasticamente que “Sobre toda propriedade privada, pesa sempre uma hipoteca social”. Um grito em favor dos pobres, que rompia com o liberalismo capitalista e dava argumentos à teoria da libertação, francamente marxista. A reação conservadora não demorou a retomar o controle doutrinário. Sua figura mais proeminente era Joseph Ratzinger, que acabou usando o Anel do Pescador109.
Atualmente, o papa Francisco vem surpreendendo o mundo com um discurso antidogmático, socializante e pró-científico. Por muito menos, homens e mulheres seriam levados à fogueira pelos tribunais da Inquisição. Depois de um longo silêncio da Igreja acerca das maiores descobertas da ciência (uma autopenitência pelo processo contra Galileu), o Papa afirma que o big bang e o darwinismo são perfeitamente compatíveis com a ideia de um deus criador.
Essa tergiversação do tema foi necessária para submetê-lo agora a uma análise mais séria. Os parágrafos acima insistem na tese de que a Igreja Católica abandona os dogmas metafísicos, para, cada vez mais, ocupar-se com as ordens imaginadas pela laicização. A encíclica Laudato Si’, assinada pelo pontífice, mais parece uma agenda ecológica, que os países não conseguem formular (não obstante os esforços nesse sentido). Ainda que a preocupação com o ambiente deste “Vale de Lágrimas” tenha pautado documentos de papas anteriores, é com Francisco que ela se efetiva discursivamente. Sua concepção de uma “ecologia integral” é “inspirada” no modelo do santo xará, Franscisco de Assis110. “Irmã” ou “mãe”, o planeta ganha uma outra metáfora: casa comum. (No tópico 38, o autor incorre no equívoco que compara as regiões de floresta – Amazônia e Bacia do Congo – com um pulmão. Floresta e pulmão são antípodas, respectivamente, na produção e no consumo de oxigênio, ou no consumo e produção de dióxido de carbono.)
A nossa “casa comum”, sempre exposta às catástrofes naturais de pequenas ou grandes montas, vê-se ameaçada pelas mudanças climáticas atuais. Toda tecnologia e todo desenvolvimento não foram suficientes para distribuir os bens produzidos de uma forma igualitária. As diferenças entre ricos e pobres são geradoras de injustiça – segundo a interpretação idealista cristã, em franca contradição com a ideologia do Sermão da Montanha. Perante o atual estágio de degradação generalizada, esfuma-se a perspectiva de os pobres se tornarem ricos. Para que tal ocorresse, necessitaríamos mais três planetas (em iguais condições de temperatura e pressão). Parte do estrago ambiental é atribuída à sanha de progresso, que caracteriza o homo sapiens desde o princípio do Neolítico.
A casa encontra-se dividida. O papa quer pôr ordem nela, como se isso fosse possível pela equalização dos direitos de seus ocupantes. Mais que as políticas, as religiões impossibilitam uma casa comum. O próprio cristianismo dividiu-se com guerras fratricidas. Francisco representa apenas o segmento católico. De sua zona de conforto, chamada Vaticano, ele parece desconsiderar os fiéis de outras religiões, os quais dividem a casa a partir de crenças em deuses diferentes. Sua guinada secular, quem sabe, já constitui uma reação ao fundamentalismo islâmico, que ameaça o mundo cristão em seu território natural – a Europa.
A Campanha da Fraternidade no Brasil tem o objetivo geral de

Assegurar o direito ao saneamento básico para todas as pessoas e empenharmo-nos, à luz da fé, por políticas públicas e atitudes responsáveis que garantam a integridade e o futuro de nossa casa.

O lema escolhido pelo CONIC é uma interpretação forçada de Amós (lunático bíblico que não se reconhecia como profeta, mas previu muito fogo para as nações vizinhas e desterro de Israel): “Antes corra o juízo como as águas, e a justiça como ribeiro perene”. Jeová estava cansado dos holocaustos em seu nome, melindrado com a idolatria de outros deuses (mais uma vez). Também ele evoluiu através dos tempos, clamando por juízo e justiça. A propósito, juízo e direito podem ser tomados como sinônimos? Outra questão: por que essa obsessão pela leitura do Velho Testamento? Ele remete mais facilmente aos temas seculares?
O objetivo de saneamento básico para todos não é uma intromissão da religião na política? O estado tem condições de atender cem por cento à demanda, sem afetar ainda mais o meio ambiente? Desenvolvimento autossustentável é um mito moderno. Não há recursos suficientes para inverter o vetor da degradação em seu curso acelerado. As nações mais desenvolvidas do mundo são, concomitantemente, as que mais poluem o ar, a água e o solo. A vida é assassinada no atacado.
Por derradeiro, o ecumenismo da campanha se refere ao planeta como um todo, ao Brasil, ou ao conselho de cinco igrejas?

(Publicado em meu livro Considerações neoateístas.)

sábado, 3 de setembro de 2016

EM DEFESA DO ELEITOR

O eleitor brasileiro amadurece com as crises políticas, malgrado o desconhecimento ou a subestimação daqueles que se candidatam a um cargo público – em Brasília ou em Confins do Campo. Ele não mais se deixa engambelar pelo sorriso, pelo cumprimento, pelo gesto afetuoso, pela promessa mirabolante, fora da realidade, como a de industrializar Confins do Campo agropastoril em plena crise econômica. Ele não mais acredita nas promessas, embora responda ao sorriso, ao cumprimento, ao gesto afetuoso (como recomenta uma boa educação). Ele se cansou do assédio em sua casa, na rua, no clube, sabendo ser sua importância provisória, com data de validade definida. Ele sabe agora que depois das eleições não receberá sorriso, cumprimento e gesto cordiais. No máximo, será um número a dar legitimidade democrática e carta branca ao candidato eleito. As promessas de campanha não serão cumpridas, uma verdade manjada de que está consciente o eleitor agora. Os projetos com objetivos sociais se reduzem aos interesses particulares dos eleitos. A reeleição é um desses interesses pessoais, porque, além dos vencimentos generosos pagos pela União, estados e municípios, o carreirista político ganha notoriedade. Tardiamente, essa notoriedade começa a diminuir, na medida em que o eleitor evolui com os próprios equívocos. Hoje o cidadão comum clama por uma reforma política, constitucional, que seja acompanhada de uma revolução moral, de norte a sul deste país. 

PESQUISA ELEITORAL


Alguns sujeitos de enunciação contestam com ironia os dados da primeira pesquisa para prefeito de Santiago, publicada no Expresso Ilustrado de ontem. 
Sugiro a eles que recortem a página da pesquisa e de outras que sairão até outubro, comparando-as com os dados das eleições. 
Caso a diferença entre os dados da pesquisa e os efetivados for muito acima da chamada "margem de erro", confirmar-se-á o que julgam intempestivamente neste momento.
Caso contrário, havendo aproximação entre a pesquisa e o resultado final, cabe uma retratação pública desses críticos de plantão.
Toda previsão pode ser submetida ao teste da realidade.
O horóscopo, por exemplo, geralmente não se confirma (a despeito de seus leitores diários destacarem apenas os raros acertos, desconsiderando a profusão de erros).
Até 2 de outubro.

quinta-feira, 1 de setembro de 2016

CONHECIMENTO OU PERNOSTICISMO?

EM DUAS OCASIÕES perguntei a professores jovens de Filosofia qual era o pensador de suas últimas leituras. Um deles (que lecionava na URI) respondeu-me de pronto: HEIDEGGER. O outro, da UFSM, foi mais excêntrico ainda: WITTGENSTEIN. Precisamente os dois filósofos mais difíceis da modernidade seculovintista. O primeiro, segundo as palavras de Theodor Adorno, "envolve em névoa a ontologização do ôntico", e o segundo, compreensível a muito poucos. O que pode ser inferido da resposta dos professores? Uma indireta para encerrar o diálogo, coerente com a máxima wittgensteiniana de que se deve calar para aquilo que não se pode falar? É preferível essa análise a apontar para uma ostentação de pernosticismo intelectual.
(P.S.: O professor da URI não é Dirceu Alberti, um humilde amigo da sabedoria.)

UMA FARSA?

Relativismo, subjetividade... Não há outra classificação para a livre interpretação da lei. Livre e equivocada.
Vejam o que prescreve o Parágrafo único do Art. 52 da Constituição Federal:
"Parágrafo único. Nos casos previstos nos incisos I e II, funcionará como Presidente o do Supremo Tribunal Federal, limitando-se a condenação, que somente será proferida por dois terços dos votos do Senado Federal, à perda do cargo, com inabilitação, por oito anos, para o exercício de função pública, sem prejuízo das demais sanções judiciais cabíveis".
O QUE É UMA PROPOSIÇÃO?
Proposição é tudo o que é informado por uma sentença (constituída por um conjunto de palavras).
Qual é a proposição acima?
Todo o parágrafo único.
A informação básica é a seguinte: A condenação deve se limitar à perda do cargo, com inabilitação para o exercício de função pública, sem prejuízo das demais sanções judiciais cabíveis.
Alguns senadores do PMDB, que não merecem estar sob a liderança facciosa de Renan Calheiros, interpretaram corretamente.
Não se pode separar a informação acima em duas.
POR QUÊ?
Os elementos ligados pela preposição COM não apresentam sentido individualizado, separado, mas é dependente da união de todos os elementos que a sentença vincula.
A votação, em separado, de 1) perda do cargo e 2) inabilitação para o exercício da função pública poderia resultar no absurdo de a presidente não sofrer a perda do cargo e ser inabilitada.
Um dos senadores chegou a levantar essa hipótese, mas o ministro do Supremo fez ouvidos moucos, deferindo o pedido da votação fatiada.
Não penso que houve acordão, sob pena de transformar o julgamento numa farsa (já delineada com a negociação de votos).