O homem, ao criar a história a partir
da escrita, ampliou a duração de seus ciclos conhecidos, medidos até então pela
passagem dos dias, das fases da Lua, das estações, dos anos, das gerações...
Limitado à oralidade, ao presente, o
homem primitivo vivia dentro de uma bolha representada pela própria memória,
fora da qual havia apenas esquecimento. Os causos, as lendas e os mitos eram
como que uma ponte lançada sobre o desconhecido, sem um tempo e um lugar
definidos para sua fixação.
Ainda há uma dificuldade de se pensar
ciclos maiores, malgrado o recurso da história: mil anos, cinco mil anos, um
milhão de anos, cem milhões, um bilhão...
O tempo registrado pela história é
quase uma brevidade dentro da evolução da vida humana. Pouca coisa é conhecida
dos cinco mil anos anteriores, cujo marco zero coincide mais ou menos com o
início do Neolítico. O que aconteceu nos últimos cinco milênios do Paleolítico?
Mal sabemos que os humanos passaram a desenvolver o processo de domesticação
das plantas e dos animais. Como os homo sapiens modernos viveram
entre 20.000 e 15.000 anos AP? Certamente, adaptando-se ao grande degelo. Num
recuo maior, o que aconteceu com os nossos ancestrais entre 70.000 e 65.000
anos AP? E entre 200.000 e 195.000 anos AP?
O período de cinco mil anos é tudo o
que conhecemos entre a Suméria, com a invenção da escrita cuneiforme, e o
presente.
Qualquer um dos períodos citados
acima teve uma importância inimaginável. As atividades humanas ao longo de
cinco mil anos vão muito além do provimento de comida, por intermédio da coleta
e da caça. Durante a última glaciação, por exemplo, cinco mil anos não foram
suficientes para abarcar a extensão do trabalho em construir vestes e abrigos
quentes, em manter o fogo aceso - o real e o metafórico (assimilado pelo
espírito do homem).
A falta de conhecimento (e de
memória) produz contra o passado um discurso tipo uvas verdes, revelador
do menosprezo, do orgulho e da ingratidão do dito homem civilizado.
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