terça-feira, 1 de dezembro de 2015

CICLOS VITAIS

O homem, ao criar a história a partir da escrita, ampliou a duração de seus ciclos conhecidos, medidos até então pela passagem dos dias, das fases da Lua, das estações, dos anos, das gerações...
Limitado à oralidade, ao presente, o homem primitivo vivia dentro de uma bolha representada pela própria memória, fora da qual havia apenas esquecimento. Os causos, as lendas e os mitos eram como que uma ponte lançada sobre o desconhecido, sem um tempo e um lugar definidos para sua fixação. 
Ainda há uma dificuldade de se pensar ciclos maiores, malgrado o recurso da história: mil anos, cinco mil anos, um milhão de anos, cem milhões, um bilhão... 
O tempo registrado pela história é quase uma brevidade dentro da evolução da vida humana. Pouca coisa é conhecida dos cinco mil anos anteriores, cujo marco zero coincide mais ou menos com o início do Neolítico. O que aconteceu nos últimos cinco milênios do Paleolítico? Mal sabemos que os humanos passaram a desenvolver o processo de domesticação das plantas e dos animais. Como os homo sapiens modernos viveram entre 20.000 e 15.000 anos AP? Certamente, adaptando-se ao grande degelo. Num recuo maior, o que aconteceu com os nossos ancestrais entre 70.000 e 65.000 anos AP? E entre 200.000 e 195.000 anos AP? 
O período de cinco mil anos é tudo o que conhecemos entre a Suméria, com a invenção da escrita cuneiforme, e o presente.
Qualquer um dos períodos citados acima teve uma importância inimaginável. As atividades humanas ao longo de cinco mil anos vão muito além do provimento de comida, por intermédio da coleta e da caça. Durante a última glaciação, por exemplo, cinco mil anos não foram suficientes para abarcar a extensão do trabalho em construir vestes e abrigos quentes, em manter o fogo aceso - o real e o metafórico (assimilado pelo espírito do homem). 
A falta de conhecimento (e de memória) produz contra o passado um discurso tipo uvas verdes, revelador do menosprezo, do orgulho e da ingratidão do dito homem civilizado. 

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