quinta-feira, 3 de setembro de 2015

LINGUAGEM DO ÓCIO

A arte nasceu como uma das linguagens do ócio, transformando-se no melhor produto da revolução cognitiva iniciada pelo homo sapiens há setenta mil anos. Antes disso, os indivíduos de nossa espécie dedicavam tempo integral à sobrevivência de si mesmo e do seu grupo social. Já é consenso entre os cientistas de que duas causas determinaram a supremacia humana: a propensão genética para cooperar e a invenção de armas de longo alcance. Bem alimentado e protegido, o homem teve tempo de sobra para fabricar objetos artísticos (para além do uso necessário) e pintar nas paredes rochosas das cavernas. Assim que passou a domesticar plantas e animais, em cartas regiões do planeta em que existiam plantas e animais para serem domesticados, a população humana cresceu exponencialmente, podendo manter em ocupação exclusiva o artesão e o guerreiro. Os grupos primitivos, que não dispunham de cereais ou de carne, sucumbiram ante a própria necessidade ou sob o domínio de grupos invasores. A propósito, essa é a teoria que melhor explica o desaparecimento dos neandertais (ainda no Paleolítico). Ao longo da história registrada, as artes sempre floresceram em meio à riqueza, produzida ou usurpada, da Suméria ao século XXI, passando pelo Egito, Grécia, Roma imperial, Europa renascentista, mais tarde romântica, mais tarde industrializada. O excedente de tempo e de capital ainda mantém a produção e o mercado da arte na atualidade. Aos primeiros sinais de uma crise na economia global, todavia, não resta dúvida que a cultura estética sofrerá um encolhimento a olhos vistos. 

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