Pero Vaz de Caminha, escrivão
da armada portuguesa que chegou a este continente em 1500, escreveu ao rei D.
Manuel I:
A
terra em si é de muito bons ares... Águas são muitas; infindas. E em tal
maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo, por bem das
águas que tem. Porém o melhor fruto, que nela se pode fazer, me parece que será
salvar esta gente. E esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza em ela
deve lançar. [...] Quanto mais disposição para se nela cumprir e fazer o que
Vossa Alteza tanto deseja, a saber, acrescentamento da nossa santa fé.
Por que cito Caminha?
Não é para trazer à baila a questão dos nativos, que deviam
ser salvos pela doutrina cristã. A primeira coisa que diria a esse respeito é
de que houve uma perdição imposta pela cultura eurocêntrica.
A citação acima serve de mote para analisar meu patriotismo,
o qual se encontra sub judice, nas mãos de um juiz extremamente
(auto)crítico – a própria razão.
No ano 2000, participei de um concurso nacional entre os
universitários, que consistia em escrever uma carta aos portugueses, a
tematizar tudo o que o Brasil tinha de melhor no presente.
Sobre o território brasileiro, descrevi sua multifacetada natureza
geográfica com a minúcia que faltou ao missivista apenas desembarcado de
além-mar. Duas décadas mais tarde, não mudaria uma vírgula da descrição.
O problema está em sua gente. Os índios não foram salvos ao
longo da colonização e da nação independente. Hoje descrevo o povo como um
motivo para repensar meu patriotismo. Mais que representá-lo no poder, os
políticos constituem uma amostra do tipo brasileiro – para o qual não há
salvação.
Mario Quintana foi preciso: “Se eu amo o meu semelhante? Sim. Mas onde encontrar o meu semelhante?”.
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