sexta-feira, 1 de novembro de 2019

RINCÃO TERRUNHO

       Caio Fernando Abreu referiu-se carinhosamente a Santiago como Passo da Guanxuma. Assim ele se expressou na crônica belíssima Raiz no Pampa, cuja motivação foi a ida à Terra dos Poetas para a inauguração de sua foto na galeria dos escritores santiaguenses no Centro Cultural.
        Antes de querer imitar Caio, também atribuo um nome afetivo para o lugar em que nasci e para onde retorno com frequência: Rincão. A primeira referência topográfica foi Rincão dos Machado, depois rincão apenas, que designa ainda o rincão e Santiago ao mesmo tempo. À medida que me afasto do rincão terrunho, conduzido pelos móveis universais da cultura, mais necessidade tenho de retornar a ele (para beber de sua água).
        O rincão já foi o universo inteiro durante minha infância. Eu pertencia a ele em toda minha pequenez, não determinante para ignorar a beleza que o constituía naturalmente: campos, matas, sangas, açudes, o rio Rosário, cavalos, bois, pássaros, manhãs azuis... Com o meu crescimento e, consequente, partida para mundos maiores, o rincão migrou para dentro de mim (a aumentar sua dimensão afetiva com a distância).
        Hoje deixo Curitiba rumo à minha Santiago, onde devo lançar Claro & Profundo – Poemas Reunidos na XXI Feira do Livro (no dia 9 de novembro, às 19 horas). Depois de 25 anos, viajo de ônibus outra vez, para curtir a alegria do retorno mais demoradamente (como o fazia em minha juventude).
        O rincão dentro de mim é poesia, uma metáfora que me remete à realidade de um lugar, ao qual ainda pertenço de certa forma. Esse voltar a Santiago, como escreveu Caio, é “um assunto espiritual”.

        Curitiba, 1º de novembro de 2019.

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