quarta-feira, 18 de setembro de 2019

PERCEPÇÃO E CURA


        Um critério irrefutável de normalidade é a pessoa buscar o prazer e evitar a dor. Freud denominou essa tendência de Princípio do Prazer (ou Princípio da Realidade, quando se considera o mundo exterior).
    O sofrimento psíquico parece ter como um de seus sintomas o não querer se livrar dele. O indivíduo se afasta dos demais membros de sua família, de seu círculo de amigos ou colegas de trabalho, enfim, dos ambientes sociais a que pertence obrigatoriamente. A causa da doença não mais denuncia um problema exógeno, como pensa muita gente grande, mas reporta ao interior do próprio indivíduo.
         Destarte, o que é anormal no depressivo, por exemplo?
         Em primeiro lugar, a inverter a ordem acima, constitui a forma como o indivíduo reage às injunções de seu entorno social e, em segundo, a ocultação do desastre instaurado em sua psique.
         A percepção da doença, o que é paradoxal, ocorre pelos outros que circundam o universo singular do depressivo. Tal percepção, em muitos casos conhecidos, representa a parte inicial e indispensável para o processo da cura. Nesse aspecto, reescreve-se o bordão foucaultiano, “vigiar e punir”, para “perceber e curar”.
         O indivíduo com o problema psíquico tem que despertar da letargia, do solipsismo em que vive (via de regra). Ele necessita desejar visceralmente não querer o sofrimento – antes que a patologia evolua para pior.

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