terça-feira, 16 de julho de 2019

UMBIGUISMO E ALTERIDADE

         Muitas pessoas são analfabetas, outras tantas são alfabetizadas apenas e desistem dos estudos regulares, (via de regra) forçadas pela necessidade de sobreviver economicamente. Elas correm entre a casa e o trabalho, entre o trabalho e a casa, entre a casa e o lugar de diversão...
         No início da Alegoria da Caverna, Sócrates (o alterego de Platão) pede para seu interlocutor imaginar “a maneira como segue o estado da nossa natureza relativamente à instrução e à ignorância”. Dentro de uma morada subterrânea, às sombras, viveriam os homens ignorantes. Libertos da caverna, à luz do Sol, desfrutariam os sábios e virtuosos. A dicotomia platônica representa dois mundos: o sensível e o inteligível.
         A maioria referida no primeiro parágrafo, segundo a alegoria de Platão, tomaria a ilusão como real. Ela não teria consciência da ideia do bem, por exemplo, ou num sentido moderno, mal saberia o que é alteridade.
         Ao rodar pela cidade, encontramos operários na construção, balconistas na loja, catadores de papel, entre outros trabalhadores, cuja renda é limitada pela falta de instrução. Sem noção do próprio limite, essas pessoas até se sentem felizes – sentimento que constitui uma impossibilidade para outras com empregos melhores.
         Na hipótese de um meteoro estiver em rota de colisão com a Terra, a colocar em risco a vida humana, os moradores no “subterrâneo” nada saberiam até o momento do impacto. Mesmo que ouvissem alguma notícia pelos meios de comunicação, talvez caíssem de joelhos, dobrados pela crença num castigo dos céus. Uma minoria, no entanto, ocupar-se-ia com a empresa de desviar o meteoro (de posse de uma tecnologia desenvolvida por ela).

         A possibilidade de salvar a humanidade no caso acima passa pelo saber, cujo impulso “é forte demais para que ainda sejamos capazes de estimar uma felicidade sem conhecimento ou a felicidade de uma ilusão firme” – no dizer de Nietzsche. 

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