terça-feira, 18 de dezembro de 2018

CONHECIMENTO E LIBERTAÇÃO


A ignorância natural é compreensível, como a que caracteriza toda criança. A ignorância condicionada é inaceitável, como a que persiste na caracterização da maioria dos adultos.
Dois mil e quatrocentos anos antes do presente, Platão criou a Alegoria da Caverna, para ilustrar o estado de ignorância. A ilustração continua válida hoje. Independentemente de todo avanço filosófico e científico, pouca gente se liberta das correntes no fundo da caverna, para sair dela por um caminho íngreme e conhecer a luz.
A ilusão sustentada por preconceitos e crenças ainda prevalece sobre a realidade, cuja superação exige um mínimo de conhecimento. A aventura dessa evolução é possível.
Entre os conhecimentos exigidos para uma instrução transformadora, inclui-se a História. Com base na experiência pessoal, sugiro que se comece com a leitura (estudo) sobre a Suméria, os primeiros passos dados pela nossa civilização no Neolítico. Na Mesopotâmia, teremos a explicação de como e por que o homem, por exemplo, criou deuses e organizou uma religião em torno dessa criação antropomórfica.
Em seguida, minha sugestão é a Biologia, a começar com a leitura atenta de A origem das espécies, de Charles Darwin. Dentro da caverna, o ignorante continua a opinar sobre o que não compreende, fazendo-o com o desdém do tipo “uvas verdes”. O estudo se deve demorar com outros biólogos que esclareceram sobre a evolução da vida depois de Darwin. Lista sugerida: Aleksandr Oparin, Desmond Morris, Ernst Mayr, Jared Diamond, J.B.S. Haldane, Richard Dawkins, Stephen Jay Gould, Theodosius Dobzhansky, entre outros.
Caso História e Biologia não forem suficientes, outros conhecimentos propiciam ao homem a instrução necessária para se libertar da caverna: Física, Psicologia, Filosofia... Entre os filósofos, destaco Francis Bacon, David Hume, Spinoza, Kant, Voltaire, Schopenhauer, Nietzsche, Rudolf Carnap, Lévi-Straus, Luk Ferry, Michel Onfray e Comte-Sponville.
Em todas as áreas do conhecimento, penso que os pensadores mais recentes dispõem de dados mais atualizados em que fundamentar suas ideias. Isso não pressupõe que se deve descartar todos os que vieram antes de Nicolau Copérnico, simplesmente porque eram geocentristas. Da mesma forma, preterir todos os cientistas que vieram antes de Darwin, uma vez que não conheciam a Teoria da Evolução. Antes de Freud, porque desconheciam o inconsciente. A História, para ilustrar, continua a ser construída à medida que novas descobertas arqueológicas são realizadas. Muito do mundo dentro e fora do homem ainda será conhecido, cito a cosmologia e a neurociência.
Certamente, o estudioso não evolui apenas com o conhecimento estabelecido. Ele deve viver intensamente e treinar seu espírito na observação da realidade fora e dentro de si.
O humanismo desenvolvido ao longo das últimas décadas me exige a ação de retornar à caverna (conforme Sócrates sugere a Glauco no diálogo de A República), para convencer meus semelhantes mais queridos a se libertarem da ilusão. Falta de respeito ou consideração (de que sou acusado algumas vezes), seria exatamente o contrário do que faço, isto é, permanecer egoística e silenciosamente numa zona de conforto, sob a luz meridiana. Para ficar num meio termo, decido-me pela escrita como estratégia para evitar o face a face.

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