terça-feira, 8 de maio de 2018

DESARMAMENTO VERSUS ARMAMENTO


Um espírito verdadeiramente crítico necessita colocar a si mesmo sob uma análise, com isso a superar o vulgo em sua tendência de ver no outro e de transferir a ele os defeitos próprios. Para ilustrar o conteúdo do expresso acima, cito a relação entre mim e o partido Novo.
O primeiro valor defendido pela organização política a que sou filiado é o das liberdades individuais. Isto é extraordinário: “o governo não deve decidir por nós questões que são importantes para o nosso destino”. Logo após o direito à vida, penso desde muito que a liberdade é o mais importante. Liberdade com o pressuposto da responsabilidade.
Uma das bandeiras mais radicais do meu partido é a revogação do estatuto do armamento. Não posso agitá-la nas esquinas, ou defendê-la em meu discurso, na medida em que tenho uma posição definida quanto ao uso generalizado de armas em nossa sociedade. Essa bandeira, todavia, não impediu minha filiação ao partido. Outras são mais importantes.
Os pais de nossos pais diziam que os homens tinham respeito uns pelos outros, porque andavam armados naqueles idos. Esse arrazoado é insuficiente ao determinar a causa do respeito. Esse predicado das inter-relações tinha antecedentes socioculturais, valores outros, ou internalizados pela família, ou impostos pelo estado.
Hoje a vida é pontuada pela mudança contínua, não há um tempo que tenha uma caracterização bem definida. Os dotados de uma visão mais observadora – entre os quais me incluo sem qualquer presunção – percebemos que, em meio à incerteza, à indeterminação, ao medo, novas necessidades surgem no lugar dos valores essenciais. O respeito de que se orgulhavam nossos avós não se observa nestes dias (de crise moral que afeta sociedade e estado).
O aumento da violência é um dado inquestionável, não obstante as pessoas andarem desarmadas. A revogação do estatuto e a liberação do uso de armas por todos (em razão do direito individual de cada um), todavia, não assegura a pacificação e a harmonia sociais. Não bastasse a falta de respeito em todos os âmbitos, a violência é potencializada pela droga (que se restringia ao álcool em tempos avoengos).
A distância entre o cidadão de bem e o criminoso diminui consideravelmente com a existência da arma de fogo, com grande chance de o criminoso roubar a arma de sua vítima. A oposição pode ocorrer entre dois cidadãos de bem, que, dominados por uma pulsão faz de um ou outro um assassino em alguns segundos.
Entre escolher a liberdade de o indivíduo consumir droga e a interferência do estado para coibir o tráfico violento ao extremo, não tenho outra opção. A segurança do todo não pode depender do direito da parte. (A propósito, por que não medidas políticas sobre o consumidor inclusive?)
Dessa forma, continuo a defender a liberdade, que deve ser exercida com restrições em certos aspectos – como o considerado acima. Espero que este posicionamento não provoque minha desfiliação sumária, mas que sirva de autocrítica para o partido Novo.

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