sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

POR QUE LEIO BAUMAN?


Nos últimos anos, venho fazendo as melhores leituras da minha vida. Não poderia ser diferente, levando-se em conta a evolução intelectual a que me submeto ao dialogar com grandes pensadores contemporâneos. O texto científico me causa tanta fruição quanto o filosófico e o literário, porque vejo com olhos iguais a verdade e a beleza.
Entre os autores que mais me exigem atenção, cito os seguintes: Richard Dawkins, Sam Harris, Jared Diamond, Yuval Harari, Luk Ferry, Daniel Dennett, Edgar Morin, André Comte-Sponville, Michel Onfray e Zygmunt Bauman. Não abandonei aqueles que despertaram em mim o gosto pelo conhecimento (no princípio dos anos oitenta): Friedrich Nietzsche, Charles Darwin, Sigmund Freud, Bertrand Russel, J. Krishnamurti, Erich Fromm e outros. Esses grandes revolucionários continuam sendo imprescindíveis para uma melhor compreensão da realidade.
Por que gosto muito de Zygmunt Bauman? O pensador polonês disserta sobre assuntos atualíssimos, sobre problemas de um planeta “negativamente globalizado”, que não mais admitem soluções locais. Leio Bauman, porque ele critica nossa sociedade, altamente consumista, a qual confunde felicidade com essa corrida frenética atrás das coisas. Leio Bauman, porque ele percebe claramente o fim do espírito sociável e sua antípoda nefasta, o individualismo radical. Leio Bauman, porque ele se debruça sobre a ética, certamente o campo mais fecundo e ao mesmo tempo necessário da filosofia prática. Leio Bauman, porque ele se adianta às minhas reflexões.
Ontem concluí a leitura de Tempos líquidos, o décimo livro do sociólogo (e filósofo) polonês a enriquecer minha estante. Nele é questionada a falta de segurança que assombra a modernidade líquida, a qual ainda alimenta quixotescamente uma “guerra contra o terrorismo”. Outro capítulo é destinado a analisar o paradoxo do capitalismo, que extrai sua energia vital da remoção de ativos, “asset stripping”, como uma cobra que se alimenta do próprio rabo. Em seguida, escreve sua a evolução da democracia, a luta contínua para associar direitos sociais a direitos políticos. O último capítulo, A utopia na era da incerteza, o autor constata que “você já não espera seriamente fazer do mundo um lugar melhor para se viver”, “a insegurança veio para ficar”.
O laboratório em que Bauman elabora seu pensamento é o mesmo que disponho aqui e agora. Para acessá-lo, basta ir até a janela deste apartamento e observar o movimento de pessoas e automóveis lá embaixo.