Tu pensas e tens certeza de que teu eu é indivisível, inviolável, senhor
absoluto de tua própria individualidade. O eu
é o centro, a base centralizadora de todas as percepções de teu corpo, de tua
consciência.
A verdade precisa ser dita (nem que faça
o mundo em estilhaços, no caso em pauta, o eu):
sinto muito te dizer que és sujeito e objeto de um autoengano.
Teu eu
é dividido em dois: o eu que vive a
experiência e o eu da narrativa. Por
acaso, sabias disso? Não sabias, certamente. Não te recrimines por isso, todavia,
a ignorância é a regra.
Na cadeira odontológica, quando o
dentista coloca a broca em tua boca e desgasta o dente (mesmo não estando
dolorido, em razão da anestesia), teu eu
é o da experiência. Nesse momento, o desconforto que tu sentes pode ser
quantificado por um nível alto (numa escala de 0 a 10).
Depois da experiência, passado um tempo
qualquer, o eu da narrativa avalia a
experiência, com tendência a ignorar sua duração, fazendo uma média entre o
desconforto/dor e o final, com o problema resolvido. Dessa forma, a experiência
narrada baixa o nível do desconforto/dor.
Para Harari (2016) “o eu da narrativa não agrega experiências –
ele tira uma média entre elas”. Em seu livro Homo Deus, Harari cita os estudos feitos por Daniel Kahneman (Nobel
de Economia) e Donald Redelmeier (Universidade de Toronto).
Cito
Harari, por puro academicismo. O que realmente queria dizer dispensa o último parágrafo acima.
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