quinta-feira, 25 de maio de 2017

EU (DIVIDIDO EM DOIS)

Tu pensas e tens certeza de que teu eu é indivisível, inviolável, senhor absoluto de tua própria individualidade. O eu é o centro, a base centralizadora de todas as percepções de teu corpo, de tua consciência.
A verdade precisa ser dita (nem que faça o mundo em estilhaços, no caso em pauta, o eu): sinto muito te dizer que és sujeito e objeto de um autoengano.
Teu eu é dividido em dois: o eu que vive a experiência e o eu da narrativa. Por acaso, sabias disso? Não sabias, certamente. Não te recrimines por isso, todavia, a ignorância é a regra.
Na cadeira odontológica, quando o dentista coloca a broca em tua boca e desgasta o dente (mesmo não estando dolorido, em razão da anestesia), teu eu é o da experiência. Nesse momento, o desconforto que tu sentes pode ser quantificado por um nível alto (numa escala de 0 a 10).
Depois da experiência, passado um tempo qualquer, o eu da narrativa avalia a experiência, com tendência a ignorar sua duração, fazendo uma média entre o desconforto/dor e o final, com o problema resolvido. Dessa forma, a experiência narrada baixa o nível do desconforto/dor.
Para Harari (2016) “o eu da narrativa não agrega experiências – ele tira uma média entre elas”. Em seu livro Homo Deus, Harari cita os estudos feitos por Daniel Kahneman (Nobel de Economia) e Donald Redelmeier (Universidade de Toronto).
         Cito Harari, por puro academicismo. O que realmente queria dizer dispensa o  último parágrafo acima.

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