segunda-feira, 10 de abril de 2017

CRÔNICA DO RINCÃO DOS MACHADO


 
Esta tarde chuviscosa e longa, depois da sesta, de um trabalho de marcenaria e do banho, propicia-me um momento adequado para escrever algo. Não basta o barulho da chuva como estimulante, o drink é fundamental para me indicar a “toca do coelho”.
A última expressão acima não significa que saio da realidade, para mergulhar feito Alice ao encontro de uma alegoria. Minha condição não é a de um personagem, o que me impõe tomar as rédeas da elocução. É exatamente isso que faço neste momento.
O Rincão dos Machado, costumo dizer às pessoas com quem me relaciono na cidade, representa meu cantinho telúrico, de uma poesia rude e delicada ao mesmo tempo. Rude como a vida no âmbito rural, delicada como as boninas que florescem no campo. Aqui encontro o silêncio (tão precioso aos indivíduos contemplativos), às vezes interrompido pelo canto dos pássaros, pelo volume do rádio ligado na cozinha, ou pelo som da chuva. Aqui encontro a simplicidade, tão agradável ao meu espírito. Aqui vivo a liberdade, depois de tantas dependências e enleios (que me fizeram penar anos e anos). Aqui meu pai e meu irmão também vivem livres, trabalham bastante é verdade, mas são donos de seus destinos.
A chuva que cai continuamente provoca um aumento no fluxo de água do rio Rosário, encobrindo a ponte que nos leva à cidade. Somos obrigados a dar uma volta maior, caso decidirmos experimentar as benesses da civilização. O lamentável é que as estradas continuam em péssimo estado, malgrado as promessas do prefeito.  
A tarde se foi, uma vez que as duas janelas da sala onde me encontro desapareceram do meu campo visual. A noite chega previsível, ainda mais silenciosa que a tarde. Apenas o coro dos sapos me chama a atenção (ao sair lá fora por um motivo óbvio). O açude está em festa.
Na conclusão desta crônica, para manter a coerência textual, devo retomar algo expresso em sua introdução. Dessa forma, digo que o drink estava ótimo. Pouco poético, mas autêntico como sói ocorrer ao realista,  que toma a liberdade de colocar o ponto final e pronto.

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