segunda-feira, 31 de outubro de 2016
sábado, 29 de outubro de 2016
TEMPO DE PITANGA
O ano demorava mais a passar ao longo da minha infância, marcado por ciclos sazonais – reconhecidos pelas frutas que davam em volta de casa, no campo e mata do Rincão dos Machado.
O ano iniciava-se com a melancia e o
melão, tão apreciados à sombra do cinamomo. Entre março e abril, a natureza
produzia goiaba do campo e ariticum (foi uma decepção saber mais tarde o nome
correto dessas frutas silvestres: feijoa e araticum). Logo depois, vinha a
vergamota, consumida ainda verde. Depois da geada, ela ficava mais doce (como a
laranja).
A
próxima estação, profusa em flores, produzia a pitanga. Nas cores laranja,
vermelha e preta. Eram demasiadamente doces as pitangas daquele tempo. Meus
lábios tingiam-se com o seu suco dulcíssimo.
Minha concepção do tempo mudou, mudei
também. A impressão é de que o ano passa mais depressa agora. O sabiá, todavia,
continua a cantar nas pitangueiras da redondeza, e estas continuam a produzir
seus frutos coloridos e doces.
Nesta manhã, fui ver meu irmão plantar
soja com o trator (plantio direto). Passei por um bosque de pitangueiras no
retorno, deliciando-me com as mais maduras.
sexta-feira, 28 de outubro de 2016
CRÔNICA DO RINCÃO DOS MACHADO
Os galos cantam a
qualquer hora da madrugada. Para não ligar as luzes da casa, vou ao banheiro
com uma lanterna (que deixo em pé ao lado da cama). Por volta das seis horas, o
pai se levanta, liga o rádio, ascende o fogo e toma chimarrão até clarear o
dia. Logo também me levanto, porque já dormi o suficiente. No campo, deita-se
cansado e se acorda maravilhosamente bem. Na cidade, vai-se para a cama
maravilhosamente bem e se levanta cansado. Depois dos galos e do pai, os pássaros
trazem a manhã com o som de seu canto diverso e encantador. Um vento frio sopra da serra, de onde
residiam Colpo e Fiorenza (meus ascendentes maternos). O céu ainda traz a
profundidade azul de outubro, com nuvens em forma de tufo a cruzá-lo levadas
pelo vento. Há paz para meus ouvidos, para meus olhos, para minha mente e
coração.
quinta-feira, 27 de outubro de 2016
O MELHOR DO PENSAMENTO UNIVERSAL
Com a mudança para o
Rincão dos Machado, minha biblioteca ficou reduzida a uma estante especial (num
total de cento e poucos livros). O critério para a eleição dos melhores ficou
por conta das últimas (re)leituras: Richard Dawkins (11 títulos), Sam Harris
(1), Daniel Dennett (1), Luc Ferry (8), Comte-Sponville (4), Michel Onfray (3),
Wittgenstein (4), Ludwig Feuerbach (1), Baudrillard (2), Christopher Hitchens
(2), Zygmunt Bauman (6), Cioran (1), Karl Popper (1), Darwin (2), Thomas Nagem
(2), Hannah Arendt (1), Will Durant (2), T. Kuhn (1), Carl Sagan (2), Bertrand
Russel (4), Theodor Adorno (2); Jared Diamond (3), Freud (28), Nietzsche ou escrito sobre (38)...
Outros autores e títulos respectivos: S. Jay Gould, O polegar do panda; Roger Scruton, Pensadores da Nova Esquerda; Jim Holt, Por que o mundo existe?; José Ortega y Gasset, A rebelião das massas; Raymond Aron, O ópio dos intelectuais; Eric Vorgelin, Reflexões autobiográficas;
Georges Minois, História do
ateísmo; Charles Taylor, Uma era
secular; Brian Greene, O universo
elegante; Stephen Hawking, O universo
numa casca de noz... Não é coisa pouca, tampouco o é de pouca importância.
O Rincão dos Machado, que tremia com a chegada do livro Olavo e Élida (há 50 anos), agora treme com o que há de melhor no
pensamento universal.
terça-feira, 18 de outubro de 2016
CHOVE CHOVE
Lá fora chove, chove...
chove aqui dentro,
onde aparento
a maior secura.
Já estou cheio,
quase afogando
na própria água.
O céu, lá fora,
desaba, cinzento,
me fazendo raso
e triste como quem chora
por dentro.
sexta-feira, 14 de outubro de 2016
DUAS PALAVRAS
Na condição de internauta
assíduo, penso sobre o ethos que
emerge das redes sociais online, especialmente as de relacionamento. Essa
predisposição intelectual não exclui a autocrítico, fazendo-me evoluir do
solipsimo para a alteridade.
Solipsismo e
alteridade.
Eis as duas palavras,
dois significantes.
Primeiramente,
transcrevo seus significados (de acordo com Houaiss):
solipsismo s.m.
1 FIL doutrina segundo a qual só
existem, efetivamente, o eu e suas sensações, sendo os outros entes (seres
humanos e objetos), como partícipes da única mente pensante, meras impressões
sem existência própria 2 P. EX. vida
ou conjunto de hábitos de um indivíduo solitário.
alteridade s.f. 1 natureza ou condição do que é outro, do que é distinto 2 FIL situação, estado ou qualidade que
se constitui através de relação de contraste, distinção, diferença.
O indivíduo solipsista
constrói o mundo ao seu redor a partir de suas experiências pessoais, não
necessitando do outro para a afirmação do próprio eu. O outro e tudo mais
representam o segundo o segundo termo da relação sujeito–objeto, oposição que
acaba em conflito entre dois solipsistas. O (auto)isolamento é uma saída para
esse tipo de indivíduo, geralmente atenuado com algum bichinho de estimação.
A alteridade, ao contrário,
caracteriza o indivíduo que se coloca no lugar do outro, que o considera como
definidor de sua individualidade, “espelho” ontológico da interdependência. O
outro também é sujeito, condição mínima para a sociabilidade, para o diálogo
(respeitando-se as diferenças). Essa qualidade se aproxima de outras duas, que
são fundamentais para um relacionamento humano saudável: empatia e altruísmo.
Em vista do acima
exposto, penso contribuir com meus amigos internautas em dois aspectos: a
apresentação elucidativa de solipsismo e alteridade; e a (auto)crítica em
relação ao comportamento nas redes sociais, questionando-o sobre uma inclinação
solipsista.
quinta-feira, 13 de outubro de 2016
BOB DYLAN GANHA O NOBEL DE LITERATURA
A Academia Sueca surpreende (mais uma vez), conferindo o Prêmio Nobel de Literatura ao cantor BOB DYLAN.
Justificativa: Dylan criou novas expressões poéticas dentro da tradicional canção americana.
BLOG LIGADO
No dia 17 de agosto, postei aqui o que se segue:
O ASSASSINATO é um crime cada vez mais frequente em Porto Alegre, Santa Maria e noutras cidades brasileiras.
A família vitimada pede por justiça, reivindica por políticas públicas que priorizem mais segurança.
Tempo perdido (na dor extrema), quando a lei do crime hediondo, por exemplo, segue na contramão de todo protesto (involuindo no sentido de beneficiar o criminoso).
Pergunto aos meus amigos Luiz Antonio Barbará Dias e Flávio Machado, por que isso acontece no Brasil. Não é um engano (ontológico) pensar que o avanço civilizacional ocorre na medida em que haja redução da pena, mais investimento no apenado, ao invés de haver mais paz em nossa sociedade?
A Constituição de 1988 não legisla pró-bandidagem, negando a cidadania à qual se remete pelo cognome?
A família vitimada pede por justiça, reivindica por políticas públicas que priorizem mais segurança.
Tempo perdido (na dor extrema), quando a lei do crime hediondo, por exemplo, segue na contramão de todo protesto (involuindo no sentido de beneficiar o criminoso).
Pergunto aos meus amigos Luiz Antonio Barbará Dias e Flávio Machado, por que isso acontece no Brasil. Não é um engano (ontológico) pensar que o avanço civilizacional ocorre na medida em que haja redução da pena, mais investimento no apenado, ao invés de haver mais paz em nossa sociedade?
A Constituição de 1988 não legisla pró-bandidagem, negando a cidadania à qual se remete pelo cognome?
"O Governo Michel Temer quer aumentar o tempo de cumprimento de pena em regime fechado de condenados por corrupção ativa e passiva e por crimes praticados com violência. O Ministério da Justiça prepara proposta que altera a Lei de Execução Penais para endurecer a progressão da pena".
Este blog está ligado.
quarta-feira, 12 de outubro de 2016
"A RELIGIÃO CONSISTE NUMA PROJEÇÃO ANTROPOMÓRFICA"
O edifício onde moro se localiza a menos
de cem metros dos fundos da Igreja Matriz de Santiago. Nesta quarta-feira, 12,
ouço uma missa sendo rezada em decorrência do dia de Nossa Senhora Aparecida.
Oração, canto e locução do padre (não necessariamente nessa ordem). Às vezes,
sem o ruído dos automóveis, identifico as palavras da oração, do canto e do que
diz o padre. Noutro momento, o sabiá se sobressai com seu gorjeio natural. Aqui
dentro, (re)leio os livros de Luc Ferry, na expectativa de encontrar um excerto
e empregá-lo como argumento de autoridade numa análise crítica que devo
produzir do livro Teoria U, de Otto
Scharmer. Marcel Gauchet, que dialoga com Ferry, escreve esta frase
perturbadoramente verdadeira: “A religião consiste fundamentalmente numa
projeção antropomórfica”, fazendo alusão a Feuerbach, Durkeim e Freud. A missa
continua, como um monumento discursivo à alienação dos cristãos.
segunda-feira, 10 de outubro de 2016
REFLEXÃO EXISTENCIAL
A vida continua num ritmo inconstante, ora acelerado, ora vagaroso. O passado se acumula, com as experiências que pesam sobre o meu ser agora. O futuro se torna mais imediato a cada dia, com suas perspectivas em aberto, sem ponto de fuga. Entre ontem e amanhã, vivo num ritmo inconstante.
sexta-feira, 7 de outubro de 2016
A CRISE É(N)SINA
Leio a última postagem do blog do Júlio Prates, que expõe com objetividade um dos mil problemas da educação no Brasil. A chancela "federal" já não mais certifica um ensino de qualidade.
Sobre os IFETS, Júlio assim se expressa:
"Os IFETs não mostraram para o que vieram. Os resultados dos indicadores que medem qualidade de ensino são ridículos. O desempenho dos alunos dos IFETs são pífios. Não há entrosamento e nem projetos com a sociedade civil. Ora, com Mestres e Doutores tão bem pagos, com tanto dinheiro público enterrado nessa concepção de ensino, há indícios claros de que algo está muito errado. É uma mamação sem precedentes e sem se preocuparem em ofertar uma contrapartida para a sociedade. Assim, fica difícil até de sustentar a defesa dos IFETs".
quarta-feira, 5 de outubro de 2016
AJUDANTE IMAGINÁRIO
O candidato a um cargo público é eleito e agradece a Deus em primeiro lugar, em segundo lugar aos eleitores que "depositaram" confiança em sua proposta de governo (ou melhor, em suas promessas).
O candidato não é eleito e também agradece a Deus em primeiro lugar, em segundo lugar aos eleitores que "depositaram" confiança em sua proposta de governo (ou melhor, em suas promessas).
Ambos são demasiadamente honestos em afirmar que não gastaram muito com a campanha, que o voto recebido foi por confiança pura em sua pessoa, podendo ser qualificado como voto politicamente correto.
Fico matutando... como é possível eles acreditarem num deus que interfere no processo eleitoral, independentemente do resultado ser positivo ou negativo.
Não foi Deus que os interpelou, dizendo: "Fulano, te candidata nas próximas eleições! Pela fé com que todos agradecem, a impressão é que Deus os interpelou realmente.
No lugar de Deus, pergunto do alto (ou do baixo) de meu ateísmo, não foi uma decisão pessoal, avalizada pelo seu partido. Antes de a decisão pessoal ser expressa e colocada para aprovação, não foi um ego?
Desde a descoberta do inconsciente por Freud, como é possível o homem continuar mentindo para si mesmo, colocando um deus no meio (no papel de um ajudante imaginário)?
domingo, 2 de outubro de 2016
TOQUE DE SILÊNCIO
Em Capão do Cipó, foi determinado o "toque de recolher", como medida legal para a manutenção da ordem pública. Em Santiago, necessitamos de uma medida semelhante, que nos assegure o silêncio após as 22 horas. A lei existe, mas não é cumprida pelos notívagos.
sábado, 1 de outubro de 2016
UM PARADOXO
A grande PROMESSA do candidato A é a de trazer universidade pública para a nossa cidade. Ele deverá ganhar votos da juventude que deseja fazer um curso superior e não pode (uma vez que pertence à classe baixa). O discurso de A vai de encontro ao establishment, bastante representado pelo candidato B, que é elo entre o poder executivo municipal e a universidade privada com campus aqui.
Isso é paradoxal. Os analistas avaliam com correção que o candidato A é apoiado pelas classes média e alta. O candidato B, por sua vez, apoiado pela classe com menos recursos econômicos.
BALA & PALAVRA
Eleições em cidades pequenas do interior é momento em que a paixão se excede. Nos tempos em que meu avô era moço, a disputa também se efetivava na bala, a bala de estanho, quando a palavra, malgrado seu valor, não resolvia nada. Hoje ainda há bala, mas é a palavra que resolve(r), ou que tenta resolver às vezes e outras vezes abala mais as relações. A palavra imita a bala (em sua duplicidade funcional): há bala que adoça e outra que abala.
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