Poesia é um olhar especial com que se vê seres, coisas,
fenômenos ou sentimentos e a expressão desse viés num linguagem (verbal ou não)
que surpreende pela forma ou conteúdo.
O poema “Amores”, do meu livro Vozes e Vertentes (2010), prestar-se-á como para o desenvolvimento
do que foi enunciado no parágrafo acima:
amores
amores vêm
amores vão(-se)
como ondas d’água
trazem flores
quando vêm
vão sargaços
quando mágoa
amores vêm
amores voam
como pássaros
de arribação
ainda que passem
amores
não vêm
em vão
O texto não versa sobre o amor em si, posto
no plano da idealização, mas sobre o sentimento que aproxima duas pessoas (e
vivido de uma forma particular). Por isso, o plural “amores”.
Os dois primeiros versos constatam
apenas uma realidade: amores vêm e amores vão-se embora. Nada em especial. No
terceiro verso, todavia, uma comparação (quase metáfora): “como ondas d’água”.
Aqui começa o olhar diferente (que caracteriza a poesia).
O verso sete, “quando mágoa”, apresenta
uma ruptura sintática em prol da semântica. O correto seria “quando magoa”.
Na sequência, a repetição também é
interrompida com “amores voam”, ao invés de “amores vão(-se)”. Metáfora pura.
Os pássaros de arribação vêm e vão embora.
O poema se encerra com duas aliterações
rítmicas: “passem” (que se associa a “pássaros”) e “vêm”/ “vão”.
Por que os amores não vêm em vão?
Eles trazem flores e pássaros, ora.
Eis uma visão idiossincrásica, que apresenta
autenticidade poética.
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