sábado, 17 de setembro de 2016

DEUS VERSUS RIQUEZA MATERIAL

Um dos dualismos a que o homem religioso do Ocidente é forçado a enfrentar nos últimos dois milênios, a divisão do mundo em material e espiritual, parece chegar ao fim nestes dias.
A princípio, Platão criara a oposição no âmbito filosófico: o inteligível, associado à alma, versus o sensível, associado ao corpo, depreciado como material e transitório.
O platonismo deu a Paulo de Tarso o fundamento para uma "ordem imaginada", que cativou corações e mentes da nossa civilização jovem.
Os evangelhos já haviam professado o problema dualístico, especialmente em Mateus, 6:24: "Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de aborrecer-se de um e amar ao outro, ou se devotará a um e desprezará o outro". Não se pode buscar a Deus e às riquezas materiais ao mesmo tempo.
O enunciado é de uma claridade meridiana, que não permite qualquer outra interpretação que não a objetivada por seus termos.
Um pregador brasileiro, chamado Edir Macedo, por volta do ano de 1977, ao criar a Igreja Universal do Reino de Deus, instituiu a doutrina da prosperidade.
Essa doutrina se desenvolve a partir da "lei de reciprocidade", que expressa mais ou menos o seguinte: "se o homem for bom para com Deus, Deus é 'obrigado' a ser bom de volta".
Lamentavelmente, o leitor ainda ainda não conhece A essência do Cristianismo, de Ludwig Feuerbach, para entender que esse deus obrigado a retribuir é muito pequeno, constituindo-se numa alteridade humana.
Depois de quase quarenta anos, as demais igrejas pentecostais e neopentecostais do Brasil se deixaram atrair pelo "sucesso" da doutrina do pastor bilionário.
Tais organizações religiosas conseguiram resolver o dualismo fundamental deus versus riqueza. Não faltam provas disso. A última é paradigmática: um pastor levou seu carro importado para dentro do templo, onde os fiéis, ao tocá-lo, pudessem receber a unção de prosperidade.
(Publicado em Considerações neoateístas, 2016.)

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