domingo, 31 de janeiro de 2016

ENTRE A FOLIA E A AUSTERIDADE

O editorial do Zero Hora deste domingo, com o título acima, sai em defesa dos administradores públicos que decidiram suspender o Carnaval em seus municípios, em razão da crise econômica. 
"Apesar do desgaste político junto à comunidade cultural, agem corretamente os prefeitos que cortam gastos com a folia para aplicar os recursos em saúde, educação e transporte público." Inclua-se nessa relação de prioridades a onerosa folha de pagamento. 
"A crise econômica atingiu tamanha dimensão, que os governantes estão sendo obrigados a alterar o ensinamento clássico do poeta Juvenal aos imperadores romanos: em vez de oferecer pão e circo à população, têm de optar entre um e outro."
Fala-se muito e vive-se uma crise econômica, mas há uma parte dela que é consequência de outra crise mais grave: a crise política, que, por sua vez, decorre de uma crise ética. 
Como fazer carnaval nesta hora?  

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

BENEFÍCIOS DA RELIGIÃO?

Ante a questão de se saber qual a importância da religião, o senso comum não titubeia em respondê-la com dois exemplos, geralmente associados a mudanças de comportamento.
O primeiro é bastante real: fulano era alcoólatra, violento e endividado (não necessariamente nessa ordem). A família, já praticante, conseguiu levá-lo à igreja, onde foi apresentado a Jesus. Muitas orações para resgatar sua alma da perdição. Hoje ele é outro homem. Mais querido pelos seus, próspero nos negócios, temente a Deus.
O segundo exemplo é hipotético: sicrano passará a se comportar mal em vista de não mais seguir uma religião. Nesse aspecto, responde negativamente à indagação de Mítia, personagem de Os irmãos Karamázov, de Dostoiévski: “Como o homem seria virtuoso sem Deus?”.
Alguns membros da sociedade santiaguense seguiram uma trajetória semelhante à de fulano. Claro, entenda-se por alcoolismo outros vícios; por violência, outros aleijões morais; por dívida, outros problemas. Por outro lado, há membros que abandonaram sua religião (via de regra, a católica), tornando-se ateus. Incluo-me neste grupo.
Daniel Dennett, em seu Quebrando o encanto, escreve o seguinte: “Se eu lançar um mau olhado em você, você pode ficar seriamente amedrontado a ponto de cair doente, mas se isso acontecer é porque você é crédulo, não porque eu tenho poderes mágicos”. Analogamente, o alcoólatra traz dentro de si as condições de deixar do álcool. Os Alcoólicos Anônimos, que não têm vínculo religioso, fazem “milagre” na recuperação de viciados em aproximadamente 90.000 grupos distribuídos em mais de 150 países.
Outras organizações não religiosas também fazem esse trabalho com sucesso expressivo, provando que não é a religião que opera o “milagre”. Meu tio, que muito fumou e bebeu ao longo de seus 70 anos, estava com problemas sérios. O médico foi peremptório: “Ou você deixa do cigarro e do álcool, ou poderá comprar o caixão”. O que ele fez a partir da hora da consulta? Deixou do fumo e do trago. Malgrado a crença numa vida além, as pessoas querem mesmo é viver esta vida.
(Não falo em meu nome), todos os ateus que conheço são pessoas corretíssimas. Elas não pensam que tudo é permitido, porque Deus não existe. Obviamente, nem todos alcançaram amadurecimento suficiente para não tripudiar daqueles que ainda creem nas crenças de sua religião.  
O senso comum é a maioria. Até há pouco tempo, ele era porta-voz do poder eclesiástico da Santa Sé, que metia na fogueira quem pensasse diferente. 

MUNDO DE AMOR (OU AMOR DE MUNDO)

Nas redes sociais, o amor é a tônica. Uma maioria ama a Deus, ama pai, mãe, irmãos, tios, primos... Uma minoria ama os bichos (minha tese conspiratória é de que esse amor aos bichos pressupõe uma misantropia). Tanto amor assim, o mundo seria outro, não o que se faz observável, real. 
(No dia 16 de novembro de 2015, excluí minha página no Facebook. Não sei por que a página continua disponível.)

segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

HEDONISMO E SENSIBILIDADE

O prazer é o bem supremo, guia incontestável de pensamentos e ações de todo indivíduo consciente ou inconsciente que integra nossa sociedade. 
O (princípio do) prazer, já escreveu Freud, impele-nos a um único objetivo: o de ficar mais felizes – com o relaxamento de um estado desagradável de tensão. 
As pessoas amadurecem (em tese), todavia, continuam dominadas pelo Id, instância mental que quer porque quer, deseja pelo próprio desejo, sem a concorrência da razão. Para maximizar seu hedonismo, tais pessoas são, cada vez mais, dotadas de um excesso de sensibilidade. 
Antes do ar-condicionado, todos trabalhavam, descansavam e dormiam sem ar-condicionado. Nesse tempo, havia o ventilador. Mas houve um tempo anterior ao ventilador, e outro tempo anterior à eletricidade. 
Por falta dessas tecnologias, nossos avoengos não deixaram de viver, mais ou menos felizes. Hoje estamos aqui graças a esses antepassados bem-sucedidos. 
O sucesso deles não se resume à replicação genética, mas ao desenvolvimento técnico-científico, que levaria à descoberta da eletricidade, ao fabrico do ventilador e do ar-condicionado. 
Aos que ainda reclamam por mais conforto, por mais direito, gente que se expõe à observação sem a mínima vergonha, faço um alerta: o Sol aumenta sua atividade, que é de fundir Hidrogênio. O calor resultante vai de encontro ao hedonismo e à sensibilidade dos humanos. 
Na condição de pensante, sugiro a esses umbiguistas que passem a se preocupar mais com seus descendentes futuros. 

sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

ENTRE O MAR E O ROCHEDO

O judaísmo sempre foi limitado por um deus exclusivo, paroquialista. Paulo de Tarso, ao contrário, empreendeu viagens missionárias, buscando a universalidade de sua seita cristã. Para a evangelização do mundo, ele contava com a figura superdimensionada de Jesus ressuscitado. Ao subir para a Turquia, passando pela Grécia e chegar a Roma, o articulador do cristianismo desenhou a espinha dorsal de nossa civilização.
Não podendo se dividir em dois, Paulo optou pelo caminho do norte (e oeste), onde o poder político já se consolidara com o Império Romano. O sul, desértico, ficava abandonado a má sorte dos descendentes de Ismael (o filho bastardo de Abraão). A mil e duzentos quilômetros de Jerusalém, nasceu outra religião, cujo princípio fundamental também era a universalização. Sem demora, o islamismo bateria à porta da Europa (pelo outro lado).
Desde então, as duas religiões, que foram necessárias para a coesão social de um número até então não alcançado de mamíferos humanos, entraram em conflito. Em razão de dogmas inconciliáveis da religião única (uma característica monoteísta), cristianismo e islamismo cessaram de crescer, incapazes de evitar os próprios cismas, as próprias guerras internas.
 O mundo futuro será secular, ou não existirá. Exceção para os judeus, que continuarão fiéis a Jeová, o deus exclusivo e paroquialista do Velho Testamento (que a diáspora serviu para fortificá-lo ainda mais). Essa condição, todavia, não os salvará da linha de choque entre as duas civilizações decadentes. 

quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

CAMPANHA DA FRATERNIDADE 2016

A Campanha da Fraternidade deste ano tem o tema “Casa comum, nossa responsabilidade”, fundamentado no subtítulo da encíclica Laudato Si’, do papa Francisco, e o lema “Quero ver o direto brotar como fonte e correr a justiça qual riacho que não seca”, uma perífrase ideológica de Amós 5, 24. A campanha é organizada pelo Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC), uma pretensão de ecumenismo que encobre a atuação política da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
A primeira consideração a fazer diz respeito à inversão de valores diligenciada pela Igreja Católica (ou sob sua liderança). Desde Roma, ela passou, de uma forma crescente ao longo dos séculos, a se importar mais com o terreno, material, e menos com a (sobre)natureza espiritual, a essência cristão. Em passagens diversas dos evangelhos, Jesus distinguira dois modus vivendi – entre esta vida e a vida-além, entre o que é de César e o que é de Deus. Paulo de Tarso, o grande pregador, aprofundou ainda mais a diferença entre os dois mundos. As maiores intervenções da Santa Sé contribuíram significativamente para fazer da Terra um “lacrimarum valle” (conforme a oração da Salve Rainha). Não bastassem os processos inquisitoriais, com perseguição, prisão, tortura e morte de centenas de milhares de homens e mulheres, o poder de sotaina apoiou as piores guerras religiosas da história. Mas não há mal que sempre dure: graças à secularização, o Catolicismo entrou em decadência, afundando-se nas próprias contradições.
João Paulo II foi o primeiro líder católico a perceber o abismo em que se metera a igreja. No começo de seu pontificado, declarou bombasticamente que “Sobre toda propriedade privada, pesa sempre uma hipoteca social”. Um grito em favor dos pobres, que rompia com o liberalismo capitalista e dava argumentos à teoria da libertação, francamente marxista. A reação conservadora não demorou a retomar o controle doutrinário, cuja figura mais proeminente era Joseph Ratzinger, que acabou usando o anel do pescador. Atualmente, o papa Francisco vem surpreendendo o mundo com um discurso antidogmático, socializante e pró-científico. Por muito menos, homens e mulheres seriam levados à fogueira pelos tribunais da Inquisição. Depois de um longo silêncio da Igreja acerca das maiores descobertas da ciência (uma autopenitência pelo processo contra Galileu), o Papa afirma que o Big Bang e o darwinismo são perfeitamente compatíveis com a ideia de um deus criador.
Essa tergiversação do tema foi necessária para submetê-lo agora a uma análise mais séria. Os dois parágrafos acima insistem na tese de que a Igreja Católica abandona os dogmas metafísicos, para, cada vez mais, ocupar-se com as ordens imaginadas pela laicização. A encíclica Laudato Si’, assinada pelo pontífice, mais parece uma agenda ecológica, que os países não conseguem efetivá-la (malgrado os esforços nesse sentido). Ainda que a preocupação com o ambiente deste “Vale de Lágrimas” tenha pautado documentos de papas anteriores, é com Francisco que ela se realiza discursivamente. Sua concepção de uma “ecologia integral” é “inspirada” no modelo do santo xará, Franscisco de Assis. “Irmã” ou “mãe”, o planeta ganha uma outra metáfora: casa comum. (No tópico 38, o autor incorre no equívoco que compara as regiões de floresta – Amazônia e Bacia do Congo – com um pulmão. Floresta e pulmão são antípodas, respectivamente, na produção e no consumo de oxigênio, ou no consumo e produção de dióxido de carbono.)
A nossa “casa comum”, sempre expostas às catástrofes naturais de pequenas ou grandes montas, atualmente, vê-se ameaçada pelas mudanças climáticas. Toda tecnologia e todo desenvolvimento não foram suficientes para distribuir os bens produzidos de uma forma igualitária. As diferenças entre ricos e pobres são abissais, geradoras de injustiça – segundo a interpretação idealista cristã, em franca contradição com a ideologia do Sermão da Montanha. Perante o atual estágio de degradação generalizada, esfuma-se a perspectiva de os pobres se tornarem ricos. Para que tal ocorresse, necessitaríamos mais três planetas (em iguais condições de temperatura e pressão). Parte do estrago ambiental é atribuída à sanha de progresso, que caracteriza o homo sapiens desde antes do Neolítico.
A casa encontra-se dividida. O papa quer pôr ordem nela, como se isso fosse possível pela equalização dos direitos de seus ocupantes. Mais que as políticas, as religiões impossibilitam uma casa comum. O próprio cristianismo dividiu-se com guerras fratricidas. Francisco representa apenas o segmento católico. De sua zona de conforto, chamada Vaticano, ele desconsidera que há fiéis a outras religiões, os quais dividem a casa a partir de crenças em deuses diferentes. Sua guinada secular, quem sabe, já constitui uma reação ao fundamentalismo islâmico, que ameaça o mundo cristão em seu território natural – a Europa.
A Campanha da Fraternidade no Brasil tem o objetivo geral de “Assegurar o direito ao saneamento básico para todas as pessoas e empenharmo-nos, à luz da fé, por políticas públicas e atitudes responsáveis que garantam a integridade e o futuro de nossa casa”. O lema escolhido pelo CONIC é uma interpretação forçada de Amós (lunático bíblico que não se reconhecia como profeta, mas previu muito fogo para as nações vizinhas e desterro de Israel): “Antes corra o juízo como as águas, e a justiça como ribeiro perene”. Javé estava cansado dos holocaustos em seu nome, melindrado com a idolatria de outros deuses (mais uma vez). Também ele evoluiu através dos tempos, clamando por juízo e justiça. A propósito, juízo e direito podem ser tomados como sinônimos? Outra questão: por que essa obsessão pela leitura do Velho Testamento? Ele remete mais facilmente à secularidade?
O objetivo de saneamento básico para todos não é uma intromissão da religião na alçada política? O estado tem condições de atender cem por cento à demanda, sem afetar ainda mais o meio ambiente? Desenvolvimento autossustentável é um mito pós-moderno. Não há recursos suficientes para inverter o vetor da degradação em seu curso acelerado. As nações mais desenvolvidas do mundo são, concomitantemente, as que mais poluem o ar, a água e o solo. A vida é assassinada por atacado.
Por derradeiro, o ecumenismo da campanha refere-se ao planeta como um todo, ao Brasil, ou ao conselho de cinco igrejas?

segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

ÁGUA FORA

O médico me receitou tomar três litros de água por dia. Raramente, consigo atender a essa prescrição. Fico em torno dos dois litros. Sem considerar sucos e chás. 
A pia se acumula de copos de vidro que uso para tomar a água (enquanto leio, escrevo ou jogo xadrez online). Tecnicamente falando, eles se encontram sujos, sendo necessário lavá-los duas ou três vezes ao longo do dia.
Antes que o leitor interfira com a sugestão do copo descartável, esclareço que já o usei por algum tempo. O consumo de água diminui e o lixo seco aumenta. O trade-off é inevitável.
Já fiz uma medição da água que consumo para lavar os copos de vidro sujos (com água). Metodologicamente, lavei-os com a torneira aberta, abrindo e fechando a torneira, com redutor na torneira...
O mínimo necessário de água que sai da torneira, para lavar um copo de vidro, é muita água. Muita água limpa, em estado de potabilidade, que retorna ao ambiente natural de água suja, contaminada, imprópria para consumo. 
Toda vez que lavo os copos que utilizo (e faço isso com frequência), penso na água que consumo, multiplicando-a pela mesma atividade repetida em cada casa no mundo inteiro... 
E pensar que o copo de vidro é apenas um item entre muitos outros (que exigem mais água e sabão para serem limpos). E pensar que muita gente (já observei isto) não desliga a torneira, enquanto é lavada a louça. 
E pensar que...
A água é apenas um item, que 7 bilhões de mamíferos humanos consomem necessária ou desnecessariamente. 

domingo, 17 de janeiro de 2016

OBSERVADOR REAL

Leio muito. Há três dias acabei a leitura de A morte da fé, de Sam Harris, e já avanço pela centésima página de Quebrando o encanto, de Daniel Dennett. 
Não sou "rato de biblioteca", todavia, na medida em que minha leitura tem estreita relação com a realidade que observo, que analiso. Desses pensadores aprendo a melhorar o estilo de minha escrita. 
Considerações neoateístas está quase pronto. Aliás, nunca o concluirei em razão de sua temática, uma crítica às religiões mais conhecidas.
Há meia hora, fui comprar o jornal da D. Catarina. Mais uma vez, percebo que o salão da Igreja Matriz lota desde ontem. Alguém palestra, e os demais rezam, rezam e rezam. 
Por que as pessoas rezam? 
O que é a oração?
Objetivamente, o ato de orar, natural (Dennett) ou memético (Dawkins), resume-se a um vocativo, a uma intenção de pedir algo a Deus ou de agradecê-lo por algo. 
Anterior a esse ato, há a crença de que Deus é onipresente (onisciente e onipotente). 
Como um observador hipotético, vindo de fora da Terra, compreenderia essa contradição absurda? 
Não interpretem mal minha pretensão, mas agora sou um observador real, com muitos questionamentos em Considerações neoateístas



quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

ALGUNS VERSÍCULOS JIHADISTAS DO CORÃO

"Combatei pela causa de Allah…"

"Quem combatam pela causa de Allah aqueles dispostos a sacrificar a vida terrena pela Futura, porque a quem combater pela causa de Allah, quer sucumba, quer vença, concederemos magnífica recompensa."

"Caso se rebelem (os hipócritas), capturai-os então, matai-os, onde quer que os acheis…"

"Os crentes que, sem razão fundada, permanecem em suas casas, jamais se equiparam àqueles que sacrificam os seus bens e as suas vidas pela causa de Allah…"

"O castigo, para aqueles que lutam contra Allah e contra o Seu Mensageiro, e semeiam a corrupção na terra, é que sejam mortos, ou crucificados, ou lhes seja decepada a mão e o pé de lados opostos, ou banidos."

"Constatarás que os piores inimigos dos crentes, entre os humanos, são os judeus e os idólatras…"

"E de quando o teu Senhor revelou aos anjos: Estou convosco; firmeza, pois, aos crentes! Logo infundirei o terror nos corações dos incrédulos; decapitai-os e decepai-lhes os dedos."

"Combatei-os até terminar a intriga, e prevalecer totalmente a religião de Allah…"

"Mas quando os meses sagrados houverem transcorrido, matai os idólatras, onde quer que os acheis…"

"Se vossos pais, vossos filhos, vossos irmãos, vossas esposas, vossa tribo, os bens que tenhais adquirido, o comércio – cuja estagnação temeis – e as casas nas quais residis, são-vos mais queridos do que Allah e Seu Mensageiro, bem como a luta por Sua causa, aguardai, até que Allah venha cumprir os Seus desígnios. Sabei que Ele não ilumina os depravados."

"Combatei aqueles que não creem em Allah e no Dia do Juízo Final…"

"Os judeus dizem: Ezra é filho de Allah; os cristãos dizem: O Messias é filho de Allah. Tais são as palavras de suas bocas; repetem, com isso, as de seus antepassados incrédulos. Que Allah os combata!"

"Aqueles que creem em Allah e no Dia do Juízo Final não te pedirão isenção quanto a sacrificarem os seus bens e as suas pessoas…"

"Allah cobrará dos crentes o sacrifício de seus bens e suas pessoas, em troca do Paraíso. Combaterão pela causa de Allah, matarão e serão mortos. É uma promessa infalível, que está registrada na Tora, no Evangelho e no Alcorão. E quem é mais fiel à sua promessa do que Allah? Regozijai-vos, pois, da troca que haveis feito com Ele."

"Somente são crentes aqueles que creem em Allah e em eu Mensageiro e não duvidam, mas sacrificam os seus bens e as suas pessoas pela causa de Allah."

"Ó Profeta, combate com denodo os incrédulos e os hipócritas, e sê inflexível para com eles, pois a sua morada será o inferno." 

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

SUNITAS VERSUS XIITAS


Após ataques terroristas neste século, adeptos moderados do islamismo saem em defesa de suas crenças, negando qualquer imputação de culpa ao Corão. Geralmente, como estrangeiros no Ocidente, eles juram que a religião criada por Maomé é da paz, malgrado o exemplo contrário dado pelo próprio profeta em vida e os 164 versículos jihadistas do livro.
Os autores dos atentados são homens de fé. Isso é inegável. Eles desejam ardentemente alcançar a condição de mártires da causa (mais religiosa que política). Seus “atos heroicos”, matar civis inocentes de culturas mais evoluídas moralmente, franqueiam-lhes o acesso direto para o céu, ao lado de Alá. No paraíso, terão o direito especial de convidar outras pessoas para fazer-lhes companhia.
O ódio contra o “imperialismo” experimenta seu próprio veneno nestes dias, numa demonstração indisfarçável de sua malignidade excedente. Sunitas e xiitas passam a matar entre si (agora por uma causa mais política que religiosa). Não se trata tanto de impor qual a linhagem verdadeira do Profeta, mas de assegurar o que resta do grande império muçulmano. Em torno dos últimos espólios, a violência é institucionalizada.
Os atores, o tempo e o cenário são outros, mas a história se repete. Sunitas e xiitas, século XXI, Oriente Médio. Católicos e protestantes, século XVI, Europa. O enredo se assemelha: uma guerra entre “irmãos”, que professam o mesmo deus. Os ocidentais cristãos já a vivenciaram, com algumas feridas ainda mal cicatrizadas, por isso a impressão etnocêntrica sobre os outros (além do Mediterrâneo).
Mesmo que os moderados defendam o contrário, o segmento fundamentalista do Islã ainda acredita e atua como se o paraíso ficasse “à sombra da espada”.  

terça-feira, 5 de janeiro de 2016

TRÂNSITO EM SANTIAGO



O trânsito bateu o recorde em número de veículos neste 5 de janeiro, em Santiago.
Cinco motivos se somaram para que tal ocorresse:
- a chuva (que caiu ao longo do dia);
- o primeiro dia útil de 2016 (em nossa cidade);
- feriadão e férias de santiaguenses que retornam à terra natal;
- crescimento da frota veicular;
- hábito crescente de sair de casa de carro, malgrado o preço do combustível. 
O movimento intenso, diga-se de passagem, não ocorreu apenas nos horários de pico. A Venâncio Aires quase paralisou entre 10 e 11 horas. As fotos acima, tiradas por mim depois das 14 horas, registra o trânsito na esquina da Benjamin Constant com a Pinheiro Machado (em frente ao Banco do Brasil).
Por uma questão criticamente correta, deixei de mencionar o sexto motivo, que vem contribuindo muito para complicar o trânsito em Santiago: o embaraço, a dificuldade em dirigir dos santiaguenses autóctones.
Esse motivo, salvo melhor juízo, é o grande causador de irritação, de estresse.


segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

IDEIAS DE SAM HARRIS


Na hipótese de "nossa espécie acabar se erradicando por meio de guerras, não será porque estava "escrito nas estrelas", mas porque estava escrito nos nossos livros".
"A maioria das pessoas deste mundo acredita que o Criador do universo escreveu um livro."
"A intolerância é intrínseca a todos os credos."
"Criticar a religião de alguém é tabu em todos os cantos da nossa cultura."
"Palavras como 'deus' e 'Alá' devem seguir o mesmo caminho de 'Apolo' e 'Baal' - do contrário, elas vão destruir o nosso mundo."
"Nossas crenças acerca do mundo podem pairar acima da razão e das provas concretas?"
"A maior parte daquilo que atualmente consideramos sagrado só é sagrado por uma única razão: porque foi considerado sagrado ontem."
"A religião continua sendo uma fonte viva de violência hoje em dia, tal como sempre foi em qualquer momento do passado. Eis alguns poucos exemplos: os recentes conflitos no Palestina (judeus contra muçulmanos); nos Balcãs (sérvios ortodoxos contra croatas católicos; sérvios ortodoxos contra muçulmanos da Bósnia e da Albânia); na Irlanda do Norte (protestantes contra católicos); na Cachemira (muçulmanos contra hindus); no Sudão (muçulmanos contra cristãos e animistas); na Nigéria (muçulmanos contra cristãos); no Sri Lanka (cingaleses budistas contra a minoria tâmil hindu); na Indonésia (muçulmanos contra cristãos do Timor); e no Cáucaso (russos ortodoxos contra chechenos muçulmanos; muçulmanos do Azerbaijão contra armênios católicos e ortodoxos). Em todos esses lugares, a religião tem sido a causa explícita de literalmente milhões de mortes desde meados da década de 1990."
"Os extremistas muçulmanos têm certeza de que as importações vindas da cultura ocidental estão levando suas mulheres e seus filhos para longe de Deus."
"As pessoas de fé costumam argumentar que não é a fé em si, mas sim os instintos mais baixos do homem, que inspira essa violência. Mas creio que é óbvio e evidente que uma pessoa comum não pode ser impelida a queimar vivo um velho estudioso por blasfemar contra o Corão."
Harris cita o seguinte excerto:
"Quando te incitar teu irmão, filho da tua mãe, ou teu filho, ou tua filha, ou a mulher do teu seio, ou teu amigo, que te é como a tua alma, dizendo-te em segredo: Vamos, e servimos a outros deuses que não conheceste, nem tu nem teus pais, dentre os deuses dos povos que estão em redor de vós, perto ou longe de ti, desde uma extremidade da terra até a outra extremidade; não consentirás com ele, nem o ouvirás; nem o teu olho o poupará, nem terás piedade dele, nem o esconderás; mas certamente o matarás; a tua mão será a primeira contra ele, para o matar; e depois a mão de todo o povo".
Vocês sabem de onde foi extraído esse texto?
Do Corão ou da Bíblia?

A MORTE DA FÉ


Sam Harris detona com todas as religiões nesse livro. Foi o primeiro dos neoateus a se manifestar publicamente neste século (2004), à frente dos outros "cavaleiros do apocalipse": Richard Dawkins, Daniel Dennett e Christopher Hitchens.
Relativamente jovem, esse norte-americano demonstra uma coragem muito grande (num tempo em que não foi revogada a condenação imposta pelo Islã a Salman Rushdie). Oxalá, Harris viesse a Santiago para palestrar sobre a temática de seu livro. 

UMA CERTEZA

Um ano vai, outro ano vem. 
Um retrospecto. 
Uma expectativa. 
O ano vivido foi bom, para ser lembrado. O ano vivido foi ruim, para ser esquecido. 
Reducionismo puro. 
Leniência. 
Injustiça. 
O ano a viver será maravilhoso. A esperança é exagerada, é tudo. 
Ao longo dos primeiros meses, todavia, ela vai perdendo sua força delusória. 
A realidade volta a determinar a vida de cada um de nós. Boa ou ruim.
Nessas alturas, é tarde para reconsiderar 2015 e é cedo para alimentar novos desejos para 2017. 
Não há outra maneira de viver melhor, senão admitindo 2016. Tal como é.
Essa aceitação afetiva, que Nietzsche denominou de amor fati, traz implícita a possibilidade de ser quebrado o ciclo imposto de fora, pelas passagens de ano (por exemplo). 
As coisas não mudam porque assim indica a numerologia, o horóscopo, a divindade e outras ficções.
O calendário não passa de uma ordem imaginada. 
O tempo é um continuum absoluto, cujo contato com as nossas experiências é o presente, agora. 
É, não foi, não será. 
O segredo para a felicidade (tão mutuamente desejada em torno do Ano-Novo), consiste na compreensão desse ponto. 
A máquina dos desejos compara-se, grosso modo, com uma casa da moeda que emite milhões em cédulas sem o lastro correspondente. 
O ouro está dentro de nossos corações e mentes. Ou não está.
O ano pouco interessa. O dia de hoje sim.
Uma certeza. 


domingo, 3 de janeiro de 2016

GAVETA INDISCRETA

Este blog é minha gaveta, onde guardo os textos para sucessivas reescrituras, ou simplesmente para maturá-los (como fazia Maiakóvski).
Num momento em que a visibilidade está em alta, a discrição perde a relevância (que tinha no passado).
Uma gaveta indiscreta, sim. Por que não? 

sábado, 2 de janeiro de 2016

O LIVRO E OS LIVROS

I

Uma criança santiaguense, antes mesmo de ser alfabetizada pelos pais ou pela escola, é apresentada à Bíblia – o livro ditado por Deus. Dessa forma, ela passa a ter uma iniciação, um condicionamento na religião em que fora batizada nos primeiros anos de vida. Mais tarde, ela é inserida noutro processo, o de laicização, por intermédio das letras e dos números. Concomitantemente, aproveitando-se da personalidade ainda maleável do indivíduo, a Igreja Católica o submete ao segundo e decisivo ritual: a eucaristia (ou primeira comunhão).
Outra criança, nascida em Gardez (Afeganistão), antes mesmo de ser alfabetizada pelos pais ou pela escola, conhece o Corão – o livro ditado por Deus. Lá o primeiro rito é o azan, em que o pai recita os fundamentos do islã no ouvido do bebê. Obviamente, a iniciação religiosa em Gardez é muito mais disciplina, mais rígida que a realizada em Santiago (Brasil).
O resultado é bastante diferente: um novo cristão aqui e um novo islâmico lá. Sobre esse condicionamento, Richard Dawkins afirma que “não existe criança muçulmana, não existe criança cristã”. Por influência dos pais e da cultura dominante, ela será, inexoravelmente, muçulmana em Gardez e cristã em Santiago. A recíproca não é verdadeira.
A diferença não acaba entre cristãos e muçulmanos. Basta acrescentar uma terceira criança, que tenha nascido em Bersebá, ou Be’er Sheva, em Israel. Ela seria condicionada à Torá (a Bíblia de Gênesis a Deuteronômio). Ao longo da Idade Média, viveria a diáspora, longe de Israel por motivos políticos e religiosos. Na Europa medieval, dominada pelos cristãos, usaria o símbolo da estrela de Davi, para identificar sua condição de pária social. Caso nascesse nestes dias, não mais usaria o símbolo discriminatório, mas estaria no seio de uma guerra fratricida com os palestinos.
Qualquer uma dessas crianças é condicionada a pertencer à mesma religião de seus pais, não se tornando uma pessoa secular – por intermédio da leitura de outros livros, do conhecimento e da lógica. 


II

Os outros livros formam uma relação extensa, iniciada com Da revolução de esferas celestes, de Nicolau Copérnico, ao Tratado de ateologia, de Michel Onfray. Entre eles, alguns são fundamentais para uma mudança de paradigma, como A origem das espécies e A descendência do homem, de Charles Darwin. O primeiro demonstra que “as espécies não foram criadas independentemente, mas que descendem de outras espécies”. O segundo prova que “o homem descende de formas inferiores”. Pelo fato do autor viver em plena Era Vitoriana, caracterizada pelo moralismo preconceituoso, admite-se o reducionismo “formas inferiores” (algo especista). Seus seguidores, chamados de darwinistas, substituíram a expressão entre aspas por “ancestrais”.


III

Os quatro livros que escolhi para uma pequena análise (a partir de suas ideias principais) são os seguintes: A morte da fé, de Sam Harris; Deus, um delírio, de Richard Dawkins; Quebrando o encanto, de Daniel Dennett; e Deus não é grande, de Christopher Hetchens.
Por que esses quatro?
A primeira resposta é que foram produzidos entre 2004 e 2007, o que lhes dá uma visão mais ampla da modernidade. Todos se alinham ao neoateísmo, uma evolução memética do ateísmo que caracterizava o século XX. Os neoateus são corajosos, como Harris, que acusa o islamismo de ser uma crença radical e belicosa. São cientificistas, como Dawkins, que elucida o Darwinismo e o contrapõe ao teísmo baseado no design inteligente. Propositivos, como Dennett, que defende o estudo da religião como fenômeno natural. Inflamados e persuasivos, como Hitchens, que desconstrói mitos modernos e conclama a um novo iluminismo.
Os “quatro cavaleiros do Apocalipse” são engajados em transformar a realidade, eliminando-se toda e qualquer influência da religião tradicional.