terça-feira, 8 de dezembro de 2015

OUTRO PARADIGMA

A janela de vidro (grande e transparente) me permite ver um terço do céu azul, como um componente de leveza sobre a paisagem urbana. 
 Numa cadeira de praia, reinicio a leitura de A origem das espécies, de Charles Darwin. Na Introdução, o gênio já se expressa de uma forma desmitificadora: “As espécies não foram criadas independentemente, mas que descenderam, assim como todas as variedades, de outras espécies”.
De antemão, sei que o livro explicará como essa descendência foi (e é) possível, de encontro ao pensamento dos naturalistas vitorianos mais proeminentes.
 Imerso na leitura, sou surpreendido pelo toque do sino da Matriz, a menos de cem metros do edifício Dom Manuel (onde resido). Na sequência, ouço um canto religioso, em cujo ritornelo se destaca a palavra “cruz”.
Hoje é o dia da Nossa Senhora da Conceição, padroeira de Santiago. Por que não o santo que empresta seu nome à denominação do município? A força do paradigma cristão justifica essa afluência de ídolos – nunca suficiente para a demanda da fé.
A maioria dos santiaguenses é católica e, neste dia especial, reúnem-se para sair em procissão, rezando e cantando ao longo das ruas principais da cidade. Essas vozes destoam completamente da harmonia que se improvisava no meio da manhã.
Ato contínuo, faço do ensimesmamento o leitmotiv para esta crônica. Não há janela em frente à mesa onde escrevo, mas uma porta se abre para outro paradigma.   

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