A fé que leva ao fundamentalismo vem
sempre amparada por um livro único. Tomás de Aquino, o cristão que mais buscou
racionalizar suas crenças, já expressou de uma forma hiperbólica algo parecido:
“Timeo hominen unius libri”*.
Para evitar distorção semântica, uso fundamentalismo como sinônimo de
integrismo, obediência rigorosa aos princípios de uma organização religiosa ou
afim. Hoje está em voga associar o termo ao terrorismo. Penso que a ação
terrorista é movida também por uma componente política.
A fé de Irineu no Livro de Mórmon e a de meu colega de trabalho na teoria de Zecharia
Sitchin confirmam a validade da sentença com que iniciei este texto. Ambos não
leram outros livros, mas representam casos individuais de fé, incapazes de
levá-la adiante, com suas frequências à Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos
Últimos Dias, ou a algum clube ufológico.
O mesmo não se pode dizer de um
inquisidor católico, perseguindo, torturando e executando hereges. O livro em
que se guia é um só: a Bíblia. Da mesma forma, um jihadista islâmico,
investindo como homem-bomba contra cristãos. O livro em que se guia é um só: o
Corão.
A Bíblia principia com um fratricídio
(Gênesis) e termina com os sete flagelos (Apocalipse), uma extinção em massa. A
ordem expressa pelo próprio Jeová era de matar em nome da fé, para prová-la
(Abraão) ou para preservá-la (Moisés). O Corão conta com 164 versículos que
exortam os fiéis ao combate. Em caso de não-conversão, a morte.
Esses dois livros orientam mais da
metade da população mundial, em torno de 3,7 bilhões de pessoas. Não se trata
mais de um leitor obcecado por este ou aquele livro, mas de civilizações.
* "Temo o homem de um livro só".
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