quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

CASO DE FÉ (VI)

A fé que leva ao fundamentalismo vem sempre amparada por um livro único. Tomás de Aquino, o cristão que mais buscou racionalizar suas crenças, já expressou de uma forma hiperbólica algo parecido: “Timeo hominen unius libri”*.
Para evitar distorção semântica, uso fundamentalismo como sinônimo de integrismo, obediência rigorosa aos princípios de uma organização religiosa ou afim. Hoje está em voga associar o termo ao terrorismo. Penso que a ação terrorista é movida também por uma componente política.
A fé de Irineu no Livro de Mórmon e a de meu colega de trabalho na teoria de Zecharia Sitchin confirmam a validade da sentença com que iniciei este texto. Ambos não leram outros livros, mas representam casos individuais de fé, incapazes de levá-la adiante, com suas frequências à Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, ou a algum clube ufológico.
O mesmo não se pode dizer de um inquisidor católico, perseguindo, torturando e executando hereges. O livro em que se guia é um só: a Bíblia. Da mesma forma, um jihadista islâmico, investindo como homem-bomba contra cristãos. O livro em que se guia é um só: o Corão.
A Bíblia principia com um fratricídio (Gênesis) e termina com os sete flagelos (Apocalipse), uma extinção em massa. A ordem expressa pelo próprio Jeová era de matar em nome da fé, para prová-la (Abraão) ou para preservá-la (Moisés). O Corão conta com 164 versículos que exortam os fiéis ao combate. Em caso de não-conversão, a morte.
Esses dois livros orientam mais da metade da população mundial, em torno de 3,7 bilhões de pessoas. Não se trata mais de um leitor obcecado por este ou aquele livro, mas de civilizações.

* "Temo o homem de um livro só".
  

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