domingo, 22 de novembro de 2015

CRIACIONISTA VERSUS EVOLUCIONISTA



O criacionista (judeu, cristão, muçulmano e espírita) encontra uma dificuldade insuperável para compreender o contraponto evolucionista, que desconstrói toda ficção religiosa, todo mito. Ele pertence, segundo Christopher Hitchens, à “infância de nossa espécie”, porque teima no que acredita. O máximo que consegue articular discursivamente sobre a evolução da vida pela seleção natural se resume a algumas anedotas que ridicularizam Darwin e sua descoberta (r)evolucionária.
À maneira de uma criança, ele responde afirmativamente ao questionamento  proposto por Richard Dawkins em O relojoeiro cego: “O olho humano poderia ter surgido diretamente de olho nenhum, em um único passo?”. O sim denuncia sua incapacidade de entender o não como resposta. Na sequência, tampouco se interessa pela outra questão, cuja resposta é sim: “O olho humano poderia ter surgido diretamente de algo ligeiramente diferente de si mesmo?”.
Tempo houve suficiente para que o olho humano evoluísse, gradual e continuamente, de um olho rudimentar – que não é o ponto inicial da trajetória evolutiva. Antes dele, preexistia uma forma de vida sem olho algum. Em certas espécies atuais, esse órgão dos sentidos continua pouco desenvolvido, cumprindo a única função, por exemplo, de identificar a direção da luz. Mas essa limitação é incomparavelmente melhor que a escuridão completa. Uma variação genética que permitisse ao indivíduo identificar a luz com um pouco mais de nitidez, certamente o dotaria de melhores condições de sobreviver e de passar adiante seu gene.
Eis, na essência, a evolução pela seleção natural.
O olho humano é citado, com frequência, pelo adepto do design inteligente, como exemplo de complexidade incapaz de ter sido gerado pela seleção natural. Aliás, o homem como um todo, feito a imagem e semelhança do próprio criador concorre para o fundamento de sua religião.
 Segundo a História Natural, o homem encontra-se classificado como pertencente ao reino animalia, filo chordata, subfilo vertebrata, classe mammalia, ordem primata, subordem antropoidea, superfamília hominoidea, família hominidea, gênero homo, espécie homo sapiens. A águia, por exemplo, pertence ao mesmo reino, filo e subfilo do homem, distinguindo-se a partir da classe. A águia é uma ave, e o homem, um mamífero. As duas espécies evoluíram de ordens distintas, de famílias distintas, de gêneros distintos, de espécies ancestrais distintas, as quais apresentavam um olho com X-1 de capacidade. Nem por isso, o olho deixava de cumprir suas funções.
Malgrado o caminho diferente na evolução anterior ao surgimento das duas espécies em pauta, criacionista e evolucionista são unânimes em julgar que o olho do homem e o olho da águia são “perfeitos”. A concordância entre os dois, todavia, não ultrapassa esse juízo.
A “perfeição” do olho (no homem e na águia), para o criacionista, constitui o resultado (e a prova) de um ato único de Deus – o designer inteligente. Assim encontra-se narrado nas Escrituras Sagradas, assim ele acredita inabalavelmente. Para o evolucionista, o olho evoluiu de um modelo um pouco menos desenvolvido, que, por sua vez, evoluíra de um modelo anterior um pouco menos desenvolvido. O recuo no tempo chega ao olho rudimentar (e deste, a olho nenhum).
As aspas colocadas nos termos “perfeição” e “perfeitos”, nos parágrafos acima, têm o propósito de dizer uma coisa ainda mais surpreendente: a evolução do olho em qualquer espécie viva não chegou ao fim. A natureza continua a fazer a seleção dos indivíduos que veem melhor. Exceto com a interferência humana, dando oportunidade aos menos aptos e conduzindo espécies inteiras à extinção. 

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