O
sonho maior do homo religiosus não é
deus – uma metáfora das causas ainda não conhecidas de tudo. Um sonho comum aos sumérios, egípcios, gregos, indianos, astecas, guaranis, judeus, cristãos, muçulmanos… Até aquele que não
sonha com ele, em plena vigília, rende-lhe uma homenagem significante ao se
denominar ateu.
Tal universalidade não prova que deus
existe, como filosofou Descartes por último, senão que se sonha o mesmo sonho. Certamente,
esse sonho e outro, o da existência da alma independente do corpo, deram a
sustentação metafísica ao sonho maior: a vida eterna. O medo da morte, a
angústia de e o inconformismo com, acumulados desde tempos remotos, são
aparentemente vencidos pela transcendência. A alma continua viva.
Não satisfeito com a eternidade anímica,
uma pequena seita do judaísmo insufla no sonhador a crença de que também o
corpo há de subir aos céus. A história de tornar ao pó nunca foi cem por cento
aceita. O sonho da ressurreição, todavia, parecia um tanto absurdo em Israel. A
seita desapareceria não fora a determinação do grande sonhador Paulo de Tarso.
Ele transformou a epilepsia em clarividência, em manifestações divinas., levando
a proposta do sonho para outras terras.
Nenhum lugar era, paradoxalmente, mais
estranho e mais conveniente para pregar a ressurreição que em Roma, visto
que ali batia o coração do vasto império. Paulo foi para Roma, depois de
passar pela Grécia, onde enriqueceu seu discurso com o platonismo.
O sonho da ressurreição um dia despertou
Helena, uma plebeia abandonada pelo marido, o qual lhe levou o filho
Constantino. Este se tornaria imperador mais tarde, e sua mãe receberia o
título de Augusta. Sob a influência de Helena, Constantino oficializou o
cristianismo, mandando construir uma basílica nos lugares que ela apontava como
santo.
O sonho virou pedra.
Nenhum comentário:
Postar um comentário