quinta-feira, 10 de setembro de 2015

PROVA DA NÃO-REVELAÇÃO

Cristão fiel, convido-te para fazermos uma análise rápida de um versículo bíblico qualquer, a partir do qual concluiremos pela sua verdadeira autoria, ao invés de atribuí-lo à revelação.
Peço-te que abra a Bíblia em Deuteronômio 22: 28-29.
Pronto?
Por obséquio, façamos a leitura:
“Se um homem encontrar moça virgem, que não está desposada, e pegar, e se deitar com ela, e forem apanhados, então, o homem que se deitou com ela dará ao pai da moça cinquenta ciclos de prata; e, uma vez que a humilhou, lhe será por mulher; não poderá mandá-la embora durante a sua vida”.
A princípio, pergunto-te o que há de divino nesse texto.
Antes de responderes, porém, vamos à interpretação:
Ainda que houvesse distorções consideráveis ao ser traduzido de uma língua para outra, a semântica continua mais ou menos a mesma. “Virgem” e “não despossada” significam “solteira”. Se um homem a “pegar” e se “deitar” com ela significa que se relacionaram sexualmente, não sendo possível distinguir se com ou sem consentimento. De acordo?
Em hebraico, o termo substituído de “pegar”, podemos conjeturar, talvez não fosse eufemístico, aproximando-se de “forçar”. Isso, todavia, ainda não inferimos do texto.
A expressão “e forem apanhados” denuncia uma condição que nega (como tudo mais) a onisciência e onipresença de deus e torna factível a ausência de testemunha – e a consequente absolvição do ato ilegal ou pecaminoso.
Mais adiante, o homem, impulsionado pelas glândulas do baixo-ventre, deve pagar ao pai da moça “50 ciclos de prata”. Com as conversões e correções aproximadas, fixemos esse valor em torno de cinco mil reais. O texto parece uma adaptação do Código de Hamurabi, mais antigo que a Bíblia.
A vítima (ainda não caracterizada como tal) não é a moça (a mulher), mas o pai (o homem). Deduz-se o machismo incontornável a que se presta o mito judaico-cristão.
Agora vem a parte mais interessante: “uma vez que a humilhou”.
Eis a prova que caracteriza o estupro. Os homens legisladores daquela época já pensavam na ação sexual criminosa.
A moça solteira (virgem ou não) é vítima da força e da libido do homem. Qual a sua recompensa por ser estuprada? Casar-se com o estuprador, o qual, terá como castigo, não mandá-la embora.
Nenhum deus legislaria dessa forma inegavelmente injusta e cruel.
O texto torna bastante claro seu autor: o homem.
Tens algo a dizer, contrário à conclusão acima?

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