O
país vive uma crise ético-política nunca antes observada em igual alargamento e
profundidade. Suas metástases, pela
primeira vez na história brasileira, afetam a economia, reconhecidamente a causa de
outros momentos de instabilidade. Os discursos apontam para um único caminho: a
educação. Cada vez mais, todavia, amplia-se a distância entre o ideal, a ordem
imaginada, e a realidade do processo também atingido de maneira inexorável pelo
mesmo mal.
Para uma melhor compreensão do que
ocorre agora (ou que deixa de ocorrer) no Brasil atual, algumas metáforas
filosóficas são muito oportunas. A primeira, consagrada por Zygmunt Bauman,
expressa-se como “pós-modernidade”. Jean Baudrillard disserta sobre um estado
de coisas “posterior à orgia” (e consequente “declinação das vontades”). Gilles
Lipovetski fala em “crepúsculo do dever”, em que as pessoas não mais são
obrigadas a alguma coisa, como a de zelar por valores morais, e os políticos,
descompromissados com as ideologias, buscam atender a seus próprios interesses.
Nas escolas públicas do ensino
médio, com maior evidência, a massa de adolescentes não disfarça a letargia, o vazio
que restou após o afrouxamento da disciplina. Em seus lares, não há mais o
controle dos pais, incapazes ante a onda de liberação comportamental. O
professor, nas últimas décadas, veio perdendo a autoridade que lhe outorgara a
prática milenar. Hoje ele está impedido de manifestá-la pelo sistema (de cima)
e pelo próprio aluno (de baixo), que se encontra resguardado por todos os
benefícios e direitos. A direção, coerente com a nova filosofia (das instâncias
superiores) de forjar resultados positivos, prefere fazer alterações no corpo
docente a dar motivo para que aluno troque de instituição ou sucumba à sua
falta de vontade. A reprovação leva à evasão, a qual altera um número, um
percentual exigido pelas coordenadorias, secretarias e ministério que justifica
a existência da escola.
O Estado continua sendo
paternalista, na medida em que necessita elevar os índices de aprovação aos
programas que impõe ao sistema educacional. Cada vez mais, observa-se a
discrepância entre os dados oficiais e a qualidade do ensino, verificada por
intermédio dos concursos ainda não manipulados. Para solucionar o problema, o
Ministério de Educação e Cultura cria o sistema-muleta de cotas, destinando 50%
das vagas nas universidades e institutos federais a estudantes oriundos da escola
pública. Para o espírito com uma pequena aptidão científica, essa é a prova que
confirma o fracasso do ensino básico no Brasil – e, por conseguinte, torna sem
sentido todo discurso que atribua à educação uma vocação salvadora.
A política reflete a crise
(agravando-a na parte que lhe cabe). O ponto fulcral, inatingível, onde se
enraízam as metástases do mal,
encontra-se dentro de cada indivíduo que integra a nossa cultura.
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