segunda-feira, 29 de junho de 2015

ASSUNTO POLÊMICO

O papel das novas tecnologias como articuladoras do processo informativo está longe de chegar a um consenso. Elas têm propiciado o letramento digital em massa, por intermédio das "redes sociais". Todavia, a rápida constituição do sujeito discursivo vem gerando uma babel (a partir da mesma interface).
"O sucesso do Facebook", escrevi em meu Palavras de fogo, decorre da ação que catapulta o usuário do site em autor do enunciado, que passa a dominar a interlocução não mais como mero anônimo, sem visibilidade alguma. "Num mundo em que se valoriza o parecer (como possível síntese entre o ser e o ter), o Facebook é o último recurso da aparência", onde o solipsismo se projeta como hipertextualidade.
Por outro lado, essa condição recém-adquirida de sujeito, conclui Umberto Eco, dá o direito à palavra a uma "legião de imbecis". O grande intelectual italiano é contundente: "O drama da Internet é que ela promoveu o idiota da aldeia a portador da verdade".
Ainda que já me manifestara sobre o excesso de opiniões, com suposto estatuto de verdade, preferi, numa análise inicial,  ver o lado bom desse salto da simples alfabetização ao uso generalizado da escrita eletrônica. 

terça-feira, 23 de junho de 2015

JUREMIR MACHADO DA SILVA (DE NOVO)

Na condição de leitor do Correio do Povo, já fui admirador de Juremir Machado da Silva, seu colunista reconhecidamente mais polêmico.
No artigo de ontem, FHC e Lula, Juremir compara os dois ex-presidentes do Brasil - com a evidente intenção de dissimular sua defesa do segundo. 
Para fazer essa comparação, o jornalista sagaz usa do subterfúgio de se ater sobre o assunto em razão de pedidos dos leitores.
Do ponto alto da comparação entre os dois ex-presidentes, destaco "FHC é muito mais culto" e "Lula é muito mais inteligente". 
Juremir cria uma dicotomia entre cultura e inteligência, atribuindo-as a FHC e a Lula, respectivamente. Em seguida, afirma que "FHC foi mais esperto".
Isso me basta para, mais uma vez, questionar o oportunismo de Juremir (do tipo que fez sucesso no telejornalismo brasileiro, com Boris Casoy). 
Na distinção acima, há um jogo equivocado de conceitos, o qual beneficia o político que mais próximo esteve de conferir ao colunista uma "bolsa família" ideológica - Lula. 
A língua portuguesa distingue inteligência e esperteza (pela etimologia dos dois termos: inteligência, aptidão para o conhecimento; esperteza, característica de quem é ou está desperto, definido por Houaiss como "ardil", "astúcia", "malandragem"). 
No princípio da Filosofia, os pensadores gregos associavam o conhecimento à virtude, ao bem. 
Todos os políticos brasileiros ainda saberão que, sem comparar a FHC, Lula constitui o melhor exemplo vivo de esperteza, a qual não pode ser tomada como inteligência, sabedoria.
Juremir se presta a fazer tal confusão, usando FHC como bode expiatório.
 

domingo, 21 de junho de 2015

ACADEMIA SANTIAGUENSE DE LETRAS


A ideia de uma academia de Letras em Santiago fora expressa mais de uma vez, de uma maneira informal, sem a necessária mobilização no sentido de transformá-la em realidade.
Tadeu Martins, mudando-se para a nossa cidade, trouxe em sua bagagem (cultural) a mesma ideia de que poderíamos fundar uma academia na Terra dos Poetas. Ele contribuíra para a criação da Academia Santo-Angelense de Letras, em Santo Ângelo, RS.
Uma primeira reunião foi realizada com alguns escritores no Centro Cultural de Santiago, de onde se constituiu a Comissão Pró-Criação da Academia Santiaguense de Letras. Todas as quintas-feiras, 9 horas, essa comissão vem se reunindo, com o objetivo de organizar um encontro de escritores residentes em nosso município, a partir do qual se torne factível uma assembleia para a escolha da Diretoria e Conselho Fiscal.
Os convites para esse primeiro encontro já foram elaborados textualmente, os quais serão entregues após a impressão gráfica.
Em princípio, todos os convidados são potenciais membros fundadores da Academia Santiaguense de Letras (desde que compareçam ao encontro, ou justifique sua falta). A elegibilidade do membro efetivo/ fundador está condicionada a apenas um critério: o escritor deve apresentar em seu currículo a publicação de, no mínimo, um livro. Atualmente, são em torno de 30 autores que já publicaram livro(s) e residem em nosso município.
Uma minuta do estatuto já está pronta para apreciação da primeira Assembleia Geral, que contemplará a possibilidade de ampliar o número de acadêmicos, com o acréscimo de outras categorias de membros, como os correspondentes, por exemplo.
Os objetivos para a nossa Academia de Letras são (entre outros): cooperar para que as obras dos escritores santiaguenses sejam cada vez mais conhecidas no âmbito local, regional, nacional e - por que não? - internacional; estimular e auxiliar a impressão de obras de valor artístico ou científico, que venham a ser produzidas pelos membros da ASL; promover concursos, bem como conferências, simpósios, cursos e congressos; cultuar a memória dos escritores que justificam o epíteto Terra dos Poetas para Santiago.
A efetivação da ideia de uma academia de Letras em nossa cidade depende da voluntariedade e do engajamento (no sentido sartriano) de cada um dos escritores santiaguenses. 

sábado, 20 de junho de 2015

BIANCHINI E A VERDADE



A condição de ser santiaguense do deputado Miguel Bianchini não é suficiente para merecer deste seu conterrâneo um voto de solidariedade. Certamente, esse apoio despertaria suspeitas fundamentadas no paroquialismo, justificando-se o menosprezo daqueles que exigem do deputado a retratação ou a prova. 
No momento em que acuso a sociedade de superestimar os políticos, porque eles estão muito aquém de suscitar um sentimento de nobreza, ouço uma voz isolada, corajosa e verdadeira. A coragem e o conhecimento demonstrados por ela são suficientes para despertar meu interesse em ouvi-la com toda a atenção e de repercuti-la (até como testemunho autocrítico do que afirmo a priori).
Aparentemente, não há como o deputado Bianchini provar o que disse, mas essa impossibilidade não torna falso o que disse. 
Depois de um século, Rui Barbosa continua muito atual: 
“De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantar-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto”.  

sexta-feira, 19 de junho de 2015

RINCÃO DOS MACHADO

Hoje ocorreu a maior geada deste ano, Rincão dos Machado, às 7h30min. A foto do meio é de um cocho para dar sal ao gado.

quarta-feira, 17 de junho de 2015

POLÍTICA E RELIGIÃO

JÁ ESCREVI SOBRE a superestimação da política, sobre a superestimação de que gozam os políticos. 
Isso é um mal. 
Antes de responder por que é um mal, respondo por que há a superestimação. Ela decorre da perspectiva do cidadão comum, que nunca será um jogador de futebol, um ator  global, um literato, um filósofo... No fundo, ele se identifica com o político, com um conhecido seu que, por insistência, elegeu-se vereador, deputado, prefeito etc. Ele vislumbra a possibilidade de também seguir a carreira de seu amigo, a qual não exige conhecimento, grau acadêmico, senão muita esperteza. O único processo a que ele é obrigado a se submeter consiste em colocar seu nome para concorrer (por um partido qualquer). 
A maioria dos postulantes fracassa nessa intenção de sair do anonimato para se tornar uma celebridade (ganhando muito dinheiro do órgão empregador, a União, o Estado, o município...). Apenas a minoria consegue se eleger, sair do inferno do anonimato para o paraíso do reconhecimento. 
Via de regra, aqueles que conseguem certa projeção midiática, aproveitam-se dela para galgar o degrau da política. 
Outra profissão que catapulta o indivíduo ambicioso, que se vê obliterado pelo anonimato, constitui a carreira de pastor evangélico. Uma das condições exigidas para se tornar político (admirado onde chega) ou pastor evangélico (ouvido nos templos), consiste em mentir muito bem, em ser persuasivo na mentira. O político mente que "trabalha" em prol dos necessitados; o pastor mente em nome de Jesus Cristo. O cidadão comum acredita nos dois, na medida em que ele vê uma possibilidade de também se tornar um deles, de sair do meio da assistência para a ribalta.
Por que é um mal?
A mentira ainda não deixou de ser um mal.  

segunda-feira, 15 de junho de 2015

LIVROS (OUTRA VEZ)





Esses dois livros me chegaram hoje, fechando 50 títulos adquiridos em 2015. Todos escolhidos criteriosamente (a dedo), coerentes com minhas últimas leituras.
Não farei apologia dessas obras, embora já tenha lido Carl Sagan (que não me devolveram). Primeiro, ainda não li Deus não é grande. Segundo, a busca no Google é mais completa, mais interessante.

A ROSA E O JARDINEIRO

Bernard Le Bovier de Fontenelle, poeta e filósofo francês do século XVII, escreveu que "uma rosa jamais se lembra de ter visto um jardineiro morrer". Cita-o Michel Serres em seu livro O incandescente
Este outro pensador prossegue: "O jardineiro vê a rosa nascer, desabrochar, murchar e, em seguida, desaparecer num curto espaço de tempo". 
A frase de Fontenelle constitui uma metáfora, uma maneira de representar as diferentes percepções que temos da passagem do tempo. Algo que tem uma duração de horas, dias, semanas, meses ou anos, cujo aparecimento e desaparecimento podemos testemunhar, dizemos que é efêmero, passageiro. Em contrapartida, algo que transcende a duração da nossa própria existência, cujo aparecimento e desaparecimento abarca séculos, milênios ou milhões de anos, dizemos que é duradouro. 
Somos precisos para o que podemos ver (ou medir); exagerados para o que não podemos fazê-lo com o escantilhão do nosso próprio testemunho. 
Há um consenso vulgar de que os diamantes são eternos. Os átomos (de carbono) que o compõem, forjados numa estrela que existiu bilhões de anos antes do Sistema Solar, diriam que os diamantes são efêmeros.
Para o teu bichinho de estimação, és comparável ao jardineiro. Em relação à montanha que se azula ao sul de tua casa, és comparável à rosa.
Uma rosa, o espírito humano. Um jardineiro, o tempo. 

sexta-feira, 12 de junho de 2015

METÁFORA



com a poesia
mudo da palavra
sua roupagem velha,
já puída
pelo uso

sou o que contempla
a beleza desnuda
da palavra
antes de vesti-la
outra vez

isso requer arte
de corte novo
inconsútil
que faça a palavra
mais bela e feliz

quinta-feira, 11 de junho de 2015

BREVE HISTÓRIA DE QUASE TUDO

Recebi hoje Breve história de quase tudo - do Big Bang ao Homo sapiens, de Bill Bryson. Outros livros que me chegaram pelo correio: Por que não sou cristão, de Bertrand Russel, e Cosmos, de Carl Sagan. Esses dois livros emprestei para alguém, não sei quem, não sei quando. Fui obrigado a comprá-los para tornar minha biblioteca ainda maior.

LEMBRAR PARA NÃO ESQUECER

Todo DIA do nosso calendário é dedicado a isso ou aquilo, chegando ao absurdo de dedicar o mesmo dia 21 de setembro, por exemplo, à árvore e ao fazendeiro. 
Algumas comemorações não escondem seu forte apelo comercial, na medida em que é o próprio comércio que as idealiza (com o apoio midiático). 
ÓBVIO, hoje em dia pouca coisa escapa ao açambarcador modo de existência da sociedade de consumo. 
Entre as exceções, apresento esta reflexão: a lembrança desse ou daquele dia constitui uma estratégia pós-moderna de que o homem dispõe para encobrir uma de suas deficiência: o ESQUECIMENTO.

terça-feira, 9 de junho de 2015

SIMPLESMENTE GENIAL



Depois de uma longa e prazerosa leitura de Richard Dawkins, 4 livros (1.806 páginas), mudo um pouco para este O incandescente, de Michel Serres. Esse filósofo francês (meus preferidos) transita filosoficamente "entre as ciências e as artes, entres as ciências e as humanidades" (conforme a Wikipedia). 
Em Dawkins, a ciência fundamenta a filosofia. Em Serres, a filosofia fundamenta a ciência. Percebi esse aspecto ao ler o primeiro capítulo de O incandescente
Simplesmente genial!
Não mais me afastarei desse caminho - margeado pela Filosofia e pela Ciência. 
Não sou platônico, mas algumas ideias que já tinha tido (expressas ainda que de uma forma canhestra), encontro nesses autores desenvolvida com um estilo admirável. Eis a razão por que os leio.
 

domingo, 7 de junho de 2015

SEMPRE NIETZSCHE

"Conheço o meu destino. Dia virá em que apareça ligado ao meu nome memória de alguma coisa de formidável - de uma crise tal como jamais houve outra sobre a Terra, do mais profundo choque de consciências, de um juízo proferido contra tudo quanto até hoje foi motivo de fé, de tudo quanto se exigiu, se santificou. 
[...]
"Quando a verdade entrar em luta com a mentira milenária, teremos tremores de terra como nunca, teremos em série movimentos tectônicos, deslocações de vales e montanhas tais como jamais ninguém sonhou.
[...]
"A ideia do 'além', do 'mundo-verdade', foi inventada apenas para depreciar o único mundo que existe - para destituir a nossa realidade terrestre de todo fim, razão e propósito! A ideia de 'alma', de 'espírito' e, ao fim e ao cabo, ainda a de 'alma imortal', foi inventada para desprezar o corpo [...]. A ideia de 'pecado' foi inventada com o complementar instrumento de tortura, o 'livre-arbítrio', para extraviar os instintos, para fazer da desconfiança para com os instintos uma segunda natureza".

(Excertos de Ecce Homo, de F. Nietzsche)

sábado, 6 de junho de 2015

EVOLUÇÃO DA VIDA

A ciência ainda não formulou uma resposta definitiva sobre a origem da vida na Terra. Independentemente de como tenha surgido o processo de autorreplicação, um dado é inquestionável: organismos unicelulares (cianobactérias) existem há pelo menos 3,5 bilhões de anos. Apenas no último bilhão, a vida evoluiu para seres multicelulares (e invertebrados). Todas as formas de vida posterior, mais complexas, evoluíram desses seres simples. Inclusive o homem. 
Isso é extraordinário!

sexta-feira, 5 de junho de 2015

REFLEXÃO NECESSÁRIA (ANTES DO CAFÉ)



       A moral que orientava nossa sociedade vem sofrendo rupturas numa frequência cada vez maior. No âmbito da sexualidade, por exemplo, a ordem secular começou a ser questionada com rigor a partir dos anos sessenta, sob a bandeira do movimento feminista. Para que esse movimento se constituísse como fato social, houve indivíduos que, de uma forma isolada, ousaram bater de frente com os tabus. O teatro, o cinema e a televisão foram exitosos em personificar as primeiras mártires ou heroínas, que contribuíram para a fundamentação ideológica do movimento.
Entre o furor uterino (sem barreiras) e a misandria, o feminismo floresceu à revelia das pulsões, romantizado como uma reconstrução dos afetos.
As rupturas passaram a ocorrer numa reação em cadeia. A revolução sexual, ainda em processo, ganhou o apoio incondicional dos gays, lésbicas e simpatizantes (GLS).
Uma das últimas conquistas, prestes a se transformar em estatuto foral, consiste num novo conceito de família. Certamente, esta será a ruptura moral mais significativa no âmago da nossa sociedade – hoje (des)orientada pela propaganda do consumismo e da sexualização, como sinônimos de um modo de existência mais feliz.
A chamada pós-modernidade já começou a gestar seres teratológicos, como de uma mulher grávida de seis meses de Atlanta (EUA), que anuncia a venda de seu futuro bebê por muito dinheiro ou droga. Há mais tempo, leiloava-se a virgindade.
A todo bônus há o ônus correspondente. O trade-off é inevitável.
A desigualdade diminui entre os gêneros, que querem não mais caracterizados pelos cromossomos X ou Y, ou pela constituição física do indivíduo. Eles se mesclam agora na superestimação dos afetos – segundo o guia sexualmente correto.