sábado, 28 de fevereiro de 2015

EU JÁ SABIA

O problema da não previdência (previsão de futuro) do brasileiro  é cultural (tudo que é assimilado pelo modus vivendi de uma comunidade, região, país). 
Ele é decorrente de uma soma de características inatas ou também culturais, como a acomodação (para não dizer preguiça), física e intelectual. O homo brasiliensis só lembra Santa Bárbara quando troveja, tranca a porta depois de arrombada, poupa depois da dívida adquirida... Sua (re)ação é sempre tardia.
O governo (em todos os âmbitos) não é diferente, na medida em que é brasileiro. Até o ano passado, gastava-se no atacado. A Copa do Mundo, não se enganem, foi apenas um item de uma extensa relação perdulária. O crédito não cansava de "pintar na tela" (expressão de quem controla o Sistema Integrado de Administração Financeira - SIAFI). O oba-oba fez crescer os olhos daqueles que querem ganhar sem trabalho, dos que querem lucrar com negócios ilícitos, dos ladrões (que fazem a ocasião). Aos gastos vultosos propiciados pelos administradores, somam-se as propinas e os roubos quase oficializados.
Depois das eleições, depois da passagem do ano, depois das férias e depois do Carnaval, eis 2015, com as portas arrombadas, com os cofres vazios. 
Os caminhoneiros merecem o nosso reconhecimento, pela coragem que tiveram de se manifestar (de uma maneira pacífica, muito própria do espírito brasileiro). O governo federal deveria pensar antes, para evitar essa primeira crise do ano - ao contrário de se constituir na causa imediata. 
Decididamente, somos pouco precavidos. Não pensamos e não agimos - necessariamente nessa ordem - antes de sermos forçados a fazê-lo pelos acontecimentos. 

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

RETORNO DO GUISADO


OS ECONOMISTAS estão na pauta dos noticiários outra vez: a INFLAÇÃO volta a ameaçar a delicada estabilidade dos brasileiros. A opinião (ou episteme) dos analistas constitui o reflexo da realidade, a qual pode ser conhecida, por exemplo, dentro de um supermercado. Até o ano passado, o CONSUMIDOR chegava ao açougue e escolhia entre as carnes melhores (para o bife ou assado). AGORA, passa a ser frequente o pedido por guisado. Independentemente da análise que façam os estudiosos, 2015 já se caracteriza pelo retorno da CARNE MOÍDA (de segunda).

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

EIS 2015!

As férias passadas, o Carnaval passado, a constituição dos novos governantes passada, faço voz aos que exclamam com certo alívio: Até que enfim, o ano começa! 
O fato que primeiro nos dá conta desse princípio tardio é observado nas ruas: crianças e adolescentes retornam às escolas, enchendo as manhãs e tardes de vivaz energia. 
A temperatura decai ligeiramente, forçando-nos a pôr fim aos veraneios (e a outras vadiagens). Tempo de fechar a carteira e ir para a labuta necessária. 
As perspectivas quanto à economia não são das melhores – a despeito da supersafra  que se aproxima. As dívidas da União, dos estados e dos municípios passam a ser reais, depois de um ano que tudo se fez para camuflá-las (por motivos eleitoreiros). 
A propósito, 2014 foi de brincadeira (de acordo com o que já expressei neste espaço). Uma enganação. Todo dinheiro que saiu dos cofres públicos federais, num oba-oba inacreditável, ia de encontro à queda do crescimento econômico do país. 
Este ano não haverá Copa do Mundo de Futebol, tampouco eleições. À exceção de alguns feriados a mais (que faz a alegria do funcionalismo), devemos pensar e agir com o objetivo de produzir mais. Mais ideias (ainda somos carentes delas), mais trabalho efetivo, mais obras... 
Na polis idealizada por Platão, a qual seria governada por um sábio, todos teriam um ofício especial, do sapateiro ao guardião. 
Santiago, nossa cidade educadora, é o resultado daquilo que idealizamos e do que fazemos para ela. 
Eis 2015!
Às devas.

sábado, 21 de fevereiro de 2015

UMA ABORDAGEM FREUDIANA

Um fato noticiado hoje pela mídia santiaguense me remeteu a Sigmund Freud, o criador da Psicanálise.  Uma mulher sexagenária quase fora estuprada em sua casa pelo próprio filho (de 38 anos de idade). Antes de se efetivar a tentativa, um neto da senhora flagrara o quase estuprador espiando a mãe tomar banho pelo buraco da fechadura. Mais tarde, no momento em que a tentativa se efetivava, o homem foi impedido de ir adiante pela pronta reação da vítima, que lhe pôs em fuga com um cabo de vassoura. Esse detalhe é indispensável para a compreensão da análise que farei abaixo.
Ao reler sobre o Complexo de Édipo, que ocorre durante o estágio fálico da evolução psicossexual da criança (entre os 3 e 6 anos de idade), arrisco dizer que o desejo incestuoso, desenvolvido pelo quase estuprador na infância, não foi normalmente reprimido. Isso pode ocorrer por dois motivos necessariamente opostos: 1) o pai violento, provocando o medo de castração ainda muito precoce no filho; 2) a frouxidão ou inexistência do pai, fazendo  retardar o desenvolvimento do (super)ego no menino.
O primeiro objeto de desejo da criança é o seio materno, o qual pode atender satisfatoriamente sua imensa expectativa, ou frustrá-la repetidas vezes. Ainda no âmbito do inconsciente, tal disponibilidade, ou não, associa-se à ausência do pai, ou à sua presença. Da mesma forma, todo carinho dispensado durante o banho, o vestir, o pentear etc. Mais tarde, o adolescente irá experimentar uma reaproximação libidinal com a mãe, que será mais ou menos intensa conforme seu grau de amadurecimento psicossexual. 
O quase estuprador, personagem real da notícia veiculada, certamente não teve um amadurecimento normal. A repressão ao conteúdo libidinal (ou a falta dela) causou um desajuste na personalidade desse indivíduo, suscetível de se deixar dominar por um cabo de vassoura - algo que não intimidaria um estranho, não familiar.
(Devo desculpas ao leitor pela minha forma lacunar de abordagem. Mais tarde, pensarei melhor nessas reflexões. Minha intenção é também alertar e prevenir o leitor contra o preconceito que ignora a sexualidade infantil - uma das maiores descobertas de Freud - bem como contra o preconceito que incrimina o quase estuprador  antes de considerá-lo um desajustado, um doente.)

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

EIS A TERRA!


O Terra vista de Marte (clicar na figura para ampliar).

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

VIDA EM MARTE(?)


Uma empresa holandesa se mobiliza em torno de uma expedição humana a Marte, a Mars One. O planeta (à direita na ilustração acima) é um sexto menor que a Terra, seu raio é de 3.390 km (o terreno é de 6.378 km). O chamado "planeta vermelho", em razão do acúmulo de óxido de ferra (ferrugem) em sua superfície, dista entre 54 e 103 milhões de quilômetros, com uma temperatura média de -63ºC, fora na zona dos "cachinhos dourados" em que se encontra Gaia (cheia de vida). 
A primeira viagem com os quatro novos habitantes marcianos está marcada para 2023. Viagem sem volta. Futuramente, essa condição um tanto assustadora evoluirá, ou não. Tudo dependerá se a humanidade continuará progredindo (sobretudo tecnologicamente). Mesmo assim, já são 78 mil voluntários que querem ir para Marte. A (em) princípio, apenas 4 aventureiros poderão deixar o nosso planeta a cada dois anos (a partir da primeira expedição). 
Outras hostilidades à vida esperam esses doidivanas (na melhor acepção do termo): radiação UV constante; ventos de quase 500 km/h; muito dióxido de carbono... Esteticamente é horrível: o Sol ilumina 43% menos; as duas luas (Fobos e Deimos) são irregulares ,não passam de asteroides; o céu não é azul; os horizontes são curtos; e a Terra não passa de uma estrelinha perdida (para sempre) no espaço.

(METAS)SABEDORIA

Sugiro a todos os meus amigos a leitura de o Mito da Caverna de Platão (é só digitar no Google). Esse mito é apresentado em forma dialética no Livro VII de A República: "Sócrates - Agora imagina a maneira como segue o estado da nossa natureza relativamente à instrução e à ignorância". 
O mito diz respeito à passagem da ignorância para o saber. 
Não há outra página de toda a história da Filosofia que nos passe maior sabedoria, ou melhor, metassabedoria.



O educador ideal é aquele que retorna à "caverna" para libertar seus antigos companheiros, trazendo-lhes a boa nova que existe lá fora, sob a luz do Sol. Noutras palavras, ele necessita libertar-se do velho paradigma, que o prende a um tempo anterior ao domínio das luzes, da razão. 
Um educador (pai ou professor) cristão, por exemplo, não consegue compreender verdadeiramente ou aceitar efetivamente o evolucionismo. O ensino da biologia, da evolução da vida, é indispensável para a mudança de paradigma. 
Não apenas a História Natural (com ênfase na genética), mas a Astronomia, a Psicologia e, principalmente, a Filosofia são estudos que propiciam ao indivíduo a transição difícil (e, em muitos aspectos, dolorosa) para uma educação completa, para um novo paradigma.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

MISSÃO DO FILÓSOFO

No Livro VI, de A República de Platão, há certamente a maior apologia ao filósofo (que conhece a ideia do bem). A ele caberia mudar a opinião do vulgo. A certa altura do diálogo, Sócrates pergunta a Adimanto: "Não percebes como são ridículas as opiniões que não se baseiam na ciência?".

sábado, 14 de fevereiro de 2015

FILOSOFIA E PLATÃO




A Filosofia me atrai tanto, a começar pelos diálogos de Platão. Hoje releio A República. Quase tudo em Platão margeia a sabedoria, quando se limita a questionar o mundo real, da imanência. Não posso concordar com ele, seguindo Aristóteles, quando sobrepõe um mundo idealizado, da transcendência. 
Ao estudar as formas de governo, o filósofo elege os sábios como os melhores para governar a "cidade do céu". Neste mundo verdadeira (falso para Platão), as cidades (os estados) têm governos que evoluem da tirania à democracia. A timocracia e a oligarquia, via de regra, atrelam-se à tirania.
Obviamente, Platão era antidemocrático. Ele coloca na boca de Sócrates, no Livro IX, que o homem tirânico se origina do homem democrático. Alguns governos da América do Sul, nas últimas décadas, provam essa involução real. Ainda bem que fica apenas na ameaça. Não há mais lugar para tirano no mundo civilizado (isto é, no Ocidente). A exceção é Cuba (uma ilha). 
No mesmo Livro IX, Platão divide os homens em três classes principais: o filósofo, o ambicioso e o interesseiro. Alto lá! Se não há erro de tradução, qual o diferença entre "ambicioso" e "interesseiro"? Atualmente, os termos se confundem, quando se amplia o significado de "ambição" para "forte desejo de riqueza" (além da mesma intensidade de desejo por poder). Há dois mil e trezentos anos, em Atenas, ambicioso era quem buscava a fama e o interesseiro, o dinheiro, a riqueza material. O filósofo buscava o conhecimento, a sabedoria. 
Hoje podemos reclassificar as três classes platônicas: o cientista (no lugar do filósofo), o político (no lugar do ambicioso) e o negociante (no lugar de interesseiro). A democracia, que é a melhor forma de governo, possibilita que o político escolha um cientista e o banqueiro para assessorá-lo na administração de uma cidade (estado ou país). Isso pensado positivamente. Por outro lado, o político ambicioso não apenas se associa ao negociante interesseiro, como se torna um amálgama dessas duas classes. O cientista vira um tecnocrata e se subordina aos outros. 
Como as sociedades evoluíram desde a Grécia Antiga, há outras classes de homens, algumas delas mais numerosas, enormemente diferenciadas. 

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

ONDE ESTÁ O POMBO?


Essa foi uma das melhores fotos que tirei durante minha estada no litoral na semana passada. O motivo é uma árvore imensa na praça principal de Rio Grande (em frente à Prefeitura).
ONDE ESTÁ O POMBO?

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

TOMIE OHTAKE




Um percurso pictórico do figurativo ao abstrato.

PARA COMPREENDER A LENTA TRANSIÇÃO

Na Introdução de Uma era secular, Charles Taylor pergunta o que significa dizer que "vivemos numa Era Secular".
Nós, da América Latina, ainda estamos fora dessa era, segundo o autor, limitada ao "norte do Ocidente", no "mundo do Atlântico Norte".
Essa secularidade significa que, "embora a organização política de todas as sociedades pré-modernas estivesse de algum modo conectada a, embasada em ou garantida por alguma fé em, ou compromisso com Deus, o Estado ocidental moderno está livre dessa conexão.
"Se recuarmos alguns séculos em nossa civilização, veremos que Deus estava presente numa grande quantidade de práticas sociais - não apenas políticas - e em todos os níveis da sociedade.
"Esse esvaziamento de religião das esferas sociais autônomas é, evidentemente, compatível com a vasta maioria das pessoas que ainda acredita em Deus".
O filósofo canadense cita como exemplo desse fenômeno os EUA: "Uma das primeiras sociedades a separar Igreja e Estado, o país é também a sociedade ocidental com as estatísticas mais elevadas de fé e prática religiosas.
"A fé é uma opção e, num certo sentido, uma opção complicada na sociedade cristã (ou 'pós-cristã'), e não o é (ou ainda não) nas sociedades muçulmanas.
"A mudança que quero definir e traçar á aquela que nos deva de uma sociedade na qual era praticamente impossível não acreditar em Deus para uma na qual a fé, até mesmo para o crente mais devoto, representa apenas uma possibilidade humana entre outras.
"A fé em Deus não é mais axiomática".
Esse livro veio me auxiliar na compreensão da transição lenta por que passa nossa sociedade (brasileira inclusive), do paradigma cristão, que dominava verticalmente durante a Idade Média, ao paradigma fundamentado na racionalidade.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

CONTRA O MAL


Ao cristianismo está reservado um grande papel ao lado da democracia e da liberdade ocidentais: bater de frente contra outros sistemas de crença  nada democráticos e perversos. Neste aspecto, o estado, que se autoinstituiu laico, necessitará de uma reaproximação com o poder da cruz. 
Mesmo que eu tenha deixado de crer na religião de meus pais, em decorrência de uma evolução racional (filosófica e científica), não vacilarei em lutar (discursivamente) ao lado dos evangelistas.
Na África e no Oriente Médio, exércitos de assassinos tentam converter a população à crença que os instiga politicamente, aprisionando ou executando pessoas.
Nesse aspecto, a América Latina me parece representar um baluarte que deterá o avanço das forças do mal que entraram numa Europa vulnerável pela própria secularização. O que não fará a diplomacia, tampouco as bombas norte-americanas, a cruz fará pelo bem.

O MAL EM NOSSO MEIO

Júlio Prates escreve em seu blog que alguém (do mal) colocou um despacho em frente à sua casa. Ele está tranquilo porque acredita em Jesus Cristo, em Deus, a suprema força do bem.
O relato do blogueiro testemunha a ocorrência em Santiago de uma prática que  antecede a modernidade, ou seu paradigma fundamentado na razão, no conhecimento filosófico e científico. A magia negra tem raízes no animismo que dominou o mundo primitivo. Mais tarde, como é explicada pela doutrina espírita, evoluiu com a invocação de espíritos malignos, cuja anulação exige um apelo para os espíritos benignos. 
Na Idade Média, a Igreja Católica acusava as pessoas que praticavam qualquer forma de bruxaria, autorizando passá-las na espada ou queimá-las em praça pública. 
Sou contra a pena de morte oficializada pelo Estado ou por qualquer outra instituição, mas essas pessoas que "trabalham" com a magia negra deveriam ser incriminadas judicialmente. 
O mal está arraigado quase imperceptivelmente no coração de nossa sociedade. Esses "bruxos" e maus espíritos continuam a existir porque há pessoas (aparentemente do bem) que os procura para fazer o mal. (Existem traficantes de droga, porque há pessoas que consomem droga.) Dessa forma, a culpa de soltarem despacho na frente das casas é de pessoas que circundam nosso universo social, dizendo-se até amigos da gente.
Com uma razão inteligente sei quais são essas pessoas que me cumprimentam na rua, me elogiam até, mas que no íntimo me invejam, me desejam o mal. Em parte, sou indiferente, porque sou descrente, em parte tenho pena dessas pessoas, pela pequenez de seus espíritos (espírito no sentido da imanência).   
  


quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

UMA ERA SECULAR


Hoje fui buscar o terceiro livro na 42ª Feira do Livro de Cassino, cujo lema é "Histórias que se entrelaçam - saberes que se eternizam": UMA ERA SECULAR, de Charles Taylor. Esse autor é filósofo canadense e o senão contra a sua trajetória intelectual é ter ganho o Templeton Prize 2007. Amanhã mesmo começo a ler a obra de 930 páginas.

RIO GRANDE E CASSINO

Ontem, num passeio por Rio Grande, eu e Erilaine estivemos na Prefeitura, para visitar a Pinacoteca. Por sugestão do Dr. Valdir Pinto, fomos à Biblioteca de Rio Grande. A senhora Heloísa nos orientou na visita que fizemos num labirinto de salas, estantes e corredores. Fundada em 1846, um ano após o fim da Revolução Farroupilha, conta com um acervo de quase 500 mil livros. Os mais raros são: Diálogos de ..., editado em grego no ano de 1550; Geografia, de Ptolomeu, editado em 1562; Os lusíadas, de Camões, editado em 1880. A orientadora nos mostrou um jornal rio-grandense com edição de 1845. A biblioteca tem muitas peças de alto valor artístico, como quadros, bustos, mobiliário etc. 
Da biblioteca, fomos conhecer o sobrado de azulejo (o único construído no sul do país, que fica em frente ao Paris Hotel, onde hospedou-se D. Pedro II. Depois do almoço, pegamos a balsa para São José do Norte, cidade que ocupa o sul do estreito de terra entre a Lagoa dos Patos e o mar. No retorno, visitamos o Museu Oceanográfico em Rio Grande. 
Por intermédio da senhora que nos atendeu na biblioteca, ficamos sabendo que se realizava uma feira do livro em Cassino, bem próximo de onde estamos hospedados. Depois da praia, fomos visitar a feira, organizada pela Universidade Federal de Rio Grande - FURG. Maior que a feira de Santa Maria. No sábado, nosso amigo Breno Serafini virá lançar seu Picassos falsos. Dois livros me interessaram: Literatura e Psicanálise, de ensaios, com vários organizadores; Nietzsche e o problema da civilização, de Patrick Wotling. Deixei reservado um outro, sobre a secularização, que vem ao encontro de minhas últimas reflexões sobre paradigmas religiosos, modernidade, pós-modernidade etc.
Muita sorte nestes dias: sol, água limpa morna e limpa...

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

CASSINO CULTUA IEMANJÁ


      A Avenida Rio Grande é a espinha dorsal de Cassino – desde a RS734 à praia. As duas pistas se encontram em frente a imensa estátua de Iemanjá, tendo como plano de fundo o Atlântico.
      Minha chegada ao balneário coincidiu com o dia consagrado à Iemanjá, orixá que foi assimilado pelo catolicismo como Nossa Senhora dos Navegantes.
      Excepcionalmente vestida com um manto azul, a deusa era o centro das atenções, cercada por centenas e centenas de gente curiosa e de adeptos compenetrados (que vieram cultuar a imagem, cercando-a de oferendas).
Mais do que turista simplesmente, coloquei-me no papel de um observador cuja reflexão exigiu de mim o presente registro verbal.
      A partir do fato social (pessoas rendendo culto à Iemanjá na praia de Cassino, dia 2 de fevereiro de 2015), concluo que subsiste o caráter religioso, animista e idolátrico. Ainda não houve uma idade da razão, para justificar o preconceito pós-moderno de que ela fracassou em trazer a felicidade tão exigida pelo homem.
      O fato não comprova um possível retorno ao espiritualismo. Não há retorno, mas continuidade.
Ao mesmo tempo em que fotografava a Erilaine, observava um rapaz deitar-se na calçada em reverência à Iemanjá. Em seguida, ele abriu uma garrafa de champanha e derramou todo o líquido no extremo do círculo de oferendas.
Dois comportamentos bem distintos, o do observador frio e o do crente fiel. Como tenho a mais clara certeza de gozar atualmente de perfeita saúde psicológica, penso que algo vai mal com quem acredita em deuses (e se joga ao chão ante a imagem de um deles). 
      Num dos melhores ensaios produzido pelo intelecto humano, Freud definiu a religião (toda religião) como uma ilusão. Uma ilusão que beira a neurose. 

domingo, 1 de fevereiro de 2015

PLATÃO NOVAMENTE

Todas as vezes em que retornei à história da Filosofia, fui forçado a ler Platão. Os registro histórico sobre a Grécia Antiga, um dos berços da civilização ocidental, incluem-no entre seus nomes mais proeminentes. Will Durant faz uma apreciação tão elevada de A República em sua História da Filosofia, que acabei lendo a obra nos anos oitenta. Nos últimos anos, durante o curso de Filosofia (bacharelado), já estudei Platão em quase todas as disciplinas. Em Discurso Filosófico I, ele é exaustivamente analisado.
Na República idealizada por Platão, os poetas não teriam lugar, em razão de comporem versos e narrativas puramente imitativos. Ao discursar sobre as coisas do mundo sensível, os poetas o fariam como que por desdém ou desconhecimento (não necessariamente nessa ordem) do mundo inteligível. Os filósofos verdadeiros sim. Estes deveriam governar as cidades. No Livro VI, por intermédio do diálogo entre Sócrates e Glauco, Platão detalha como seria o caráter do filósofo verdadeiro. Uma perfeição de pessoa. Um ideal (à exceção talvez de Confúcio, que existiu realmente). 
Pois bem, não gosto de Platão. Não porque baniu a poesia de sua república, mas porque é um idealista. Mais do que o mais sonhador dos poetas. Sua filosofia, principalmente condenando o "mundo sensível", real, constituiu um dos substratos do cristianismo elaborado por Saulo de Tarso. (Agora me ocorre que a cegueira sofrida por Saulo e sua conversão ao deus de Israel demarcou a saída da Caverna, do mundo das sombras para a luz.) 
Ainda bem que logo ou outro filósofo floresce na Grécia para fazer o contraponto necessário a Platão: Aristóteles.