segunda-feira, 12 de maio de 2014

AONDE ANDAVA O HOMEM?

Aos  que ainda creem na imediata e completa criação do homem por um deus, do homem dotado de uma alma transcendente, sugiro um exercício simples, que deveria ser do conhecimento de todos: acompanhar a linha do tempo desde o princípio.
O ponto mais distante que sabemos da história do Universo (atual) é o Big Bang - não mais uma teoria, mas um fato já incontestável. Essa grande "explosão", ou, para empregar uma fórmula de Aristóteles, transformação da potência em ato em âmbito cosmológico, ocorreu há aproximadamente 14 BILHÕES de anos. Após uma gigantesca inflação, iniciou-se o processo de formação das galáxias, estrelas e planetas (não necessariamente nessa ordem). Até a formação do Sol, decorreriam oito a nove BILHÕES de anos, bagatela de tempo muito superior à existência dessa estrela familiar. 
Aonde andava o homem com sua alam e seu deus transcendentes?
Em torno do Sol, formaram-se os planetas, entre os quais a Terra. Este planeta demoraria aproximadamente 4 bilhões de anos para dar um grande salto vital, chamado de "explosão cambriana". Mais uma vez "explosão". 
Repito o questionamento acima: Aonde andava o homem... nesse tempo todo?
Após a explosão cambriana, Gaia demoraria 300 milhões de anos para produzir a classe dos répteis, cuja extinção ocorreria tão somente há 65 milhões de anos. 
Durante o domínio dos dinossauros, questiono outra vez: Aonde andava o homem...?
Depois da extinção dos répteis, os mamíferos ganharam a chance de se desenvolver por milhões e milhões de anos, até o surgimento da ordem dos primatas.
Nada do homem.
Dezenas e dezenas de milhões de anos se passariam até o surgimento de um antropoide, cujo DNA pouco se distinguia do chimpanzé. 
Entre dois e três milhões de anos se passariam com o projeto de homem andando de quatro sobre as árvores. 
A indagação (já formulada) continua pertinente.
Há 4 MILHÕES de anos, forçado por uma causa qualquer (como a mudança de habitat), o hominídeo começou a se locomover sobre os dois pés. 
A partir dessa primeira "humanização" fisiológica, passar-se-iam dois bilhões de anos para que o homo habilis desenvolvesse os primeiros instrumento de pedra. Até então, seus ancestrais se utilizavam cada vez mais das mãos (desocupadas com o bipedalismo). 
Um milhão a um milhão e meio de anos se passariam para que o fogo fosse descoberto e dominado pelos ancestrais do homo sapiens. Menos de 500 mil anos para a linha do tempo chegar ao fim, a esta sua concepção textual.
Homo de neandertal (antes do sapiens), sapiens e sapiens sapiens, nossos ancestrais evoluíram sem se atribuírem um deus e uma alma sobrenaturais, transcendentes. 
Até 12 mil anos atrás, um intelecto que observasse de fora o desenvolvimento humano, não veria nada além da imanência. Não máximo, ele se encantaria com a linguagem oral e pictográfica. Todavia, há 12 mil anos, o homem passa a domesticar plantas e animais. A excesso de alimento (proteínas) deve tê-lo dotado de novas associações neurogênicas, que o levou a sonhar com a transcendência, com um deus, com a própria imortalidade. No Crescente Fértil, notadamente, um povo das montanhas, de pastores de ovelhas, prestou-se para fazer a inversão fundamental, transformando-se em criação especial do deus criado por ele. 
A partir da consolidação escrita do mito judaico (pelo rei Josias) há dois mil e oitocentos anos, a pergunta acima tem uma resposta. Eis um deus, ao mesmo tempo criador do Universo e pai do homem. Eis o homem, imagem e semelhança de um deus, destinado a viver, morrer e ressuscitar para a eternidade. Apenas os escolhidos, diga-se de passagem.
Obviamente, os criacionistas me dirão que os dias da criação do mundo, narrados no Gênesis, constitui uma metáfora, porque o Criador é eterno, encontra-se fora do tempo (como teologizou Santo Agostinho). 
Fundamentado na minha exposição, outras observações são necessárias:
A metáfora genesíaca incorre num equívoco sequencial, ao narrar que os animais domésticos foram criados antes do homem (que os domesticou sabidamente). A diferença entre o homem e o chimpanzé, repito, é tão somente um par de cromossomos. Mesmo que o corpo físico não interessa (esvaziando a semelhança entre homem e chimpanzé), o Cristianismo acabou vencendo todas a filosofias e religiões da Antiguidade com a promessa de que ele (o corpo) será ressuscitado. Apenas os escolhidos, diga-se de passagem. Por último, como o Big Bang, antes não admitido pelos criacionistas, já começa a ser ajustado por eles ao "Fiat Lux", à medida que a ciência avança na explicação do fenômeno fundador. 

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