terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

REFLEXÕES ANTE O MAR


A grande lição do budismo é de que devemos compreender nossos desejos, (se possível) dominá-los e reduzi-los consideravelmente. 
Grande parcela do nosso sofrimento advém da existência dos desejos, principalmente daqueles que não se realizam. 
Dos milhões de exemplos, cito o desejo de progresso – material, espiritual, intelectual, artístico... 
Em nossa cultura, poucos homens não desejam adquirir bens móveis e imóveis, raros não desejam enriquecer. Entre as exceções, alguns desejam, por exemplo, liderar uma igreja, outros ganhar notoriedade com as ideias ou com a arte. 
Há quem consegue isso com muita determinação e trabalho. A maioria das pessoas, todavia, tem seus sonhos continuamente adiados. 
Essa maioria compõe a massa dos comuns, que são dominados pelos desejos, pelas pulsões. 
O desejo tem a sua metafísica: a esperança. 
Também neste ponto o budismo ensina que é a des-esperança uma condição para a felicidade. 
Nisto estão de acordo Krishnamurti, Comte-Sponville, Luc Ferry e (modestamente) este colunista: esperar por algo significa que não se tem algo, que se é feliz apenas com ele. Por extensão, esperar é ser infeliz. 
(Citei duas vezes o budismo, mas não o faço mais. Essa religião/filosofia dispensa deus, não a reencarnação, que é necessária para o homem, libertando-se das ilusões do Eu, alcançar a iluminação.) 
Numa lógica de difícil entendimento, só quem é feliz hoje, neste momento, pode continuar a ser feliz amanhã. 
Não há um felicitômetro para medir o estado de contentamento das pessoas, mas ele não mediria diferente a felicidade de um simples pescador que traga em seu barquinho um peixe enorme e a de um rico empresário que adquira um iate de luxo.  
A propósito, faço tais reflexões diante do mar, desde esta belíssima praia de Torres.

Nenhum comentário: