terça-feira, 28 de janeiro de 2014

ADAPTAÇÃO VERSUS AUTONOMIA

A EDUCAÇÃO É SEMPRE GERADORA DE UM PROBLEMA, EM VISTA DE SER SEUS DOIS MAIORES OBJETIVOS CONTRADITÓRIOS ENTRE SI, ANTINÔMICOS: ADAPTAR O INDIVÍDUO A UM CONTEXTO NATURAL, CULTURAL, HISTÓRICO, E DAR-LHE AUTONOMIA, LIBERDADE. 
TODAS AS IDEIAS E PROGRAMAS EDUCACIONAIS, QUANDO POSTOS EM PRÁTICA, SÃO MAIS OU MENOS EFICIENTES NA ADAPTAÇÃO DO INDIVÍDUO À REALIDADE - QUE O TORNA DEPENDENTE DE SEUS SISTEMAS.
RARAMENTE, A ESCOLA E A VIDA SE ALINHAM PARA A EMANCIPAÇÃO DO SUJEITO. ISSO SÓ OCORRE A PARTIR DE UM ESFORÇO INDIVIDUAL, QUE NÃO PRESCINDE DO AUTOCONHECIMENTO. 

(Eis um pensamento que tenho coragem de expressar após uma leitura de Theodor Adorno.)

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

VAI QUE COLA!

O mês de fevereiro, que se inicia no próximo sábado, será de grande expectativa para os aprovados no concurso do magistério do Rio Grande do Sul 2013. Das 10 mil vagas a serem providas por esse concurso (como consta no edital), apenas 85 foram preenchidas com os novos professores nomeados em novembro. 
De acordo com o cronograma da Secretaria Estadual de Educação, uma segunda nomeação de mil e quatrocentos professores ocorrerá em fevereiro. Outros mil e quatrocentos (?) serão nomeados em abril. Dois mil e novecentos até junho, e os demais serão chamados no segundo semestre de 2014. 
Uma maravilha para a educação se esse cronograma de nomeação vier a ser realmente cumprido. 
O propósito desse modalizador "realmente" é de ancorar o contraponto, ou seja, algo que não ultrapassa o desejo de realização, a simples expectativa. 
Uma maravilha para a educação (proporcionada pelo Estado?)! Eis um ideal irrealizável, uma história da carochinha. 
O próprio Secretário de Educação reconhece que "não é possível fazer a nomeação com essa velocidade", em vista de não haver "condições administrativas de nomear 10 mil professores". 
O que faz seu governo? 
Encaminha projeto de lei à Assembleia Legislativa, propondo a prorrogação de contratos emergenciais de professores de toda a rede pública. Hoje os contratos emergenciais perfazem 27,2% do corpo docente gaúcho. 
Eis a história real, coerente com as dificuldades "administrativas" a que se refere o Secretário, mas contraditória em relação às novas nomeações. 
Em ano eleitoral, o arrivismo petista pensa quebrar a tradição de não reelegibilidade ao Piratini, mantendo em sua linha de visada a classe professoral (politizada e influente). 
A promessa (além do que se pode cumprir) continua a melhor estratégia. Vai que cola!

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

MEU ANIVERSÁRIO

Pela quinquagésima quinta vez, o dia em que vim ao mundo se repete neste 24 de janeiro.  Não me eximo do princípio umbiguista, que sustenta, com uma inconfessável convicção, ser a data do meu nascimento a mais importante de todo o calendário. 
Para remontar ao relativismo ensinado por Protágoras, de que o homem é a medida de todas as coisas, acrescento que o mundo só existe porque existo. Em primeiro plano, o mundo é uma representação para a minha consciência (que passa, a partir de então, a percebê-lo de fato fora dela). 
O momento em que ocorreu minha concepção, caso fosse possível precisar, seria até mais importante que o dia do meu nascimento. Na impossibilidade de se datar aquele feliz acaso, sobre-exalto o segundo acontecimento, que sintetiza o sucesso de todo o período anterior. Sim, não há exagero narcísico nessa autoapreciação: minha concepção e meu nascimento são fatos pontuais que comprovam o pleno êxito da vida de um novo indivíduo. 
Felizmente, esse indivíduo sou eu, reconhecido como tal graças ao desenvolvimento da autoconsciência. 
A passagem de um ano a outro, como é comemorada com estardalhaço por toda gente, conta minimamente para a minha idade pessoal. O 24 de janeiro bem que poderia significar o meu primeiro dia do ano, a partir do qual se referenciariam os demais acontecimentos posteriores. 
De certa forma (mais sensível que inteligível, mais afetiva que racional), isso me ocorre desde menino, desde quando não havia coragem para confessar tal coisa. Lembro-me de um arroz-doce que a mãe fez especialmente para o meu aniversário, e essa lembrança transformou em doçura tudo o que não era doce naquele tempo
Essas justificativas filosóficas ou sentimentais, caro leitor, não te convenceram de que devo fazer uma festa neste dia?

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

TRAGÉDIA EVITÁVEL

O trânsito é outro tema recorrente neste blog, não obstante sua dessemelhança com a literatura. Os longos dez anos que trabalhei com a formação de motoristas no 19º Grupo de Artilharia de Campanha, tanto na prática quanto na teoria, fizeram-me um profundo conhecedor do assunto. Modéstia à parte. 
O principal problema do trânsito, qual seja, a ocorrência de acidentes fatais, nunca foi analisado com profundidade. O estudo não deve prescindir, por derradeiro, de uma compreensão psíquica do homem. O que se sabe, por exemplo, sobre as pulsões, que condicionam o comportamento humano?
Ontem quase escrevi sobre as queixas que o senso comum faz das estradas, as quais seriam responsáveis pelas mortes nesse ir e vir que se caracteriza cada vez mais pela entropia (ou desorganização).
Para minha surpresa, abro o Zero Hora e leio em seu editorial:
"As estradas não matam. O que mata, no trânsito, é a alta velocidade, a imprudência, a ingestão de bebida pelos condutores e o desrespeito às normas e à sinalização".
Antes de culpar um fator externo, indireto, devemos perguntar por que o condutor de automóvel gosta de correr, deslocar-se em alta velocidade. Por  que ele não obedece às normas de conduta? Como anda a valoração da vida?

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

O HOMEM SEM QUALIDADE


A indicação de leitura talvez seja a melhor característica deste blog, faço-o desde sua criação (meados de 2007). Em determinada postagem, cheguei a publicar uma relação de livros que comporiam uma biblioteca ideal. 
O romance filosófico O homem sem qualidade, de Robert Musil, constitui uma das grandes obras literárias do século XX, como Ulisses, de James Joyce, e Em busca do tempo perdido, de Marcel Proust. 
Meu interesse pelo livro se justifica pela aproximação que ele tem com a Filosofia. Minha dúvida é se abandono a leitura de Dialética Negativa, de Theodor Adorno, para mergulhar nessa nova aventura de 1276 páginas. A ilustração da capa acima não permite imaginar a espessura do volume, que é de 6 centímetros. 
Qualquer opção que faça, coloco-me no limite da minha capacidade física (preciso trocar de óculos) e intelectual (esses filósofos alemães são dificílimos).  

GERAÇÃO DE NOTÍVAGOS

A partir de um giro completo em torno do próprio eixo, a Terra apresenta dois momentos distintos, considerando-se sua relação com o Sol: dia e noite. 
À exceção das regiões polares, todo lugar da superfície terrestre passa pela alternância de receber a luz e mergulhar na escuridão. 
Ao emergir da natureza inconsciente, o homem descobriu e criou formas de controlar o fogo, para, entre outras práticas, tornar menos difícil as horas noturnas. 
Por milhões de anos, sem ou com esse elemento natural, a noite foi destinada ao sono, à recuperação do corpo e da mente. 
Com a crescente sedentarização humana (desde o início do Neolítico), as cidades passaram a transformar o modo de vida de seus habitantes, ampliando-lhes a vigília. Isso se evidenciaria com a recentíssima descoberta da eletricidade, a qual propiciou maior iluminação à noite. (Atualmente, para bloquear a luminosidade artificial, as cortinas de tecido vêm reforçadas com o chamado blecaute, isto é, um plástico totalmente opaco.) 
Sob a luz, o homem continua aceso, motivado não apenas pelas atividades de lazer. Diretamente proporcional a isso, elevou-se o nível de ruído, o que forçou a criação da “lei do silêncio” (via de regra, não obedecida). 
Plugada a uma revolução tecnológica, a vida noturna engendrou as primeiras gerações de notívagos no seio da sociedade moderna. Seus indivíduos, parafraseando Vinícius de Moraes, de manhã escurecem, de dia tardam, de tarde anoitecem e de noite ardem. 
Eles tomam o trânsito depois da meia-noite, quando ocorre um acréscimo de entropia na já debilitada ordem dos centros urbanos. 
As grandes manifestações realizadas no Brasil no ano que passou, entre anárquicas e violentas, foram lideradas pelos notívagos, denominados “black bloc”. 
Falta-lhes a doçura das manhãs, a claridade solar.   

domingo, 12 de janeiro de 2014

NOVAS LEITURAS

Nos onze primeiros dias do novo ano, li cinco ensaios de Filosofia e Literatura - uma relação transacional, algumas páginas de A Interpretação dos Sonhos, de Freud, Veja, Superinteressante e jornais. 
Hoje, aproveitando o tempo fresco, debrucei-me sobre o livro Dialética Negativa, de Theodor Adorno. Leitura dificílima, quase no limite da minha compreensão. Óbvio para quem não leu todo Kant e Hegel. 
Para evoluir na Filosofia, devo conhecer melhor esses dois pensadores, o que não será uma tarefa fácil.
Por que não começar pela crítica, pela negação?
Com exceção para tomar o café  e preparar o assado no forno elétrico, dediquei toda a manhã à leitura de Dialética Negativa. Apenas para a Introdução, Adorno produziu 56 páginas, onde é exposto  conceito de experiência filosófica.

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

ANO ÀS BRINCAS

A agenda de 2014 está lotada de grandes eventos, para a felicidade daqueles que necessitam de uma “cortina de fumaça” para encobrir desmandos e falcatruas recorrentes na política deste país. 
O primeiro evento a se aproximar é o Carnaval – o grande circo de nossa cultura. 
Em seguida, vem a Páscoa – coerente com a ordem de prioridade do hedonista: a carne em primeiro lugar, o espírito depois. 
Espírito até por ali, onde não alcança o poder açambarcador do comércio. Todo apelo comercial nessa época, diga-se de passagem, contradiz a necessidade de trabalho até maio para o pagamento de imposto. 
Disso não lembrará o povo, bombardeado pela mídia, fã de big brother, já ocupado com o maior evento da metade do ano: a Copa do Mundo de Futebol. 
A exceção fica por conta de alguns poucos críticos, que veem desde agora o acúmulo de desacertos fazer uma Copa do Mundo no Brasil (obedecendo aos padrões exigidos pela FIFA). 
Passado o evento desportivo, cujo resultado poderá atender às expectativas dos mais apaixonados, ou não, o ano às devas começaria em agosto. 
Todavia, a paixão pelo futebol será imediatamente substituída por outra, quem sabe ainda mais envolvente – a política. A eleição para presidente transformar-se-á no grande evento do segundo semestre, na campanha eleitoreira antes de outubro, na constituição do novo governo depois de outubro. 
O ano passará sem que se perceba a queda contínua do PIB (não mais atribuída ao governo federal, como se insinuou no início em relação ao crescimento da economia), não se perceba a crise na Petrobras (sob a pressão de começar a exploração do pré-sal), não se perceba o aumento da dívida pública interna, não se perceba a mentira e a corrupção como imorais, não se perceba outras tantas coisas.

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

VATINHO


Pintei retrato de meu pai, marcando seu octogésimo aniversário. Óleo sobre tela, 50 x 70.